Natural do Rio de Janeiro, mas em Caratinga desde a infância, ele fala sobre sua carreira e o que lhe fez abandonar a música
CARATINGA – A música faz parte da vida de todo mundo. Para muitos, ela fala mais alto e vem junto com o sonho de se tornar artista. Cantar profissionalmente, ter fãs e fazer shows por todo o país ou até mesmo no exterior, já passou pela cabeça de muita gente. Alguns realizam; outros não. O caminho não é fácil e quem ilustra muito bem isso é Reder Matos. Natural do Rio de Janeiro, mas em Caratinga desde a infância, ele se considera mineiro.
Nas idas e vindas do mundo da música, Reder passou por muitos lugares e voltou para Caratinga. Em entrevista ao DIÁRIO ele falou sobre sua carreira e o que lhe fez abandonar a música.
“Não tenho lembrança de quando me interessei por música, mas tenho fotos com três anos de idade, com guitarra, violão, o que mostra que eu tinha já gosto pela música”, lembra. Reder considera curioso o fato de que em sua família nunca teve ninguém ligado a esta área, mesmo assim ele dava os primeiros passos para a música. “Eu sempre gostei muito de Michael Jackson, quando eu era novinho imitava, foi o primeiro contato que eu tive com palco. Mas, depois eu aprendi a tocar guitarra, violão, outros instrumentos e cantar foi a última coisa que eu descobri que fazia”.
No colégio, com mais dois amigos que eram músicos e tinham o mesmo sonho, Reder decidiu montar uma banda de rock, aproveitando as irreverências do grupo ‘Mamonas Assassinas’. “A gente se inspirava muito em Gun’s Roses, Bon Jovi. Isso foi acontecendo naturalmente e montamos a primeira banda em 1996, Banda Viruz. Começamos a nos apresentar em festas de comunidade, bairros, uma época que o Mamonas tinha estourado. Sempre fui muito brincalhão, colocava aquelas fantasias que eles usavam e até então não tinha banda cover pra fazer isso. Nós não éramos uma banda cover, mas eu fazia essas palhaçadas porque eu era ‘molecão’ mesmo e caiu nas graças do povo. Deu certo. Comecei a fazer show nas cidades vizinhas como Inhapim, Ubaporanga, Bom Jesus do Galho”.
Reder justifica o rock como uma escolha motivada pela adolescência. Com o tempo, ele começou a se interessar por outros estilos. “Fazer barzinho, que é uma escola também para qualquer músico. Era uma banda de baile, a gente tocava de tudo, tive que aprender a interpretar outros ritmos, sertanejo, pagode, reggae, o povo gostava, tinha que fazer. Me ajudou muito. Acabei passeando por cada universo musical e me dei bem em todos, graças a Deus”.
Apesar das responsabilidades e compromissos de uma banda, para eles aquilo era como uma brincadeira. O lado profissional ainda não havia falado mais alto. “Era um bando de garotos, a gente tinha 17 para 18 anos, estávamos nos divertindo com aquilo, mas a gente começou a ganhar dinheiro. Porém, era um hobbie. Não tinha outro trabalho, a gente só estudava. Mesmo já começando a fazer shows e cobrar, festas particulares, ainda era como uma brincadeira”.
Foi começando a compor algumas músicas que Reder decidiu levar a sério a carreira musical. Assim, ele decidiu se arriscar no concurso “Novos Talentos do Faustão” e conseguiu ficar entre os finalistas. “Escrevi uma música, gravei no estúdio precário, porque aqui não tinha profissional, mas mandei para lá e fiquei entre os 30 finalistas. Foi legal. Dei a ideia de gravarmos um disco demo de quatro músicas, para ver se a gente começava a deslanchar, apesar de ser apenas uma banda conhecida como de baile”.
Não demorou muito e a banda começou a se destacar ainda mais e Reder começou a ser mais notado de uma maneira individual. Era o anúncio de novos rumos em sua carreira. “Houve até um conflito entre os meus companheiros na época, porque eu comecei a ser muito chamado sozinho para fazer os eventos, voz e violão. E comecei a me interessar muito por esse lado e não ter mais espaço para a banda. Quando a coisa mudou mesmo para mim, sai da banda, fiquei um ano em uma banda de forró de lá. Queria conhecer novos horizontes, ampliar mais, mas não me dei muito bem, não me adaptei. Voltei e continuei aqui com voz e violão”.
DE ‘CHAPÉU DE PALHA’ A ‘TRIO CHAPAHALLS’
Mais tarde, Reder montou a banda de forró “Chapéu de Palha”, um ritmo ‘pé de serra’ e que lhe rendeu o convite para abertura da primeira edição do “Maió e Mió São João de Minas”. “Inclusive gravamos a música que era o tema dessa festa, isso deu uma alavancada forte. Gravamos um CD independente com regravações e algumas músicas inéditas”.
Mas, para Reder, uma das maiores surpresas de sua carreira foi quando recebeu uma ligação inesperada. “Lembro que tinha cantado num sábado, no Todeschini, que é de uma família que eu gosto muito, sempre me apoiava. No domingo de manhã cheguei em casa cansado, dormi na sala mesmo e meu telefone tocou, perguntando: “É o Reder que tá falando?”. Questionaram como estava o meu trabalho, eu falei que continuava na música, tinha uma banda, trabalhava também com eventos pequenos. Ai me falaram: “Aqui é do Trio Chapahalls, a gente te achou na rede social (na época era o Orkut) e tava querendo ver a disponibilidade de você vir para o trio para ser o cantor”. Eu ainda achei que era trote”.
Reder aceitou o convite e agarrou a oportunidade de crescer profissionalmente. Participou de três testes: visual, voz e presença de palco. A banda era conhecida em todo país e no exterior, com nove turnês nos Estados Unidos. “Fui e fiquei no Rio três anos e meio. Viajei demais, Mato Grosso, Rondônia, Acre, Pará, de canto a canto. Depois saí e segui carreira solo. Gravei sete CDs do Trio Chapahalls e vi a oportunidade de fazer o que eu sempre quis: minhas composições, minha identidade musical. Fui para o sertanejo universitário e segui como Reder Matos”.
CARREIRA SOLO
Ainda no Trio, Reder teve a oportunidade de conhecer muitos cantores do Forró. Mas foi na carreira solo que as portas se abriram, onde teve a oportunidade de dividir o palco com Michel Teló, Victor e Léo, Munhoz e Mariano, João Bosco e Vinícius e Zé Ricardo e Tiago. “Coisa que eu sempre quis e sonhei. Estava chegando a um nível que muitos artistas desejavam estar, digo até em relação a Caratinga. Caratinga é uma cidade que eu gosto demais, não tenho vontade nenhuma de não morar aqui, mesmo se eu ficasse famoso na área musical. Se tivesse a oportunidade de continuar morando aqui eu ficava, mas o espaço musical, tem um nível que depois que você alcança não tem mais para onde ir. Por isso eu tive que ir embora e seguir carreira fora”.
CARREIRA INTERROMPIDA
O capítulo mais triste da história de Reder Matos se deu no auge de seu sucesso no Trio, quando a sua namorada, uma dançarina da mesma banda foi assassinada, no dia 21 de setembro de 2012. Era o fim da carreira de Reder. “Ela foi assassinada por inveja. Inclusive isso tomou até proporção nacional. Não aguentei o baque, da noite para o dia perder alguém assim, ainda mais da forma que foi; algo premeditado, maldade. Só que eu ainda tinha uma agenda de sete meses de show que eu cumpri e abandonei a carreira. Vim para Caratinga, vai fazer dois anos”.
Atualmente, Reder não está mais na música profissionalmente. Mas, ele afirma que um retorno não está descartado. “Muita gente procura, pergunta em rede social, aqui na cidade, as propostas continuam até hoje e isso está no meu sangue. Nunca me imaginei fazendo outra coisa, mas digamos que surpresas estão por vir. As pessoas lembram-se da época do Trio Chapahalls, que fez muito sucesso e o Reder Matos, por causa do arrocha, foi quando estourou. Me sinto realizado até onde eu fui. Não tenho nenhum arrependimento daquela época. Toda vida de artista sempre é altos e baixos, muita rivalidade, muita coisa, não é um mar de rosas como muita gente pensa”.