CARATINGA- “E aí sr. prefeito? Para onde vamos com as nossas crianças?”. Esta foi apenas uma das indagações de pessoas que participaram de uma manifestação na noite de ontem, no centro da cidade. O movimento ‘Caratinga pede socorro’ circula pelas redes sociais desde a última semana, quando foi anunciado o fim de dois convênios da Prefeitura de Caratinga com o Centro de Assistência à Saúde (CASU).
Para os caratinguenses sobram dúvidas. Com o fim do convênio, como ficam os atendimentos de urgência e emergência? E atendimentos ambulatoriais, realização de exames, pequenas cirurgias e serviços de reabilitação, que eram feitos pelo CASU?
Munidos com cartazes (um deles dizia ‘Saúde não é gasto, é investimento’), os manifestantes pediam explicações e exigiam uma postura da Prefeitura de Caratinga. Eles se concentraram na praça Getúlio Vargas e caminharam até o prédio do Executivo; devido à aglomeração de pessoas, a Polícia Militar precisou controlar o trânsito.
Com apitos, os manifestantes tentaram chamar a atenção do prefeito Welington Moreira e esperavam que ele aparecesse pelo menos pela janela, o que não aconteceu. Como resposta eles tiveram o silêncio e retrucaram com vaias.
O prefeito não apareceu para dar uma resposta aos manifestantes, mas o assessor de comunicação da Prefeitura e o fotógrafo oficial do Executivo foram vistos discretamente na manifestação, realizando filmagens e fotografias do movimento.
REABILITAÇÃO E TRABALHO SOCIAL
O CASU oferecia o serviço gratuito de reabilitação para pacientes com necessidades especiais, deficiências físicas ou mentais e demais doenças que comprometem a qualidade de vida e o bem-estar. Considerado referência em Minas Gerais, mais de 50 profissionais, entre fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, fonoaudiólogos, psicólogos, nutricionistas, médicos e enfermeiros formam a equipe do Centro.
A presidente da Associação Mães de Mãos Dadas, Maria de Lourdes Oliveira, ressalta que com o fim do convênio, inúmeras famílias serão prejudicadas, pois não encontrarão os serviços pelo Sistema Único de Saúde (SUS). “O objetivo da Associação é que tenha o convênio com o Centro de Reabilitação, porque nós precisamos que essas mães que têm filhos com deficiências especiais sejam bem atendidas, tenham o direito de ter a saúde que eles necessitam. Lá eles faziam ecoterapia, fisioterapia, hortoterapia, tratamentos com animais, são esses tratamentos que a gente está lutando para conseguir de novo. É muito caro e em Caratinga não tem, se o prefeito tivesse um lugar para colocar essas crianças, a gente aceitaria”.
Além deste atendimento, o CASU também atuava desde julho do ano passado com o Instituto CASU Social. O primeiro núcleo foi inaugurado na Cantina Rainha da Paz, ofertando assistências às famílias com atendimento médico e psicológico, serviço social, capacitação de jovens, dentre outros. A partir de 1º de setembro, a unidade terá atividades reduzidas, como lamenta Suelen Moreira, aluna do curso de Medicina. “Essa manifestação também é muito pela questão social, o CASU Social recebe muitas crianças que poderiam estar na rua. Elas têm reforço escolar, recebem café da manhã, almoço, fazem atividade física. São regiões bastante complicadas, as crianças estarão lá, para as mães que precisam trabalhar e não têm um lugar seguro para deixar as crianças. Não é só pela questão do atendimento clínico em geral, mas têm muitas outras questões envolvidas”.
CURSO DE MEDICINA
Outro ponto levantado pelos manifestantes foi a importância do CASU para a medicina diagnóstica, ensino e pesquisa. Os diversos alunos do Centro Universitário de Caratinga (Unec) tem no local um importante apoio para realização de estágios e aprendizado.
O espaço é um projeto de cunho educativo e social, onde os professores e os alunos em estágio sob supervisão direta, atendem as diversas áreas/ e especializações da saúde, proporcionando o desenvolvimento de suas habilidades e competências necessárias em sua formação profissional e pessoal.
Chaiene Emanuele, estudante de Medicina, de Coronel Fabriciano, é uma das alunas que fez questão de destacar os prejuízos que os universitários têm enfrentado. “As nossas práticas para aperfeiçoamento de atendimento aos pacientes ficam totalmente prejudicadas. O nosso internato já está em colapso, a gente já tem contato com outras turmas, mas à frente das nossas e elas já estão passando por grandes dificuldades com relação ao fim dos convênios e às quebras de contrato. Isso é um medo porque a nossa vez já está chegando e eu não sou daqui mas escolhi Caratinga como a cidade para eu estudar. E é muito triste a saúde chegar a esse ponto, sendo que tudo estava funcionando e a população estava sendo bem atendida e as coisas estavam caminhando. Cortar isso por qual motivo? ”.
A estudante ainda ressaltou a preocupação do andamento dos estágios, que são fundamentais à formação. “Fazemos o estágio desde o primeiro período, já estamos no 6° período e com o passar do tempo nossos estágios ficam cada vez maiores, mais corriqueiros. Estamos cada vez mais prejudicados por falta de estágio, o que atrapalha bastante o nosso conhecimento”.
Manifestantes lotam reunião da Câmara
A reunião da Câmara de Caratinga ontem foi tumultuada. A secretária de Educação Lara Maia não compareceu como estava programado na pauta, para tratar de sua pasta.
Os manifestantes lotaram a reunião que precisou ser suspensa logo no início, quando o vereador Helinho (PSC) disse que o CASU não informou a descrição dos gastos em um pedido feito por ele. Uma funcionária do CASU que atua no setor de faturamento, pediu para responder ao questionamento e ao ter o pedido negado, o vereador foi vaiado.
O secretário de Saúde Wagner Barbalho e o chefe de gabinete Hernandes Huebra, assistiram a parte da reunião, assentados no espaço dedicado à imprensa. No entanto, em seguida Barbalho deixou a Câmara e alegou à imprensa que preferia se pronunciar depois, pois “existem muitas informações distorcidas que precisam ser averiguadas”.
Em entrevista ao DIÁRIO, Ana Carolina Mageste, coordenadora dos Institutos CASU Social I e II, disse que o manifesto foi organizado pela comunidade, principalmente pessoas assistidas pelos projetos e parte dos funcionários. “É uma situação até um pouco desesperadora, porque os pacientes vêm até nós recorrendo, questionando para onde vão e eu falo que infelizmente não sei, que eles devem procurar a Secretaria de Saúde para saber”.
Sobre os questionamentos do vereador, Ana Carolina ressalta que havia um cuidado dos funcionários, em relação à devida prestação de contas. “Todos os meses, como coordenadora, tinha que montar todo o relatório para enviar para a Prefeitura. A gente sempre tem esse cuidado das pessoas assinarem esses atendimentos para ser verificado e não ter problema”.