CARATINGA – Hoje, as 19h30, o professor José Geraldo Batista lança mais um livro sobre a obra de Rubem Braga. A solenidade de lançamento de “Rubem Braga com a FEB na Itália: Crônicas-Reportagens, Literatura da Notícia” (Editora Prismas) será no Núcleo de Documentações e Estudos Históricos da UNEC, situado na Avenida Moacyr de Mattos, 271. Este é o segundo livro do professor José Geraldo Batista sobre o cronista e jornalista brasileiro. No final de outubro foi lançado “Casa dos Braga, de Rubem Braga: Retratos de uma Morte Feliz”.
RUBEM BRAGA
Rubem Braga nasceu no dia 12 de janeiro de 1913, Cachoeiro de Itapemirim/ES. Morreu em 19 de dezembro de 1990, no Rio de Janeiro.
Iniciou-se no jornalismo profissional ainda estudante, aos 15 anos, no Correio do Sul, de Cachoeiro de Itapemirim, fazendo reportagens e assinando crônicas diárias no jornal Diário da Tarde. Formou-se bacharel pela Faculdade de Direito de Belo Horizonte em 1932, mas não exerceu a profissão. Neste mesmo ano, cobriu a Revolução Constitucionalista deflagrada em São Paulo, na qual chegou a ser preso. Transferindo-se para Recife, dirigiu a página de crônicas policiais no Diário de Pernambuco. Nesta cidade, fundou o periódico Folha do Povo. Em 1936 lançou seu primeiro livro de crônicas, O Conde e o Passarinho, e fundou em São Paulo a revista Problemas, além de outras. Durante a Segunda Guerra Mundial, atuou como correspondente de guerra junto à F.E.B. (Força Expedicionária Brasileira).
Rubem Braga fez diversas viagens ao exterior, onde desempenhou função diplomática em Rabat, a capital do Marrocos, atuando também como correspondente de jornais brasileiros. Após seu regresso, exerceu o jornalismo em várias cidades do país, fixando domicílio no Rio de Janeiro, onde escreveu crônicas e críticas literárias para o Jornal Hoje, da Rede Globo de Televisão. Sua vida como jornalista registra a colaboração em inúmeros periódicos, além da participação em várias antologias, entre elas a Antologia dos Poetas Contemporâneos.
Dotado de rara sensibilidade, “O Verão e as Mulheres” é uma de suas crônicas mais conhecidas. Nela Rubem Braga escreveu: “Há um grande vento frio cavalgando as ondas, mas o céu está limpo e o sol muito claro. Duas aves dançam sobre as espumas assanhadas. As cigarras não cantam mais. Talvez tenha acabado o verão”.
UMA CONVERSA COM O PROFESSOR
O professor José Geraldo Batista é Doutor em Estudos Literários, Mestre em Teoria da Literatura e Especialista em Estudos Literários pela Universidade Federal de Juiz de Fora – UFJF. Em outubro deste ano, participou da comissão para análise de artigo científico com o fim de obtenção de incentivo à produção científica, na Universidade do Estado da Bahia – UNEB. Ele falou ao DIÁRIO sobre seu mais recente livro.
Professor, recentemente o senhor lançou “Casa dos Braga, de Rubem Braga: Retratos de uma Morte Feliz”. Às 19h30 de hoje, no NUDOC, será lançado “Rubem Braga – Com a FEB na Itália: Crônicas-Reportagens, Literatura da Notícia”. Como surgiu o seu interesse pela obra de Rubem Braga?
Meu encontro com a recolha de crônicas Com a FEB na Itália (1945), de Rubem Braga (1913-1990), deu-se, de maneira fortuita, por ocasião das minhas atividades de pesquisa do mestrado. Naquele momento, muitas ideias ocorreram-me com perspectivas de desenvolvimento no futuro. Em uma visita à Casa da família Braga em Cachoeiro de Itapemirim, cidade natal do cronista, deparei-me com um exemplar da primeira edição do livro. Estava um pouco menos desgastado em relação ao exemplar, também da primeira edição, que nos últimos dez anos tornou-se presença constante em minhas mãos. Este está muito comprometido. A capa está gasta, faltando pedaços e emendada com fita adesiva; as folhas estão muito escuras, soltas, quebradiças e vão se esfarelando à medida que o manuseamos, e, como não usei máscara protetora, o pó que solta impede uma leitura confortável. Confesso ter recorrido a outras edições pelo menos para abrir as páginas aos extremos sem destruir a prova palpável das restrições de outrora.
Estes dois livros demandaram quanto tempo de pesquisa?
Na verdade, os dois livros são apenas parcela daquilo que foi pesquisado e produzido durante a pesquisa. Pode-se dizer que, a respeito deste assunto, eu pesquiso há aproximadamente treze anos. Então o volume de pesquisa e textos é bem maior. Quem sabe podem surgir publicações futuras?!!! Por enquanto, muita coisa está descansando. Às vezes, precisamos de certo distanciamento do texto ou da pesquisa, para posteriormente retornarmos mais amadurecidos a eles.
O que mais lhe fascina na obra de Rubem Braga?
Rubem Braga, como ele mesmo dizia, era um homem de jornal, não se considerava um literato. Entretanto, escrevia de uma maneira tão bela que grande parte de suas crônicas foi eternizada em livros. Pode-se dizer que ele, através da crônica, fez uma poesia do cotidiano, pois o seu olhar lírico tirava beleza da aridez da vida; como fez nas crônicas de guerra. Assim como o nosso poeta Manoel de Barros, que infelizmente acaba de falecer, Braga valorizava as coisas simples da vida e sempre se posicionava ao lado do mais fraco e oprimido.
Como explicar o apreço que Rubem Braga tinha pela morte?
Bem, não que ele apreciasse a morte. Acredito que nós humanos não gostamos de morrer. E somos trágicos por isso. Os gregos já diziam isto. Mas o cronista Rubem Braga estava muito atento à passagem do tempo, à falta de uma força que capture o instante. Então, como num gesto fotográfico, através da escrita e das lembranças de infância, ele tentava “petrificar”, feito o Vesúvio da Pompeia do Império Romano, os momentos vividos. E, ao recordar os momentos idos, Braga faz isso de uma maneira afetiva e quiçá nostálgica: é o que chamo de “Retratos de uma morte feliz”.
Na sua avaliação, qual o legado de Rubem Braga para o jornalismo e para a literatura brasileira?
Muitos se referem ao Rubem Braga como nosso cronista maior. Ele não foi o inventor da crônica. Nós também tivemos outros grandes cronistas como José de Alencar, Machado de Assis, João do Rio, Carlos Drummond de Andrade, etc. E ainda temos Xico Sá, Affonso Romano de Sant’Anna, Zuenir Ventura e muitos outros. Contudo o “Velho Braga”, o “Urso de Ipanema”, realmente é o “sabiá” da crônica. Ele deu a ela uma nova feição, em se tratando da crônica brasileira moderna. Com seu olhar lírico nada escapou da sua pena jornalística e literária. A seu respeito, disse, certa feita, Joel Silveira: “Rubem fez da amizade um sacerdócio, cultivava-a com o mesmo desvelo, o mesmo carinho e os mesmos cuidados com que tratava das plantas e dos frutos do seu jardim encarapitado num dos andares mais altos de Ipanema”.