CARATINGA – Na terça-feira (28), os corpos dos irmãos João Batista Martins, 55 anos, e Luzia Martins Dias, 55, foram encontrados em um imóvel localizado no córrego do Macaco, distrito de Dom Modesto, zona rural de Caratinga. Eles trabalhavam como caseiros nessa propriedade rural. Uma foice, que estava manchada de sangue, foi encontrada no local, dando a entender que tal ferramenta foi usada para matá-los. A Polícia Militar fez intenso rastreamento e chegou até os suspeitos Maurício Xavier Dias, 29 anos, e Adriano José de Souza, 41, que foram presos e conduzidos para Delegacia de Polícia Civil, em Caratinga.
COMUNICAÇÃO DO CRIME
No início da noite desta terça-feira, o Centro de Operações da Polícia Militar (Copom) recebeu ligações que davam conta de um homicídio consumado no Córrego do Macaco. A informação apontava que a vítima seria uma mulher de aproximadamente 50 anos. Uma guarnição da PM foi até a propriedade rural e encontrou o corpo da mulher, porém, do lado externo do imóvel, percebeu que uma das janelas de madeira estava quebrada, sendo possível observar que naquele cômodo havia o cadáver de um homem.
TRABALHO DA PERÍCIA
Foi feito o isolamento do local e a Perícia Técnica da Polícia Civil foi acionada. Ao entrar no imóvel, o perito viu o quarto todo revirado, detectou que João, que usava apenas cueca, se encontrava deitado ao chão, junto a parede e ao lado dos pés da cama, justamente embaixo da janela que foi quebrada.
O perito constatou que o cadáver de João apresentava corte profundo na região anterior do pescoço, corte na lateral esquerda do pescoço, corte na nuca e corte na perna esquerda. O perito analisou que todos os cortes foram causados, provavelmente, por uma foice que se encontrava suja de sangue. Esta ferramenta foi recolhida pelo perito.
Na sala da casa havia uma grande poça de sangue na frente e sobre o encosto do sofá. Também foram observados vários riscos, aparentemente causados por golpes de foice, e sinais indicando que algo foi arrastado sobre a poça em direção ao quarto onde o corpo de João foi encontrado.
Em outro quarto foi encontrado o corpo de Luzia, que tinha um colchão sobre ele. A mulher teve as mãos amarradas para frente com fita adesiva. O quarto se encontrava todo revirado e várias peças de vestuário, que estavam em um armário preso a parede, se encontravam sujas de sangue, dando a entender que
os autores estariam procurando algo. A vítima trajava camisola e apresentava dois ferimentos do lado esquerdo do pescoço, quatro ferimentos do lado direito do pescoço, um ferimento na lateral externa da perna direita, um ferimento no joelho direito e um corte na coxa.
Em ambos os quartos foram localizados os documentos pessoais das vítimas, bem como seus cartões de aposentadoria e senhas. Uma bolsa com 250 reais estava ao lado do corpo de Luzia.
Após os trabalhos da perícia, os corpos foram liberados para o serviço funerários.
LEVANTAMENTOS
Em conversa com dois vendedores, eles disseram que “por volta das 15h30 estiveram na porteira da casa com objetivo de receber uma cesta básica que costumeiramente eles vendem para as vítimas, sendo que perceberam que a casa se encontrava aberta, mas a porteira trancada do lado interno”.
Após gritarem e não serem atendidos, voltaram ao distrito de Dom Modesto, fizeram outras cobranças e por volta das 17 horas, retornaram à casa e novamente gritaram, mas não foram atendidos. Um dos vendedores percebeu algo de errado, pois viu a janela de um quarto aparentemente quebrada, então pediu que o outro vendedor desse cobertura, pois percebeu que João e Luzia poderiam estar em dificuldades. Quando se aproximou e olhou pela janela, viu no chão o corpo de Luzia. Tendo então acionado a PM.
De acordo com levantamentos, as vítimas já residiram na Rua Ernestino Gomes da Costa, em Caratinga, e trabalhavam como ‘catadores de papel’. Ainda durante os levantamentos, os policiais tomaram conhecimento que Luzia foi testemunha, em 2011, em uma ocorrência relativa ao tráfico de drogas, no entanto esses envolvidos se encontram presos.
SUSPEITOS
Tenente Breno Lage disse que assim que a PM recebeu a comunicação sobre o duplo homicídio, foram empenhados todos os esforços no sentido de descobrir e localizar os autores. Durante rastreamento feito na madrugada de ontem, a Polícia Militar recebeu a informação de que teriam quatro indivíduos do distrito de Dom Lara que estariam envolvidos nesse crime. “A partir de então demos continuidade ao rastreamento e na manhã de hoje (ontem) no distrito de Dom Lara, nós localizamos uma dessas pessoas, que em primeiro momento seria um dos suspeitos. Em conversa com essa pessoa, ela nos relatou que na noite de segunda (27) para terça-feira (28), fez uso de bebida alcoólica junto de outros três indivíduos. E em dado momento, devido a excessiva quantidade de álcool ingerida, acabou dormindo. Contudo informou os nomes das pessoas que estavam com ele, inclusive duas sendo parentes das vítimas”.
Então os militares fizeram contato com Maurício e conversaram com ele sobre o acontecido. “Ele nos relatou que nem sabia que seus parentes tinham sido vítimas de homicídio. Contudo, informou com quem estaria naquela noite e também confirmou com quem fez uso de bebida alcoólica. Todavia, informou um local e pessoas diferentes. O que contradiz a pessoa com quem tivemos o primeiro contato”, explicou o oficial.
Maurício foi detido e os policiais fizeram contato com Adriano, que também confirmou que ingeriu bebida alcoólica e assim como Maurício, falou local e pessoas diversas. “Então não batia a história dos três e localizamos a quarta pessoa, que é sobrinha das duas vítimas. Ela nos relatou que de segunda para terça-feira, fizeram uso de bebida alcoólica, que em dado momento, Mauricio comentou que iria até o distrito de Dom Modesto, fazer uma maldade com os parentes e inclusive teria chamado essa pessoa para ir junto, mas ela se negou. Já Adriano, segundo relato da testemunha, teria se oferecido para acompanhar Maurício”.
Conforme levantamentos da PM, há alguns dias, Maurício e outra pessoa teriam prestados serviços para as vítimas, mas a testemunha fez de forma voluntária, porém Maurício teria cobrado pelo trabalho, mas devido a condição financeira das vítimas, elas não teriam como pagar. “Este fato teria despertado a ira de Maurício e por conta disso, eles foram lá e ceifaram a vida dessas pessoas”, observou o tenente.
Maurício foi ouvido pela reportagem e disse que não cometeu o crime. “Como poderia fazer isso com parentes meus? As vítimas eram minhas parentes. E na terça-feira passei o dia todo dentro de casa. Nem sei porque fui conduzido”, alegou Maurício.
Maurício já tem passagem por tentativa de homicídio e acredita que seu nome foi associado ao crime por esse motivo. “Só pode ser por isso que eles me prenderam. E eu já trabalhei com meu tio, perto da casa deles, e a gente mexia com milho. Mas já tem uns 30 dias. Ontem (terça-feira) nem passei perto da casa deles e só fiquei sabendo do crime hoje (ontem) cedo. Sou inocente e não faço a mínima ideia de quem sejam os autores”, disse o acusado.
Adriano também negou participação no crime. “Não tenho convívio nenhum onde aconteceu esses fatos. Eles que têm que arrumar prova que participei disso aí. A pessoa não pode acusar o outro sem provas. Conheço esse Maurício porque é meu vizinho. Eu nunca nem tinha visto as vítimas e nunca fui para esses lados de Dom Modesto. Morei muito tempo em Dom Lara. Eu sou um cara que trabalha todos os dias, tenho minhas obrigações e não tenho tempo de ficar batendo canela pela rua afora e ver o que está acontecendo. Eu estava em casa almoçando quando me disseram que estava sendo preso acusado de crime, mas não sei de que crime. Nunca tive problemas com a justiça. Graças a Deus minha ficha é limpa e nunca nem fui chamado atenção por bagunçada. Então estou aqui (na delegacia) sem saber o porquê”, se defendeu o suspeito. Embora Adriano tenha dito que nunca teve problemas com a justiça, ele já foi acusado de tentativa de homicídio, tendo usado uma foice neste crime.