CARATINGA – Após cinco anos, mais um incêndio devasta a APA (Área de Preservação Ambiental) da Pedra Itaúna, um dos cartões postais de Caratinga. O fogo começou na tarde sábado (10), mas as chamas ainda estavam perceptíveis até a noite de segunda-feira (12).
Os bombeiros militares do 6º Pelotão de Bombeiro Militar de Caratinga, com apoio dos bombeiros do grupamento Anjos de Resgate de Santa Bárbara do Leste, estiveram no local tentando combater o incêndio. Segundo informações colhidas pelo DIÁRIO DE CARATINGA, o fogo teria começado no pé da torre. Há indícios de que o incêndio teria sido criminoso e calcula-se que pelo menos 155 hectares foram completamente destruídos. Espécies e vegetação foram atingidos e os prejuízos foram inúmeros.
Segundo estimativas, um hectare corresponde a aproximadamente um campo de futebol. Sendo assim, em um rápido cálculo estima-se uma devastação do equivalente a 155 campos de futebol.
De acordo com dados do Monitoramento de Queimadas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), do dia 1° ao dia 13 deste mês foram registrados 134 focos de incêndio em Caratinga. No histograma de distribuição dos 5480 focos de queima identificados em 297 municípios de Minas Gerais nos últimos três dias, Caratinga se encontra entre os 10 primeiros municípios e fica na 7ª posição, após o incêndio na Pedra.
Diante dos questionamentos da demora dos bombeiros militares quando do chamado para combater o incêndio na Pedra Itaúna, sargento Luciano Cruz esclarece o baixo efetivo prejudicou, já que os militares atendiam a outras ocorrências no momento. Quando eles retornaram, o fogo já tinha se alastrado. “Em se tratando de incêndio em área montanhosa, que oferece risco de vida, se combate sempre de dia. Ainda assim foram acionados bombeiros que estavam na sua folga para se apresentarem no domingo, 5h, além de bombeiros civis de cidades vizinha e civil de Caratinga para nos apoiar no combate a incêndio a partir da madrugada de domingo”.
De acordo com sargento Luciano, a escala de serviço operacional dos militares é de 24 horas, mas devido à gravidade da situação, alguns militares acionados na folga ultrapassaram as 50 horas de serviço. “Não faltou empenho dos militares, tivemos apoio também da prefeitura com alimentação e em tese, no momento, o fogo está controlado”.
A maior dificuldade no combate ao incêndio foi a topografia do local, por se tratar de uma região montanhosa. Além disso, árvores e pedras estavam deslizando a todo o momento, próximo às regiões mais íngremes, como destaca sargento Luciano. “Oferece alguns abismos, a gente deve ter muito cuidado no deslocamento, até mesmo para cercar e fazer o combate ao fogo. Usamos abafadores, bombas costais, aceiros e de toda a forma tentamos debelar o incêndio, porém algumas horas em que já estava ficando controlado, o vento forte das montanhas atrapalhava deslocando o fogo para áreas de difícil acesso”.
De modo a atuar de maneira ágil, apesar do pouco efetivo, os bombeiros se dividiram em grupos, que foram para determinadas regiões onde o fogo estava mais próximo de se alastrar. Outros subiram a montanha tentando cercar a área através de aceiros. “Orientamos os fazendeiros a fazerem aceiros para protegerem as suas residências, plantações e currais. Também monitorar, quando ver um foco surgindo, ligue para a gente, porque combater o fogo no início evita um transtorno maior”.
Desde a identificação do incêndio, por volta de 17h30, a Polícia Militar Ambiental começou a tomar providências de modo a identificar os possíveis autores do crime. Quatro adolescentes são suspeitos de terem ateado fogo no local, como explica sargento Gleyson Simplício. “Começamos a fazer fotos tentando descobrir o que poderia ter acontecido para o incêndio tomar essa proporção. Até então abrimos a ocorrência, mas não fechamos para conseguirmos algum indício que possa fechar nos possíveis autores. Com a ajuda do reformado sargento Borges, que hoje presta serviços para a Prefeitura; estamos próximos disso. Ele conseguiu fotografar um banco lá em cima na pedra, identificando alguns menores e com isso conseguimos levantar através de Facebook postagens em que eles mencionam a respeito do fogo e vídeo citando a Pedra Itaúna”.
Os adolescentes ainda registraram a data no banco: 10/10/15. De acordo Gleyson, moradores das proximidades confirmaram movimento suspeito no local, próximo ao horário do incêndio. “Tem indícios de que eram eles que estavam lá. Pessoas, que não quiseram ser testemunhas, relatam que menores do porte físico deles desceram no momento. Então a Policia Civil com certeza, através do delegado Ivan, responsável pela pasta do Meio Ambiente, vai investigar e levar uma apuração bem feita para a promotoria para que seja tomada as providências cabíveis”.
Caso os autores sejam menores de idade, os pais serão chamados e responsabilizados. “De acordo com a lei 9.605, é crime ambiental causar incêndio florestal. É uma área bem extensa e provavelmente muitos animais, de pequeno e grande porte, devem ter sido queimados, a flora foi prejudicada, sem contar o ser humano que é afetado na parte respiratória com toda aquela fumaça”, explicou o militar.
Segundo Gleyson, acredita-se que demore de 3 a 4 anos para a área se recuperar. “Tivemos aquele incêndio em 2010 e agora que estávamos começando a ver a vegetação novamente, os pássaros naquele local, mas infelizmente cinco anos depois, alguém ateou fogo novamente naquele local. O fogo não vai surgir do nada, tem que ter alguém para colocar. Da outra vez o fogo iniciou no pé da pedra, agora foi lá em cima, então com certeza são pessoas que frequentam o lugar”.
O sargento finaliza deixando uma sugestão para que o local não volte mais a ser palco de incêndios e depredações. “É bom que a Prefeitura observe, talvez até tenha um controle de quem visite a Pedra, porque isso gera prejuízo, a população ficou sem televisão durante esses dias, o fogo atingiu as antenas. A gente faz a campanha, entrega panfleto, faz visitas, mas não existe o controle das pessoas que por ali passam. Tem que se estudar para que isso não possa ocorrer mais no futuro. É um cartão postal de Caratinga, não é interessante que fique queimando todas as vezes que um inconsequente vá lá. É importante que as pessoas que vão ali estejam realmente para sentir prazer”.
O DIÁRIO DE CARATINGA localizou o perfil nas redes sociais de um adolescente. Em uma postagem, o vídeo em que ele e outros dois amigos dançam na Pedra Itaúna. Efeitos especiais com chamas aparecem ao fundo junto do status “Se sentindo satisfeito”.
Em outra postagem o adolescente afirma que ele e os outros amigos, a quem chama de ‘quarteto’, estariam sendo alvo de comentários por parte da população, dando conta de que seriam os incendiários, mas ele negou a autoria do crime. No final da tarde de ontem, este menor retirou o vídeo da rede social.
A Polícia não confirmou se seriam eles os suspeitos que estariam sendo investigados.
NOTA DA PREFEITURA
Na tarde de ontem, a Prefeitura de Caratinga emitiu nota lamentando o incêndio na APA (Área de Proteção Ambiental) da Pedra Itaúna. A nota informa que durante todo o incêndio a Secretaria de Defesa Civil e a Secretaria de Meio Ambiente estiveram envolvidas em ações de combate ao fogo, juntamente com a PMA (Polícia Militar Ambiental) e também com o Corpo de Bombeiros Militar, Civis e Voluntários. “Foi disponibilizada pela Prefeitura uma motoniveladora que trabalha na realização de aceiros para que o incêndio não avance em áreas ainda não atingidas”.
Segundo a nota, a Prefeitura de Caratinga, por meio da Secretaria de Meio Ambiente e Serviços Urbanos, desde 2013 faz aceiros para a prevenção a incêndios na APA – Pedra Itaúna e outras áreas protegidas do município. “Em setembro de 2015 foi feito um novo aceiro na Área de Proteção Ambiental (Pedra Itaúna), perfazendo um total de aproximadamente 7 mil metros, disponibilizando 14 servidores da Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Serviços Urbanos durante 18 dias úteis trabalhados”.
De acordo com informações não oficiais, o incêndio na APA – Pedra Itaúna foi um ato criminoso e a Polícia Militar Ambiental está investigando. “A Prefeitura estará acompanhando a situação de rescaldo do incêndio e, em seguida, solicitando aos técnicos da Secretaria de Meio Ambiente que realizem um laudo técnico das consequências da queimada, o qual será disponibilizado e divulgado. A Prefeitura informa, por fim, que tem interesse e trabalhará para o reflorestamento da área, utilizando todos os meios disponíveis”.
APA PEDRA ITAÚNA
Em decreto de 23 de dezembro de 1997, o prefeito da época, José Assis Costa assinou o documento declarando a Área de Proteção Ambiental (APA) denominada Pedra Itaúna, localizada no município de Caratinga. Segundo o documento, o objetivo foi “assegurar a proteção do conjunto paisagístico e demais recursos naturais locais, promover a melhoria da qualidade de vida da comunidade a que serve a área, no caso o núcleo de urbano de Caratinga, bem como estabelecer critérios de uso e ocupação compatíveis com a importância da área para o município”.
Outra finalidade também seria controlar o fluxo hídrico pluviométrico que escoa em direção ao núcleo urbano de Caratinga, em especial o Bairro Santa Zita, que já foi alvo de catástrofe provocada pelas chuvas de montante.
O decreto ainda descrevia que a APA Pedra Itaúna comportava uma área de 516 hectares. Para implantação e funcionamento da APA Pedra Itaúna foram adotadas, entre outras, as seguintes medidas: constituição de um conselho para gestão colegiada da APA Pedra Itaúna, com a participação dos seguimentos envolvidos na região: Prefeitura Municipal (6); Conselho Municipal de Defesa do Meio Ambiente (CODEMA) (1); setor econômico (1); organização não governamental ambientalista (1); representante da comunidade (1); Instituto Estadual de Florestas (IEF) (1); comunidade científica (1); procedimento do zoneamento ambiental da APA, através da Lei Municipal, sob responsabilidade da Secretaria Municipal de Planejamento em articulação com o conselho de gestão colegiada, indicando as atividades a serem incentivadas em cada zona, bem como as que deverão ser limitadas ou proibidas, de acordo com a legislação aplicável; utilização dos instrumentos legais e dos incentivos financeiros governamentais para assegurar a proteção da zona de vida silvestre e o uso racional do solo conforme determinados no zoneamento ambiental; adoção de medidas de incentivo à melhoria da qualidade de vida da população local e divulgação de medidas previstas na lei objetivando o esclarecimento da comunidade local sobre a APA Pedra Itaúna.
Ficou estabelecido que a APA Pedra Itaúna seria supervisionada, administrada e fiscalizada pela Prefeitura Municipal de Caratinga, de forma integrada com o órgão
Os recursos financeiros advindos da aplicação da Lei Estadual nº 12.040/95 consequentes da criação desta unidade de conservação deveriam contemplar, prioritariamente, medidas que assegurem a implantação do zoneamento ambiental e a melhoria da qualidade de vida da população local. O executivo municipal estava autorizado a abrir crédito especial no valor de R$ 10.000 para suprir as despesas oriundas da implantação da lei.
O PRIMEIRO GRANDE INCÊNDIO
O incêndio começou na manhã de 17 de setembro de 2010. Um vídeo que circulava no youtube registrava o episódio. As ferramentas não conseguiram alcançar o topo, onde as chamas se alastraram rapidamente.
Segundo testemunhas, menores de idade estariam matando aula e estavam na rota de principais suspeitos de praticar o crime. Sete menores e três maiores foram abordados pela Polícia Militar de Meio Ambiente e afirmaram terem estado na companhia de outros quatro menores que teriam sidos os responsáveis por terem colocado fogo no local. À época, o caso também foi investigado pelo delegado Ivan Sales e os os envolvidos foram intimados pelo ato infracional do artigo 41, da lei nº 9605/98.
Ranking focos de incêndio. Caratinga na sétima posição