Biólogo Eduardo Buzim adota dois irmãos de 8 e 12 anos. Ele conta como está sendo a experiência e se emociona por comemorar seu primeiro Dia dos Pais
CARATINGA – O primeiro significado de pai no dicionário é um homem que gerou um ou mais filhos. Mas na vida, esse significado é muito mais amplo, a palavra de apenas três letras faz menção a uma pessoa que é capaz de criar, cuidar e amar incondicionalmente seu filho.
No caso do biólogo Eduardo Buzim Júnior, 32 anos, o significado de pai, vai muito mais além do que palavras possam expressar.
Eduardo é jovem, empresário, mora sozinho, cuidava de seus três cachorros e dois gatos, mas o amor que tem em seu coração é tão grande, que ainda faltava alguém para ser beneficiado com esse sentimento tão nobre. Foi então que o biólogo pensou em adotar uma criança, mesmo sendo solteiro. E mais uma vez, o coração falou mais alto, Eduardo despido de qualquer preconceito não adotou um, mas dois meninos de 8 e 12 anos, que são irmãos.
Há pouco mais de 40 dias a vida desse biólogo se transformou, a casa ganhou mais dois moradores que fazem sua alegria. Um verdadeiro pai de coração, que tem consciência da responsabilidade que tomou para si, mas que tem amor de sobra para doar. Acompanhe nesta entrevista especial essa história emocionante.
Como e quando surgiu a ideia de ser pai?
Desde novo sempre tive essa vontade, era uma coisa minha. A ideia inicial era ter um filho biológico e adotar outro, mas aí a vida vai mudando, a gente vai crescendo, vem oportunidades e hoje estou 32 anos, decidi que agora seria o momento ideal para ter essas crianças. Como não está vindo da via biológica, está vindo da via sentimental, que é do coração.
Sempre pensou em adoção?
Sempre tive intenção de adotar
Quanto tempo ficou na fila de adoção?
O meu processo foi um pouco diferente, pela questão da rapidez. Desde o primeiro momento que a gente vai a vara da infância mostrar o interesse, marcar uma reunião porque a gente é entrevistado, começar a correr atrás de documentação. A gente tem um curso pra fazer, para se habilitar ao processo de adoção, depois a gente faz a definição do perfil da criança que a gente quer; aí a gente começa a ter um contato. O meu processo demorou mais ou menos um ano e meio, mas foi super rápido. Ainda não está 100% finalizado, estou com a tutela deles, ainda tem o processo final de avaliação.
Em sua opinião o que é preciso ter para adotar uma criança?
Para trabalhar uma adoção a primeira coisa é ter força de vontade e realmente querer. Existem muitos casos como por exemplo quando é um casal, um quer e outro não, pode ser que já tenham filho e ele não quer, então se for uma família que estiver adotando deve estar em harmonia de querer essa adoção. No meu caso sou solteiro, não dependo de ninguém, meus cães não opinam, então essa decisão partiu só de mim, é questão de ter amor de sobra para doar e a força de vontade para qualquer pedrinha no caminho que aparecer saber lidar com ela.
Geralmente as pessoas querem adotar recém-nascidos ou crianças menores, por que decidiu adotar maiores?
A adoção tardia tem um preconceito, na verdade o processo de adoção já sofre preconceito da sociedade, e o fato de ser uma adoção tardia, o preconceito é maior. Muita gente acha que uma criança por ser mais velha já tem um histórico problemático, a dificuldade de ensinar vai ser maior, a dificuldade de adaptação vai ser maior, e não tem tanto disso. Um das funções de ter criado meu instagram “pai instantâneo”, foi exatamente por isso. Vejo que muitas pessoas tem essa questão, será que vou adotar mais velho, será que vai dar certo? A minha experiência, apesar de serem poucos dias ainda, não tive nenhum problema com eles, e quando você passa a frequentar as instituições e conhecer outras crianças mais velhas, você passa a perceber que existem outras crianças que estão totalmente aptas a adoção, são mais velhas e tem a consciência que precisam de uma família, precisam de um lar, então elas mesmo passam querer ajudar a dar certo. No meu caso a ideia inicial não seria uma criança tão mais velha quanto as que peguei, mas nesse curso preparatório que a gente tem, eles trabalham muito isso. O curso foi ministrado pelo Tribunal do Sul, e lá eles têm muitos programas que incentivam essa adoção tardia. Inclusive tem aplicativos de celulares com fotos e vídeos de crianças acima de 12 anos que mostram um pouco do dia a dia deles, para as pessoas verem que não é bicho de sete cabeças.
A cor da pele geralmente influencia muito na hora da escolha, mas você mostrou que não tem preconceitos, pois adotou duas crianças negras.
Quem me conhece sabe que sou uma pessoa muito tranquila com tudo, e a questão de concepção de família é muito mais que o visual, é muito mais que sentimento, nem sangue é padrão para definir se é parente ou família. A família deve vir do coração, do sentimento, independentemente de cor, sexo, tamanho.
Como conheceu o trabalho da Amac (Amigos dos Meninos Assistidos de Caratinga)?
Passei a conhecer a Amac através de uma amiga que trabalhava lá, então passei a querer saber como funcionava a instituição, uma casa lar, como trabalham, as crianças que estavam e até fiz um evento aqui no condomínio onde moro, pela minha empresa a gente arrecadou brinquedos, roupas, alimentos e passaram uma tarde de lazer aqui. Aí passei a ver essas crianças, procurar entender porque estavam lá, como a casa lar trabalha com eles.
Como foi a decisão de adotar dois irmãos?
A decisão veio do passar a conhecer as crianças da instituição. Meu cadastro inicial não era esse tipo, era menor, uma só. Acabou que passei a conhecer essas crianças, vi de longe, porque a gente não pode ter uma aproximação anterior, passei a perceber essas crianças, procurar saber sobre elas, ver como elas eram, e vi que eram duas crianças bacanas, são irmãos. Como todo irmão tem os “pega-pau”, mas eles cuidam muito um do outro, o mais velho sempre irrita o mais novo, mas acaba sempre cuidando dele, então achei que isso também ajudaria na questão da adaptação. Por eu ser solteiro, fazendo a criação independente, o fato de ter duas crianças ajudaria, pois não ficariam tão sem graça, se precisassem de alguma ajuda, fui analisando com o passar do tempo e vendo que seria a melhor opção pra mim.
Quando soube que seriam eles?
A gente não tem um start na mente. Durante todo processo a gente tem que ir fazendo essa avaliação, definir como é meu perfil, sou homem, solteiro, tenho a minha empresa, então tenho uma mobilidade de tempo e horário, então tenho que saber como eu sou, para depois ver o perfil da criança. As crianças que eu estava analisando, vi que daria certo porque essas informações batiam. Não tenho tempo para trocar uma fralda, então um recém-nascido não seria ideal, uma criança também tão mais velha não daria certo. Sou uma pessoa muito brincalhona, vem muitas pessoas aqui, a gente mora dentro de um condomínio, convivo com muitas pessoas, então acho até mesmo pra eu poder impor um modo de vida, de virar o pai dessa criança, seria um pouco complicado. Vi os dois, eles cuidam um do outro, têm compromisso com a escola, Funcime (Fundação Cidade dos Meninos), tem o horário deles, que coincidem com meu, temos o período de convivência, então tem como avaliar isso antes de fazer essa decisão.
Há quanto tempo estão juntos e como está sendo o processo de adaptação?
Há 40 dias. O processo de adaptação para mim tem sido muito tranquilo, não tivemos nenhum tipo de atrito. Sempre sento, converso, porque a minha metodologia de trabalho é ser sincero, isso na minha empresa, familiares, amigos e dentro de casa. A gente sentou, passou o primeiro fim de semana, deixei fazerem o que queriam, aí na segunda sentei com eles à noite e expus as regras, que a gente tem que ser sincero um com outro, falar o que está pensando, o que quiserem falar devem colocar um bilhetinho no meu quarto e que como qualquer outro lugar, aqui também tem regras, responsabilidades e horários.
É difícil ser pai solteiro, você conta com ajuda de mais alguém?
A questão de ser pai, solteiro ou não, tudo vai depender da própria pessoa, eu conheço casas que tem a esposa, marido, sogra e não dão conta. Sempre corri atrás da minha independência, tem um bom tempo que moro sozinho, tenho minha casa, minha empresa, sempre tive responsabilidades, a questão dos meninos entrarem dentro da minha casa foi uma responsabilidade a mais, isso não me afetou. Claro que preciso de ajuda, ninguém é sozinho nessa vida, então temos os vizinhos que ajudam bastante quando preciso, tenho os meus amigos que são excepcionais, se preciso viajar ficam aqui em casa tomando conta dos cachorros, se passar mal vêm tomar conta de mim, se eu precisa algum dia, sei que terei com quem contar.
O que vocês mais gostam de fazer juntos?
Primeiro ver filmes e seriados, isso aí já bateu de cara, videogame e no final do dia, fim de semana pedem pra fazer a sessão cinema, aí a gente faz uma pipoca, alguma coisa gostosa e vai ver o filme, aí já dormimos juntos na cama.
Eles ainda não te chamam de pai, como é isso?
Existe todo um processo educacional antes de ter o convívio com as crianças, antes de receber a habilitação da adoção e nesse processo isso também é tratado, tem que vir uma coisa natural deles, pode ser que nuca me chamem de pai, ou pode ser com 30, 60 dias. O adotante não pode forçar isso. Para meus amigos, parentes e vizinhos que frequentam minha casa, todo mundo vai me tratar como pai, os meninos me tratam como quiserem, eles me chamam de tio, mas se alguém for referir a mim, é “seu pai”, porque aí vão assimilando essa ideia.
O que planeja para o futuro deles?
Para o futuro ainda é muito incerto. Eles são crianças que apesar de terem 8 e 12 anos ainda não tiveram uma vida, tem muita coisa que não aprenderam, estou mais preocupado com o presente. Tem muitas palavras que não conhecem, muitas comidas. Esse final de semana vamos para a praia, nunca foram, vão conhecer o mar, então estou preocupado em apresentar pra eles um pouco do mundo que não conheceram.
Qual é a sensação de ser pai?
Isso daí é muito bom, é meu primeiro dia dos pais…(lágrimas) e até nem estava lembrando da data, apesar de eu ter pai, a gente acaba deixando essas coisas um pouco de lado. É uma sensação maravilhosa, saber que tem alguém dependendo da gente, que agora é nossa família real. Tenho pai, mãe, irmãs, sobrinhos, gosto muito deles, mas você ter alguém morando com você, que vai estudar, formar, te dar um sobrinho, um neto, que pode causar problema, mas também tanta felicidade, é muita emoção.
Qual a mensagem deixa neste dia dos pais?
Pai pra mim é aquela pessoa que tem que estar presente, envolvida, independentemente da cor do sexo, da opção, do estudo. Pai é quem está presente e que cria. Se a pessoa tem amor para dar que faça isso, se não se adapta a uma adoção de criança, que adote um animal e vá ser pai dele, porque a concepção de família mudou muito, então a pessoa para ser pai não precisa ter um filho humano. Então que ela seja pai. Se tiver um pouquinho de amor para doar, que faça. Será muito mais válido para ela e para quem recebe esse amor.