Entrevistados e colunista do DIÁRIO falam sobre o homem que irá governar a maior potência mundial
O candidato do Partido Republicano, Donald Trump, venceu as eleições presidenciais nos Estados Unidos, que aconteceram na última terça-feira (8). Quando entrou nas apurações o número de delegados do estado de Wisconsin, Trump alcançou 276 delegados, ultrapassando o limite de 270 necessários para ser o vencedor no Colégio Eleitoral.
Essa vitória teve cobertura extensa da mídia brasileira, quase um reality show. Este foi o assunto mais comentado na semana que passou. Nas filas do banco, do supermercado, no trabalho e nos lares, todos tentavam analisar esse resultado, que pegou a muitos de surpresa. Porém o DIÁRIO, na coluna Painel do dia 8 de novembro, já assinalava um possível sucesso de Trump: “Já o republicano Donald Trump, que não é muito simpatizado pelos sul-americanos, é uma espécie de ‘Kalil’ americano. Fala o que pensa e é contra os políticos tradicionais. Para quem não entende, ele pode ser a surpresa lá no primeiro mundo, pois aqui no Brasil as surpresas já aconteceram”.
E como vivemos a era da globalização, onde o que acontece nos Estados Unidos tem seus reflexos em todo o mundo, o DIÁRIO entrevistou um sociólogo, que explicou os posicionamentos de Donald Trump, além de falar das possíveis ações do presidente eleito. Também ouvimos um ipanemense que imigrou para os Estados Unidos há mais de três décadas. Ele, inclusive, foi candidato ao congresso americano. E para completar, o artigo da nossa colunista Margareth Maciel trata das eleições americanas.
Sociólogo analisa a vitória de Donald Trump
O sucesso de Donald Trump nas urnas dos Estados Unidos suscitou diversos comentários e indagações: ‘Ele é conservador?’, ‘Trump é populista?’, ‘Trump vai brigar com Putin?’. Então para falar sobre essas situações, o DIÁRIO entrevistou Fernando Vieira, doutor em Sociologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e pós-doutor em Educação pela Universidade Federal Fluminense (UFF).
Estranhou para o senhor o fato do discurso de Donald Trump ter agradado o povo norte-americano?
– Num país dividido e com uma base conservadora centrada no ideário de um fundamentalismo cristão, Trump agradou ao resgatar valores considerados típicos dos homens brancos entre 40/50 anos.
Qual a explicação para Donald Trump vencer num estado como a Flórida, onde é maciço o voto dos latinos?
– Grande parte do eleitorado latino da Flórida é composto por exilados cubanos que se posicionam em favor dos republicanos. Distanciamento ampliado com a aproximação do governo Obama com o governo cubano.
Em sua avaliação, Donald Trump é conservador, populista ou as duas coisas?
– É um conservador que sabe se apresentar aos setores populares. Soube traduzir as angústias da população urbana, em especial, das cidades industriais que foram afetadas pelo Nafta (Tratado Norte-Americano de Livre Comércio. Bloco econômico formado por Estados Unidos, México e Canadá), como por exemplo, Detroit, Pittsburgh, Minneapolis. Com isso, conquistou um eleitorado que se encontrava desgastado diante da falta de políticas que gerasse empregos fabris.
Para os mais alarmistas, o mundo viverá sob ameaça, com Trump de um lado e Vladimir Putin (presidente da Rússia) do outro. Existe essa possibilidade de voltarmos aos tempos da ‘Guerra Fria’? Ou os dois são muito semelhantes em seus pontos de vista?
– Os interesses norte-americanos no exterior continuarão a sofrer ingerência no governo Trump. Para algumas questões, Trump não hesitará em negociar com Putin acordos que favoreceram ambos os lados. Por exemplo, a Síria não terá atenção que Obama lhe devotou.
Pode se dizer que o mundo ficou perplexo com a eleição de Donald Trump. O senhor consegue identificar alguma qualidade no novo presidente dos Estados Unidos?
– O eleitorado norte-americano viu qualidades. Seu discurso popular, misógino, machista, lhe conferiu uma aura popular, contraposta à de Hillary Clinton que passava uma imagem autossuficiente e arrogante.
Recentemente houve a votação para a Inglaterra sair da União Europeia e também há o crescimento da extrema direita na Europa. O mundo está se tornando conservador e contra a globalização?
– Cabe lembrar que nos anos 1990, Clinton e Tony Blair, defendiam a Terceira Via sinalizando que a globalização quebrava barreiras econômicas e culturais. Não haveria fronteiras para mercadorias, ideias, trabalhadores. O Brexit (abreviação das palavras em inglês Britain (Grã-Bretanha) e exit (saída). Designa a saída do Reino Unido da União Europeia) e a derrota da “dinastia” Clinton sinalizam o esgotamento desse projeto neoliberal globalizante tão caro aos dois líderes mundiais. A globalização se encontra em cheque. Assistimos a uma retomada de valores nacionais, antiglobalizantes, centrados na preservação da identidade cultural nacional e em fronteiras controladas aos imigrantes. O maior derrotado são os valores multiculturalistas. A defesa da identidade de gênero, o movimento LGBT, as minorias, etc.
A partir de agora, como fica a relação dos Estados Unidos com o Brasil?
– Desde o golpe que derrubou a presidente eleita, o Brasil assumiu uma postura subalternizada nos grandes temas internacionais. Nossa política externa se pauta por seguir os interesses dos EUA. Nada mudará. Cabe saber se Trump tem interesse em maior parceria com o Brasil.
Diante da globalização, se tudo aquilo que Trump disse em seus discursos for posto em prática, como isso nos afetará?
– O avanço de barreiras protecionistas será julgado pela OMC (Organização Mundial do Comércio) – caso o Brasil se sinta afetado. A tendência é uma redução de importação de determinados bens brasileiros, como o aço, calçados e sucos industrializados. Por outro lado, Trump mantém negócios no ramo de hotelaria no Brasil. Não o vejo se contrapondo economicamente ao Brasil. Há negócios a preservar.
O ipanemense que votou em Trump
O ipanemense José Peixoto foi notícia em todo o Brasil. No mês de outubro circulou em vários sites o fato de ele ser candidato a uma cadeira na Câmara dos Representantes. Esta foi a segunda tentativa de José Peixoto de se eleger representante do 26° distrito congressista da Florida, que abrange a região no extremo sul da península. Durante a campanha, ele chegou a participar de um jantar onde estava Mike Pence, o vice na chapa encabeçada por Donald Trump.
Peixoto deixou o Brasil em 1985 em busca do sonho americano. Trabalhou como engraxate, frentista, caseiro e foi funcionário da rede de lanchonetes Burger King. Conheceu a esposa, Bianca, em uma curta viagem ao Rio de Janeiro – ela se juntaria a ele na Flórida pouco tempo depois. Mais tarde, os dois receberiam uma proposta para cuidar de uma casa mais ao sul do estado, em Key Largo, região onde o casal se estabeleceu e vive até hoje com os três filhos. Hoje, Peixoto presta serviço de manutenção de casas. A esposa trabalha como professora de ensino primário.
Nesta matéria, foram mostrados os posicionamentos de Peixoto. Ele se mostrou contra o aborto, o casamento de homossexuais e, assim como Trump, pediu leis mais rígidas de imigração.
Após tanta repercussão, entrevistamos José Peixoto, que defendeu com veemência o seu posicionamento. Em alguns momentos suas ideias se assemelham com o que pedia a Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade (TFP), fundada no Brasil em 1960 pelo professor catedrático, deputado federal Constituinte em 1934, escritor e jornalista católico paulista Plínio Corrêa de Oliveira (1908/1995).
Por que se tornou um republicano?
– O Partido Democrata tem como base o Socialismo. Eles dizem que são o Partido da Compaixão. Vejam bem, nenhum governo produz riquezas, ele simplesmente administra os impostos pagos por aqueles que trabalham, por aqueles que com uma pequena, média ou grande empresa trazem progresso com pagamento de impostos, com criação de empregos. Ter compaixão com o dinheiro dos outros e muito fácil. Vejam o que fez o PT no Brasil com o ‘Bolsa-Tudo’. Acredito em ajudar alguém em um momento de necessidade, mas não podemos tratar das pessoas por toda vida. Temos que criar condições para que todos possam ter o orgulho de botarem na mesa de suas casas o arroz com feijão com seu próprio suor. Não é responsabilidade minha tratar dos seus filhos, é sua obrigação buscar trabalho. O Partido Democrata, assim como o PT, acredita que o rico não pode ser rico; ele tem de distribuir com os pobres o que ele ganhou com seu trabalho ou de sua família. O Partido Democrata acredita que por eu ser negro, índio, latino ou branco, mereço um lugar em uma Universidade. Não por eu ser culto, capacitado, inteligente. O Partido Democrata acredita que para estar politicamente correto, por exemplo, se eu colocar uma cruz no jardim de minha casa posso ser processado por alguém que passe em frente a minha casa, pois estou agredindo o direito desta pessoa de não acreditar em Deus e por aí vai a liberalidade do Partido Democrata. Por estas e muitas outras coisas, tenho o prazer de fazer parte do Partido Republicano.
O senhor está há três décadas nos Estados Unidos. Neste período qual presidente o senhor considera o melhor e por quê?
– Ronald Reagan, um autêntico patriota. Defensor ferrenho da Constituição deste grande país, defensor dos princípios básicos nos quais os Estados Unidos foram criados In God We Trust (Em Deus Nós Confiamos). Na administração Reagan foi assinada a Anistia para os Imigrantes que não tinham documentos legais. Porém é bom lembrar que naquela época não havia o grande problema que temos hoje com os imigrantes sem documentação e que não são desejados, caso de criminosos, terroristas, traficantes, estupradores, gangues, pessoas que estão foragidas de seus países por terem cometido crime por lá. Reagan trouxe respeito, credibilidade e melhorou a economia.
O senhor mora na Flórida, estado onde tem muitos latinos. Como o discurso de Donald Trump convenceu esse eleitorado?
– Por sermos latinos não podemos esquecer que hoje nosso país é os Estados Unidos da America. Aqui tivemos a oportunidade que não tivemos em nossos países de origem. Aqui vivemos e criamos nossas famílias com segurança, com escolas de ótima qualidade, com ruas limpas, com hospitais modernos e estradas perfeitas. Não só os americanos natos, mas nós também que adotamos esta grande nação estávamos cansados dos políticos de carreira. Era hora de alguém de fora para ver se podemos voltar a ser o país que sempre fomos: respeitado e com uma forte economia. Que o respeito aos direitos de todos volte a prevalecer. No momento a liberalidade e tão grande, só estando aqui para você sentir e ver o caminho reverso da moralidade que uma administração liberal pode levar um país.
Em contato com outros brasileiros que vivem nos Estados Unidos, o que eles pensam sobre a vitória de Donald Trump?
– Vivo em uma área que somos uma meia dúzia de brasileiros. Porém tenho amigos brasileiros em outros lugares e tenho contato com eles. A maioria fica preocupada pelo problema da Imigração. Digo para todos eles que só devem estar preocupados aqueles imigrantes que são improdutivos, que tenham cometido algum crime (tráfico de droga, roubo, estupro, tanto aqui como no seu país de origem). Tenho absoluta certeza que na administração Trump vai ser criada uma alternativa para aqueles imigrantes que adotaram a vida americana, que procuram aprender o idioma, que trabalham para sustentar suas famílias, para que possam provar isto mostrando seu Imposto de Renda, pois lembrem que se andamos em ruas limpas, temos todo o conforto de um país de primeiro mundo, porém isto custa dinheiro para construir e manter. E este dinheiro vem do pagamento de impostos. Temos direitos, mas deveres também.
Como foi sua campanha à Câmara dos Representantes? Pretende se candidatar novamente?
– Esta foi a segunda vez que fui candidato para o Congresso, tive mais de 16 mil votos e gastei $ 300.00. É um processo que demora alguns anos para você criar credibilidade junto ao eleitorado. Infelizmente, assim como no Brasil, aqui dependemos de muito dinheiro para uma campanha, mas sei que com tempo poderei melhorar. Sim serei candidato novamente, tenho muitos conhecidos e amigos no meio político. Na reportagem que você referiu sobre mim que foi publicada no Brasil, foi feita por uma repórter brasileira a qual levei comigo em um jantar com o que hoje é o nosso vice-presidente Mike Pence, ou seja, para um simples mineiro de Ipanema, vindo de uma família simples, que chegou aqui falando duas palavras de inglês (‘thank you’ e ‘sorry’), hoje podendo estar neste meio é uma vitória.
Quando a matéria a seu respeito foi veiculada no Brasil, muitos se perguntaram como o senhor defende leis mais rígidas para imigração sendo que um dia foi um imigrante considerado ilegal? O que o senhor tem a dizer para essas pessoas?
– Não sou a favor de leis mais rígidas contra os imigrantes. Muito pelo contrário, quero ajudar naquilo que puder para que seja criada uma condição para que cada imigrante tenha o seu caso analisado pela Imigração. Creio que uma grande maioria será beneficiada com uma autorização de trabalho. Depois de residência temporária e depois de provar que aderiu ao sistema americano, que aprendeu o idioma, que obedece às leis, terem também uma cidadania como eu tenho. Sou sim a favor do MURO porque conheço o problema de perto. Pela fronteira do México não entra só o nosso amigo, irmão, primo, gente que sabemos que está vindo buscar uma vida melhor. Por lá entram terroristas, muita droga, muitos estupradores, membros de gangues, fugitivos de seus países onde cometeram algum crime; por lá criamos o espaço para os traficantes de seres humanos (coiotes). Muita gente aí não sabe quantas pessoas colocam seus filhos, suas esposas em risco naquela famosa travessia da fronteira com o México. Tenho uma amiga que vive no Norte que veio com outra amiga pela fronteira do México. Ela me contou que foi abusada sexualmente por oito homens em um dia e uma noite que passou com eles lá fronteira. Muita gente mostra aí os dólares que ganhou aqui na terra do Tio Sam com suas fazendas, prédios, casas, mas estas histórias eles não contam.
Donald Trump pode fazer o EUA voltar a ser grande novamente?
– Quando Ronald Reagan estava tomando posse, o Irã estava soltando os americanos que lá estavam sequestrados por um longo tempo. Sabe por quê? Porque eles sabiam que Reagan os traria de volta de uma forma ou de outra. Assim vai ser com Trump, pois ele ama sua terra, quer o melhor para povo, não tem nenhum rabo preso com ninguém. Ele saberá escutar os anseios do povo. Está foi toda sua ideia durante a campanha. Ele não necessita dinheiro, prestígio ou reconhecimento.
Guardadas as devidas proporções, com a eleição de Donald Trump, muitos brasileiros estão comparando o deputado federal Jair Bolsonaro (PSC) com o novo presidente dos Estados Unidos. O senhor vê alguma semelhança nas argumentações de ambos?
– Não conheço muito o Jair Bolsonaro, somente o que vejo pela na mídia. Porém vejo nele um autêntico patriota, conservador, defensor dos direitos de todos e não de uma minoria como aconteceu no governo Democrata Socialista Comunista do PT. Criaram o ‘Dia do Zulu’ mas não criaram o ‘Dia do Branco’. E por aí vai.
Qual o conselho o senhor daria para aquele brasileiro que imigrar para os Estados Unidos?
– Procure uma forma de entrar pela porta da frente. Assim sendo não correrá o risco de acontecer com você como aconteceria com um ladrão que tenta entrar em sua casa pelos fundos ou pulando o muro. Você colocaria automaticamente os cachorros atrás dele ou até daria um tiro na perna para pará-lo. O Partido Republicano, bem como o povo americano, não é anti-imigrante, somos sim contra aquele imigrante que vem pra cá por sua livre e espontânea vontade, que nunca foi convidado e chegando aqui traz consigo aquela filosofia de esperar que o governo lhe dê tudo. Achar que o americano tem que aprender português para comunicar com ele, achar que aquele jeitinho brasileiro vai funcionar aqui. Este sim nunca será bem-vindo. Lembrem-se sempre daquilo que disse o presidente John Fitzgerald Kennedy: “My fellow americans, ask not what your country can do for you, ask what you can do for your Country” (“Não pergunte o que o seu país pode fazer por você, mas sim o que você pode fazer pelo seu país”).
O senhor tem planos de voltar a morar no Brasil?
– Só Deus sabe. Tenho três filhos americanos e nossas vidas são nossas famílias. Não me vejo longe de meus filhos e minha esposa. Vamos com frequência visitar nossas famílias aí no Brasil. Meus filhos gostam do Brasil, mas vejo que é muito difícil que eles venham a viver aí.