Qual o impacto do amor na vida de uma criança? Questionamentos como esse passaram pela mente de Won-pyung Sohn, uma premiada diretora de cinema nascida na Coreia do Sul, logo após o nascimento de sua primeira filha. Ao ver um ser tão frágil em seus braços, ela percebeu que apenas o amor materializado em cuidados garantiria a sobrevivência da criança, mas após essa fase, a pequena cresceria inevitavelmente.
Sohn questionou a existência do amor incondicional. Seria ela capaz de amar a filha independente da pessoa que ela viesse a ser? Pensando nas possibilidades, dois personagens completamente diferentes em suas atitudes nasceram: Yunjae e Gon.
Lançado no Brasil em abril pela Editora Rocco, “Amêndoas” apresenta Yunjae como protagonista. Trata-se de um pré-adolescente nascido com uma condição neurológica rara que o impede de identificar e manifestar sentimentos. Felicidade, tristeza, medo e raiva são alguns dos desafios enfrentados por pessoas com alexitimia.
A incapacidade de Yunjae desperta o preconceito da maior parte da sociedade. O garoto se vê isolado, sem amigos e condicionado a decorar instruções sobre como ser “normal”. A vida não muito boa do protagonista piora quando a mãe e a avó sofrem um ataque diante de seus olhos. A avó faleceu imediatamente e sua mãe entrou em coma, sem perspectiva de melhora.
Por não chorar como as outras pessoas, logo Yunjae passou a ser chamado de “psicopata” e “robô” pelos colegas de classe. Sozinho, ele tentará seguir em frente e o aparecimento de Gon mudará os rumos de sua história.
Gon desapareceu aos três anos de idade e viveu experiências traumáticas durante a infância que fizeram dele uma pessoa agressiva e rancorosa. Durante sua ausência, a mãe adoeceu e faleceu sem vê-lo. Gon retornou ao lar após anos de investigações, mas não conseguiu se adaptar com facilidade a uma rotina tecnicamente estável.
Os caminhos de Yunjae e Gon se cruzam e ambos terão que aprender a lidar com a dor, a angústia e, claro, com o amor. Trata-se de um romance curto e envolvente, é impossível largar a leitura!
O fato de “Amêndoas” representar muito bem a cultura sul-coreana já era um bom motivo para que eu iniciasse a viagem pelas páginas. No entanto, o que realmente me atraiu foi a curiosidade em relação ao perfil de Yunjae. Eu não conhecia a alexitimia e fiquei encantado com a responsabilidade da autora ao retratar o tema.
Em pleno mês das mães, foi ótimo ler uma história tão sensível e impactante. A relação do amor materno com a vida é a chave para compreender a grandiosidade de “Amêndoas”. Vale a pena ler!
Daniel Dornelas é escritor e influenciador literário. Apresenta o Entre Livros na UNEC TV e no Super Canal. Acompanhe pelas redes sociais: @lendocomdaniel