Hoje quero buscar um pouco de história e reviver pessoas que marcaram o nosso cotidiano.
Figuras populares, gente humilde saída do povo humilde, ganhando força no incomum, no diferente, na maneira única de ser. Distantes das figuras populares cultas, elas marcaram a vida de cidade pelo excesso, busca o cômico.
Figuras inesquecíveis carregadas de verdade, desafiam o tempo e chegam no ontem adormecido.
Nosso passado conta em ritmo de saudade.
Joaquina Goiaba – Corria pelas ruas da cidade com bolsas grandes a tiracolo. Mexiam com ela chamando-a de Joaquina Goiaba, e ela respondia com xingos. Engraçada, fazia as crianças se esconderem de medo e riso de seu inofensivo alarde.
Maria Franquilina – Bobalhona, transitava pelas ruas com sua mania de pedir açúcar em todas as casas. O filho militar, um dia, veio buscá-la e lá se foi nossa Franquilina, que tanto pedia para não sair daqui.
Adão Jacaré – Foi escravo. Após a abolição, com a ajuda de Dom Modesto veio morar com dona Josefina Viera, mãe da saudosa dona Isabel Vieira. Prestativo, buscava água para abastecimento de muitas casas. Admirador incondicional de Artur Bernardes, dizia receber dele cartas toda a semana. E o senhor Adolfo de Matos, funcionário do Correio da época, fomentava a brincadeira trazendo as supostas cartas. O Adão, confiante e orgulhoso, ouvia a leitura delas e respondia a todas. Ouvia missas todos os domingos com o rosto todo sujo de farinha de trigo, usando chiquíssimas luvas brancas.
Cabecinha Quente – Gostava do Barro Branco (trecho da sentinela até o CTC). Tonto, depois de mil pingas, cantava músicas folclóricas parecidas com desafios sertanejos. Após cada uma, anunciava o prefixo da Rádio Caratinga falando para o mundo.
Toureira – Quem não se lembra da Toureira e sua Dandaia? Meio amalucada andava rua afora com a filha do lado. Nada faltava à menina porque tudo o que a Toureira ganhava era para a filha primeiramente. Um dia, depois de muita peleja, a Toureira permitiu que Dandaia fosse para o orfanato para garantir um futuro melhor. Depois disso, as andanças da Toureira diminuíram. Ela era vista sempre reclamando de saudade ou vigiando a porta de dona Heloísa Cortes para ver Dandaia.
Zé Folha Seca – Foi figura popular marcante. Dele ainda nos recordamos. Dizia ser prefeito desta Terra das Palmeiras. Saía cedo, rua abaixo, visitando suas obras e ordenando futuras realizações. Com um porrete, corria atrás dos que ousavam desacatar suas pretensões. Irritava-se tanto que inspirava cuidados aos mais caridosos.
Píter – Figura popular das mais queridas e lembradas. Brincava com todos e vestia-se fantasiado de super-homem, de Batman, de muitos heróis que povoavam nosso cotidiano. Pegava um microfone, cantava e fazia perguntas a todos que passassem. Carinhoso, frequentava a casa da Liginha e ali recebia apoio e amor de uma família. Tião de Lima, em sua festa “Jovens de Ouro” colocou o Píter para ser homenageado. Foi muito aplaudido e se comportou como um jovem educado.
Foi atropelado de forma trágica e acabou morrendo. Os sinos de nossa Catedral soaram durante seu velório e enterro. O coração de toda a gente de Caratinga, bateu tristeza. Até hoje é lembrado com manifestações de apreço.
Dona Rosinha – Toda enfeitada de colares coloridos. Gostava muito de rezar e na missa comungava muitas vezes, se o padre não percebesse. Da janela que se abre para a Itaúna, vimos passar nossas figuras populares carregadas de força e lembrança. Enriquecem o nosso folclore quando sua passagem já se faz distante. Foram um hino de simplicidade na cultura popular. Elas passaram, mas ficaram na lembrança, assim como tudo o que é bom. Deixaram rastros porque é impossível as coisas puras não deixarem pegadas ao longo do caminho.