Há 62 anos, idoso tece suas peças utilizando o bambu como matéria-prima
CARATINGA- Foi ainda aos oito anos de idade, que Nilton Valentino aprendeu o artesanato com bambu. Hoje, aos 70 anos, conhecido como Nilton Balaieiro, ele segue com o ofício que passou de geração para geração, fazendo peças tais como balaios, cestos e peneiras, na porta de casa, no Bairro Doutor Eduardo.
A reportagem conversou com seu Nilton, enquanto ele fazia uma peneira. O trabalho manual era realizado com cuidado e habilidade. Ele conta um pouco sobre o início de sua história como artesão. “Meu pai era o José Valentim, vulgo José Balaieiro que eles chamavam também. É falecido, ele que me ensinou a fazer essa arte. Parei uns tempos, porque na época tinham uns 10 balaieiros ou mais aqui na área da Santa Cruz, então, foi preciso de parar para eu arrumar um serviço de carteira assinada, pagava o INSS, para ser igual hoje, que sou aposentado e continuo fazendo matéria-prima. E já estou começando a ficar apertado, porque não ensinei meus meninos a fazer, então só eu mesmo que faço”.
Aos poucos o bambu vai ganhando forma e se transformando em belas peças. Ele explica como se dá a escolha do material que é fundamental para realização do trabalho. “É um trabalho mesmo artesanal. Só o bambu comum verde que serve, o amarelo e o verde gigante não servem. É esse que qualquer fundo de quintal tem, é fácil de achar. Por exemplo, hoje compro aqui na porta, tem um rapaz que me fornece, porque hoje já não aguento mais buscar. Porque se fosse para buscar e ainda fazer o serviço, prefiro comprar”.
Nilton Balaieiro frisa que trata-se de um material resistente que pode ser transformado em uma gama de produtos. “Faço cesto, faço ‘moisés’, balaio para colheita, para quebrar milho, faço muita coisa. A peneira faço ela mais de encomenda, quando a pessoa pede”.
Algumas peças são mais trabalhadas e exigem um tempo maior de fabricação. É o caso dos cestos maiores que demoram cerca de um dia para serem fabricados. “Às vezes gasta mais de um dia, porque enquanto ele não seca, não pode arrematar. Tem que fazer ele, deixar secar e já começa outro. Ele tem tampa, tem pé, tudo isso vem depois. Se eu tecer um dia, para completar ele é só uns dois dias pra frente”.
O artesanato com bambu é antigo, mas, segue atraindo clientes. Seja pelo uso tradicional, cultural ou sua prática utilidade, as peças são bastante procuradas. “As pessoas estão procurando tudo, até balaio para botar galinha chocar, esse é mais procurado ainda, na época que a galinha está botando. Está tendo bastante procura, apesar da modernidade, agora acho que por aqui somos eu e um irmão meu que ainda faz essa arte”.
Outra questão interessante que seu Nilton Balaieiro destaca é que através do ofício como artesão, além de ter uma renda, utiliza o trabalho como uma forma de se distrair. “Isso aqui é uma coisa boa para a pessoa igual eu que sou aposentado, não preciso de entrar no comércio de trabalho de ninguém, eu mesmo tenho a minha arte para fazer. Isso aqui entrete, eu cansei, levanto, dou uma saída e depois estou colado aqui. Esses dias não estou nem podendo sair, porque estou por aqui de serviço (risos), essa semana estou com agenda cheia. Tenho que fazer bastante cestos e peneiras essa semana. Mas, está muito bom, tem época que acalma um pouquinho, mas tem época que aperta bastante. Mas, quando está apertado pra mim é melhor, surge um dinheirinho a mais”.
Nilton Balaieiro segue tecendo suas peças e fazendo sua arte, sentado à porta de casa. Para a nova geração, olhares atentos e registros o grande público da internet, coisa que não se fazia antigamente. “Têm muitas pessoas que não conhecem, agora estão conhecendo. Estou fazendo, o pessoal passa aqui, tira foto, joga na rede social. Chama atenção”.