Em entrevista ao DIÁRIO, Félix, que se recupera, relembra crime e fala da insegurança
CARATINGA– O jovem Félix Henrique Lélis Cordeiro, 19 anos, que foi vítima de tentativa de homicídio ocorrida no dia 23 de abril de 2017 no terminal rodoviário Carlos Alberto de Mattos, numa confusão motivada pelo suposto sumiço de um celular, já recebeu alta médica e está se recuperando.
O rapaz recebeu a reportagem do DIÁRIO DE CARATINGA para relembrar sobre o dia do crime e falar sobre sua recuperação. A Reportagem preservará a imagem de Félix e o local em que se recupera a pedido da família, que teme represálias.
Félix se lembra de que naquela madrugada, estava trabalhando normalmente em uma lanchonete, que fica no interior da rodoviária. Ele afirma que atendeu a um determinado cliente como de costume, mas depois foi surpreendido por uma acusação dele. “Ele chegou lá, só me pediu uma cerveja. Voltei o troco, ele estava conversando com um colega dele e disse que do nada sumiu um celular dele. Primeiro ele acusou o amigo dele de ter roubado, ficou insistindo um tempão com ele. Depois falou: ‘Se não foi você que roubou meu telefone, foram os meninos do bar que trabalham ali’. Na hora eu e o meu colega deixamos ele falando, um tempo, até perturbar a gente. Depois comecei a discutir com ele, começou a falar desaforo comigo e eu falei que não preciso roubar telefone. Ele falou que custou R$ 200, que ele não ia perder esse dinheiro assim à toa”.
De acordo com o jovem, embora desconfiasse da história contada pelo cliente, decidiu tentar solucionar o problema com a verificação das câmeras de segurança do estabelecimento e até sugeriu que o homem chamasse a polícia para queixar-se do furto. “Eu falei que ele podia chamar a polícia se quisesse, porque não roubei. Que ele podia ‘puxar’ a câmera depois. Isso era umas 2h mais ou menos, falei pra ele esperar meu primo chegar, que seria às 3h, para ele ‘puxar’ na câmera e ver quem roubou o telefone dele, se era que ele estava com o telefone também, porque acho que não estava. Nem vi telefone na mão dele. Falei que eu mesmo ia chamar a polícia, até liguei só que chamou e caiu. Repeti mais uma vez, caiu a ligação, do nada ele parou de falar e sumiu”.
O que Félix não esperava, era que o homem voltaria 30 minutos depois e armado, surpreendendo-lhe pelas costas. “Só ouvi o estalo na minha cabeça, virei, era o tiro. Quando olhei pra trás vi ele com a arma, a mulher que estava do lado de fora me chamou, sai correndo para fora do bar. Tinha um taxista na porta, que me levou para o hospital Na hora que levei o tiro estava consciente, fui até no táxi”.
Para o adolescente, o primeiro pensamento que lhe passou na hora do crime não poderia ser outro: a morte. “Tiro na cabeça, começou a sair sangue, falei: ‘Vou morrer agora’. Desesperei. Mas, graças a Deus foi tudo certo, tranquilo. Do tiro até na cirurgia agora não estou sentindo nenhuma dor”.
Félix afirma que não tem desentendimentos e não imagina que o criminoso tenha tido um motivo específico para lhe atingir. “Não tenho problema com ninguém. Ele estava drogado, não sabia o que tava falando. Ele saiu calado, não me ameaçou. Como saiu até brinquei com um colega meu: ‘Chamei a polícia, o cara correu. Sabia que estava errado’”.
Trabalhando há três meses no período da noite, Félix passou pela primeira vez por uma experiência como essa. Nesse período que conheceu a rotina das madrugadas na rodoviária, ele avalia como positivas as propostas que tramitam na Câmara Municipal para proibição da venda de bebida alcoólica e permanência de policiais no local. “Nunca tinha acontecido nada assim comigo. Falta polícia. Todo mundo que vai ali sabe como é. Eu gostava até de conviver com o pessoal da noite ali, mas depois do que aconteceu, não volto ali mais não. Sempre é um ponto de bebida, depois que acaba tudo à noite, vai todo mundo pra ali. Vai muita gente boa ali também, mas tem pessoa ruim, drogada, para ‘caçar’ briga e confusão. Por causa de um ou outro ai vai prejudicar o pessoal da noite, mas se for pra tirar a bebida é melhor, bom que acaba com tudo”.
O rapaz baleado enquanto trabalhava sente a insegurança do local e é categórico ao afirmar que não pretende mais prestar serviços nas imediações da rodoviária. Na cabeça fica a cicatriz e a marca da violência. “Pra noite não volto mais não, mesmo não tendo trauma nenhum de lá, vou trabalhar sempre com aquela dúvida, não querer ficar de costas para o balcão; qualquer pessoa que falar alguma coisa comigo vou desconfiar demais. Não tem clima de trabalhar mais não. Mesmo na parte da manhã, acho que não volto mais”.