Na década de 80, o escritor se transferiu para Caratinga, onde atuou no meio cultural, promovendo efervescência entre jovens artistas
DA REDAÇÃO – O escritor e jornalista Marcos Pizano lança sábado próximo, 24 de outubro, seu livro de poemas “Giz de Alfaiate”, em Governador Valadares. O evento acontecerá a partir das 20h30 no espaço “Palco Música Bar”, situado na Rua Israel Pinheiro, 1970.
Natural de Timóteo, Pizano fez história em sua passagem pela cidade nos anos 80, participando ativamente da vida cultural local. “Naquela altura, como responsável pela página de Cultura do Diário do Rio Doce, ele abriu espaços, influenciou e incentivou toda uma geração de artistas da região”, lembrou o poeta Bispo Filho.
Além de atuar como jornalista, Pizano integrou o movimento poético, participando ativamente do “Grupo de Poetas Prata da Casa” em sua primeira formação que, além dele, ainda contava com Clenilda Cunha, Roberto Lima, Abel Costa, Wilson Romeu, Geraldo Magela de O. Fernandes e Bispo Filho.
Ainda na mesma década, se transferiu para a cidade de Caratinga, onde também atuou de forma semelhante no meio cultural caratinguense, promovendo efervescência entre artistas jovens e talentosos como o fotógrafo e cineasta Elizeu Mol, o artista plástico Paulo Vieira, o teatrólogo Toninho Caeiro, e o escritor Juarez Gomes de Sá.
De acordo com Roberto Lima, jornalista que atualmente reside nos Estados Unidos, Marcos Pizano foi um dos jornalistas mais importantes na história recente de Governador Valadares. “Ele vivenciou o jornalismo com intensidade e paixão e isso fez com que seu trabalho frutificasse no adensamento de uma prática cultural mais comprometida na cidade”, lembrou.
A mesma opinião é compartilhada pelo artista plástico caratinguense Paulo Vieira. “O que diferenciava Pizano de todos nós que estávamos ali, metidos com algum tipo de cultura, é que ele enxergava um pouco mais à frente. Isso fez um bem enorme para nós”, afirmou Vieira, que atualmente trabalha no Rio de Janeiro.
Segundo Bispo Filho, Marcos Pizano sempre demonstrou sensibilidade ímpar ao abordar temas existenciais tais como o amor, o tempo, e a importância da poesia no mundo atual. Publicado pela Editora Patuá, o livro “Giz de Alfaiate” traz uma seleção de poemas que abordam estas e outras temáticas de forma lúdica e criativa.
Apesar de uma vida de militância e produção poética, este é o primeiro livro de Pizano. “A ideia de uma publicação, através de uma editora, sempre esteve presente, mas, só agora, me senti pronto para torná-la real”, afirmou o poeta, que atualmente vive em Ribeirão Preto (SP).
A OBRA
O título “Giz de Alfaiate” inspira-se no trabalho de seu pai, Antonio Pizano, que trabalhou como alfaiate em Timóteo. A ideia de delimitação do tecido para a costura é vista por ele como uma atividade para o recorte da mesma forma como se procede com a atividade poética. “O poeta é alguém que demarca a realidade tal qual um alfaiate risca o tecido, mas, ao leitor, cabe fazer os recortes, usando sua vida como pano de fundo”, explica.
São ao todo 50 poemas que revelam um olhar investigativo sobre a poesia “escondida nas coisas do mundo”. Todavia, segundo Pizano, quando a poesia se oferece à degustação do público, é ao leitor que cabe a tarefa de encontrar e decifrar o universo de suas significações. “Quem lê é na verdade o dono da tesoura, não o poeta. Ao ler cada poema, a pessoa pode, ela mesma, buscar em suas referências o recurso de que dispõe para entender e se aprofundar no universo poético”, afirma.
No livro, ele também recorre a músicas, fotografias e obras de arte como pontos de partida para o que chama de recortes emocionais. Seu gosto particular por vinhos e as comparações que resultam da bebida, também o motivaram a escrever, sempre fazendo paralelos com as contradições e lições da existência.
O título do livro decorre do poema “O Arremate do Giz do Alfaiate”, no qual presta uma homenagem a seu pai: “Eu ia dormir muito com os barulhos do meu pai trabalhando em casa. Eu o via riscando os tecidos, cortando, costurando, fazendo os ternos. Escrever poesia é um processo artístico também, artesanal, como a costura”, explica.