Por Carlos Alberto Fontainha
Uma das mais respeitadas instituições de todo o mundo, a maçonaria tem mais de um século de vida em Caratinga. A primeira Loja Maçônica nesta região do Vale do Rio Doce é a Caratinga Livre, fundada em 1912. Há registros que a regularização ocorreu teria sido em 1913. Em 2003, no mandato do venerável Manoel de Almeida Lopes foi editada uma revista especial comemorativa do que se considerava ser o nonagésimo aniversário da Caratinga Livre. Na gestão seguinte, com o venerável Aloisio Mauro Junqueira, localizou-se outro documento informando que a data correta seria um ano antes, isto é, 1912. Por decisão da diretoria da Loja, fixou-se a data de 14 de agosto de 1912 como a correta. À época da decisão, o médico Gerson Pires Luz ocupava o veneralato e a data histórica do centenário foi comemorada com um grande evento.
De acordo com a tradição, havia maçons em Caratinga desde a virada do século 19 para o século 20, provavelmente iniciados em lojas de outras cidades. Na região, havia lojas regulares em Ponte Nova e Manhuaçu e foi desta última cidade que vieram maçons da Loja Maçônica União, para o procedimento de fundação e regularização. Essa comissão de instalação foi chefiada pelo venerável César Leite, médico e fundador do hospital recebeu seu nome, em Manhuaçu.
Funcionando em prédio próprio, construído em fins da primeira década do século 20, a Caratinga Livre cresceu e de suas colunas saíram outras lojas na região, como, a Obreiros de São João, de Bom Jesus do Galho e a Obreiros de Caratinga, entre outras. A mais recente, a União e Paz, de Ubaporanga já é considerada Loja-neta, já que surgiu por iniciativa da Obreiros de Caratinga. A Fraternidade Acadêmica, de Caratinga também pode ser considerada Loa-neta, no entendimento de maçons mais antigos. Além disso, a Loja Maçônica Filhos da Acácia, filiada às Grandes Lojas de Minas Gerais teve seus trabalhos realizados no templo da Caratinga Livre por dezenove anos, período que levou até a construção de seu templo próprio.
HISTÓRIA
Por mais de um século a Caratinga Livre participa da história da cidade. Conta o falecido reverendo Uriel de Almeida Leitão, pastor emérito da Igreja Presbiteriana, em seu livro autobiográfico “Testemunho de fé” que os primeiros missionários daquela denominação protestante a iniciar o trabalho de evangelização na cidade foram recebidos por maçons, havendo mesmo, reuniões de oração e cultos nas dependências da maçonaria. Aliás, o maçom que reuniu em obra os regulamentos e atos normativos da instituição, no século 18 era um pastor presbiteriano de origem escocesa. A obra, a chamada “Constituição de Anderson” é adotada até hoje em todo o mundo. (Apesar dessa ligação histórica, atualmente, todos os segmentos do presbiterianismo brasileiro, incluindo a Igreja Presbiteriana do Brasil, proíbem que seus membros participem da Ordem).
Tendo como princípio a aceitação de “homens livres e de bons costumes” a maçonaria adota um rigoroso processo de seleção de candidatos a conhecerem seus mistérios, a partir da iniciação maçônica. Salvo raras exceções, todo maçom é conhecido por sua educação – não se deve confundir com formação acadêmica –, lhaneza de trato e, principalmente, honradez. Os que se desviam desses princípios são excluídos da instituição. Por isso mesmo, cresce a cada ano o número de candidatos, porém, os critérios de aceitação se tornam mais rígidos na mesma proporção.
Desde o início dos anos setenta, a Caratinga Livre funciona em seu novo prédio, no mesmo endereço da Rua Raul Soares. O histórico prédio que abrigou a loja desde sua fundação já não oferecia segurança e teve que ser demolido. O prédio ganhou o nome de Edifício Maçônico Jovino Guzela de Abreu, seu venerável na época e o primeiro da loja a receber a mais alta condecoração maçônica, a medalha de Dom Pedro, outorgada pelo Grande Oriente do Brasil. Outros membros da loja, também homenageados com a mesma medalha foram Joaquim Coelho Filho e Clinton Pereira da Gama; também o maçom Edson Obolari de Souza detém a mesmo honraria, embora a tenha recebido na Loja Maçônica Obreiros de Caratinga, para se transferiu por ocasião de sua fundação há quase cinquenta anos.
Na avaliação do atual venerável, Geraldo Magela Pereira, a maçonaria de Caratinga continua sendo um “exemplo de bons serviços” à comunidade por todos esses anos. Ele cita o “apadrinhamento” da loja a outra entidade benemérita, a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae); desde o início, a Apae funciona em terreno doado pela Caratinga Livre e continua atendendo centenas de portadores de necessidades especiais, da cidade e da região.
Por tudo isso, Magela, o Magelinha acredita que, não só a Caratinga Live que ele dirige, mas a Maçonaria (e ele pede a indicação do nome com letra maiúscula), como um todo vai continuar sendo um centro de formação de homens a serviço da humanidade. “É a construção do templo interior, a eterna lapidação da ‘pedra bruta’, tarefa que só termina quando o maçom morre, ou melhor, vai para o ‘Oriente Eterno’”.