Faz parte da cultura de diversas sociedades, desde a antiguidade, as construções monumentais. Algumas inclusive se tornaram símbolo de nações e povos. As Pirâmides e o Egito, o Coliseu e os romanos, a Muralha e a China, são alguns exemplos indiscutíveis disso.
Historicamente monumentos representam batalhas, vitórias, conquistas, divindades e até mesmo personalidades que deixaram marcas pelo espaço-tempo. Contudo, guardadas as devidas exceções, vê-se que tal movimento perdeu força na atualidade e não tem mais os mesmos impactos que teve no passado. Vários motivos poderiam ser expostos aqui para essa mudança cultural: a realidade virtual, a propagação de novos meios de comunicação, o processo evolutivo das sociedades em relação aos conflitos, etc. Contudo, destaco aqui um fato em especial, o crescimento do ego.
Obras monumentais são construções coletivas e apesar de apresentarem sempre uma liderança, não denominam um homem, mas sim o conjunto, conforme já destacado. E, muitas vezes, no homem moderno a projeção do EU é mais importante que a do NÓS. Eu construí, eu realizei, eu criei, tornam-se frases cada vez mais frequentes em todas as línguas, construindo juntas a Torre de Babel do egocentrismo.
As redes e sua demanda por seguidores, os holofotes e suas luzes para ofuscar a falta de brilho, o red carpet em busca de flash em meio à solidão. Status que apresentam desafios e demandas, na construção de seres monumentais, envoltos em relações fracassadas.
São pessoas que trocam amizades dedicadas por serviços prestados, desfazem de princípios e crenças em busca de cargos, seres que menosprezam os bons feitos dos outros pelo mero prazer de humilhar e não reconhecer as próprias falhas.
Há quem diga que a maior construção do homem é a própria humanidade. Se assim for, fica uma indagação: “Estamos consolidando nossas bases ou apenas erguendo arranha-céus de cristal?”
Claro que a resposta para tal questionamento é pessoal e intransferível, mas é provável que quem ocupa a cobertura não se importe com os ventos e tempestades até que o cristal se quebre. É possível que, lá de cima, os tsunamis sejam vistos apenas como uma ressaca até que toda a construção se despenque no olho do furacão.
Dito isto, importa ressaltar que esse artigo não objetiva julgar, apontar ou desmerecer ninguém, muito menos a humanidade, da qual ainda julgo fazer parte, mas sim levantar reflexões muito pessoais, tais como:
Até que ponto a vida é competição e não cooperação?
Há visão suficiente para enxergar o sucesso do outro sem ver nisso o próprio fracasso?
É viável abrir mão de relações construídas em prol da obtenção de títulos e honrarias?
Aqui também as respostas são muito pessoais e, em meio ao dilúvio de construções egoístas e monumentos fracassados, as vivências do momento só me permitem avistar saída na arca da coletividade, mas haverá harmonia na diversidade de “casais” do recinto salvador, ou serão cobras engolindo sapos? É a pergunta censurada, mas que não quer calar.