Ildecir A. Lessa Advogado
Algumas pessoas estão vivendo momentos especiais com o decurso do tempo. Esses momentos são revelados em encontros de amigos, seja de uma turma de ex-colegas de escola, de trabalho, de clube, etc. Enfim, estão em processo de renascimento, da chamada velha amizade. No momento, dois grupos estão organizando esse tipo de encontro de amigos antigos. Inevitável é, na promoção desses encontros, fazer a velha lista dos amigos para ordenar os contatos. É oportuno, buscar uma explicação para a feitura desse tipo de lista.
Nada melhor do que buscar nos textos, sejam eles literários, poéticos ou musicais, que sempre nos dizem algumas coisas importantes. Como na conhecida música, “A Lista”, que tem a declinação: “Faça uma lista de grandes amigos; quem você mais via há dez anos atrás; quantos você ainda vê todo dia; quantos você já não encontra mais; quantos amigos você jogou fora…” . A vida segue em frente e, os anos vão se passando, formando a equação do tempo. E, é nessa equação do tempo que, vamos tendo a percepção, dos acontecimentos que às vezes, parecem que, desabam sobre o que está ao nosso redor. O mundo que gravitamos sacode e altera o nosso sentido de prioridades: preocupações habituais chegam e se vão. Com isso, as possibilidades que antes eram relegadas, ganham cor. Novos horizontes e nortes surgem como desafios . O choque do inesperado subverte ainda que por tempo limitado, a constelação dos valores que nos governam. Os fios de situações que parecem, dominar nossa vida, fazem o sumário do nosso roteiro, que altera a cada dia.
No ciclo das estações, este ano, estamos vivendo um inesperado inverno. Há muito ele estava vindo, nesse ciclo das estações, porém de maneira tímida, em comparação dos tempos das estações de outrora. Talvez seja oportuno, quem sabe, enquanto ele permanece, fazer uma avaliação, no sentido de rever muitos conceitos. Numa atitude de vontade livre, fazer uma lista dos amigos, talvez voltar a ler e a estudar juntos, e quem sabe, passar a se reunir com regularidade para debater as questões de interesse comum. Criar, uma lista de sentidos, talvez, ou de resgatar de algum modo a abandonada “arte da conversação”. Montar, o jardim de uma verdadeira academia, montar o simpósio platônico, o jardim epicurista, o salon setecentista . É bem verdade, que essa montagem da lista, vem com outras, de anotações de tantas atribulações de profissão, família, contas a pagar e, de tantos compromissos que talvez, alguns, vão ficar sem cumprir, nessa jornada da vida. Certamente, serão lembrados e cobrados, mas na equação de resultados, a soma e o resto. Serão os resultados das escolhas e, a aposta na lista. Nessas escolhas, ou escolha, podem se colar um tempo e mais cuidado de elaboração de atividades, quem sabe, de , conversar sobre filosofia da vida. Todo começo de atividades de uma lista, certamente, é frágil. As primeiras volições, serão acesas e animadas, mas com paciência e persistência, declinarão. A lista de mudanças, leva a perda do sono pela madrugada, o surgimento de ideias encruadas, digressões espirais , becos e trilhas falsas. Alguma coisa, será criada com a lista, mas o resultado invariavelmente, poderá desapontar . Não é para desanimar, deve esperar o alvorecer. É bem verdade que, ao fim da lista, tem o implacável “dia seguinte”, que pode levar a tudo, se espalhar pelos cantos da memória, em fragmentos desconexos, insights duvidosos, estilhaços de brilho efêmero. Mas, o desafio será de manter o andamento do cumprimento de nossa lista, conferindo-a todos os dias , com o mínimo de coerência, organicidade e direção. O desafio será ainda, encontrar o ponto certo entre dois extremos indesejáveis, que às vezes a lista fará lembrar . Presente deve estar, as qualidades de uma boa lista , para boas conversas com os amigos, onde o destaque deverá ser, para a polidez, sem fingimento, a franqueza sem rispidez, a erudição sem pedantismo, o rigor sem aridez e, sobretudo, a disposição sincera de cooperar. Ouvir e ser ouvido numa verdadeira harmonia da história de cada um de nós na busca de aproximação, sem temor , com espancamentos dos preconceitos e da costumeira reserva mental.
Afinal, o que nos impede de elaborarmos nossa lista, principalmente dos amigos, de quem temos em estima, presentes ou ausentes. Essa realidade, vem ao longo do tempo se desenvolvendo de maneira mais presente no seio da sociedade da convivência. A propósito, acontecerá nos dias 08, 09 e 10 de Julho, em Caratinga, o 2º Encontro de Ex – Colegas do “Colégio Estadual José Augusto Ferreira“. Já confirmaram presença, uma lista de ex-colegas de turma, que deslocarão de diversas localidades, tais como: Juiz de Fora, Vila Velha, Vitória, Belo Horizonte, Lavras, Contagem, Alagoinhas , e também, alguns de Caratinga e região. Em breve também, haverá no espaço “Casarão das Artes”, um Encontro dos Amigos da Rua Princesa Isabel. A receita portanto, é de fazer uma lista, e reunir no Jardim de Academia, os velhos amigos. No mais, façamos uma lista não de amigos, mas também de nossos deveres em termos de amizade um para com o outro, pois, ao fazermos uma lista, nós mesmos somos chamados por nossa consciência fraterna a listarmos dentro de nós, nossos pensamentos, palavras e atitudes que devemos ter. A propósito: vamos buscar no texto de Clarice Lispector: “Um amigo me chamou pra cuidar da dor dele, guardei a minha no bolso. E fui.” Faça uma lista…