Durante este período a entidade se tornou referência no tratamento contra as drogas e acolhe pessoas de toda Minas Gerais
CARATINGA – Em 1989, o cineasta norte-americano Gus Van Sant lançou o filme “Drugstore Cowboy”, que falava de um grupo de viciados. Logo na primeira cena, o personagem Bob Hughes (interpretado por Matt Dillon) é transportado em uma ambulância. Então, Bob Hughes se apresenta: “Eu já fui um viciado e não pense que é fácil ser um viciado”. E essas palavras refletem o perfil das pessoas que são acolhidas pela Comunidade Terapêutica Mãe Admirável. São pessoas que perderam a autoestima e foram tomadas pelo vício. A Comunidade acabou se tornando a porta de entrada e referência na região de Caratinga para que essas pessoas se reintegrem à sociedade. “Ao longo desses anos temos tido a satisfação de ver as pessoas que passaram pelo tratamento tendo hoje sua vida normalizada. Eles souberam aproveitar essa oportunidade que tiveram”, comenta Aluísio Motta Palhares, um dos fundadores e também voluntário da Comunidade.
HISTÓRIA
Em 1997, cedendo ao apelo de várias pessoas vitimadas pelas drogas, Aluísio Motta Palhares iniciou um trabalho de apoio às famílias de usuários de álcool e outras drogas através do NAFTA (Núcleo de Apoio às Famílias de Toxicômanos e Alcoólatras). Em abril de 1999 foi constituída a Associação Mãe Admirável (AMA). “Em fevereiro de 2000, iniciou-se a construção da Comunidade Terapêutica, numa área privilegiada pelo verde e de temperatura amena. No dia 1º de agosto do mesmo ano recebemos os primeiros acolhidos para tratamento. A capacidade de atendimento era para doze pessoas, hoje atendemos 30 pessoas”, conta Aluísio Palhares.
E às 8h30 do próximo domingo (2 de agosto), uma missa em ação de graças será celebrada na igreja da paróquia São Judas Tadeu, no Bairro Limoeiro, para comemorar os 15 anos da Comunidade Terapêutica Mãe Admirável. “A sede da Comunidade está na área atendida pela paróquia de São Judas Tadeu, daí a escolha pelo lugar da missa. O padre Geziel José de Almeida celebra missas na comunidade todo terceiro sábado do mês. Convidamos a todos para participar deste momento de celebração”, avisa Aluísio Palhares.
INTERNAÇÃO
Ao longo desses 15 anos, a Comunidade Terapêutica, que atualmente é presidida por Vera Maria Borges, já acolheu quase mil pessoas. “Atendemos pessoas de todo o estado de Minas Gerais; o tratamento é gratuito e a internação é voluntária, independente do grau de dependência ou da substância que essa pessoa utiliza, ela será atendida pela Comunidade”, informa Palhares.
A Comunidade atende pessoas do sexo masculino e acima de 18 anos. Essa pessoa será atendida por uma equipe multidisciplinar que reúne psicólogo, médico, enfermeiro, assistente social, educador físico, nutricionista, e os monitores, que acompanham os acolhidos em seu dia a dia.
Aluísio Palhares explica que para obter uma vaga na Comunidade Terapêutica Mãe Admirável é preciso, “antes de tudo, admitir a dependência, querer ajuda e aceitar a programação proposta”. O interessado deverá entrar em contato com a Comunidade através do telefone (33) 3322.121. Aqueles que preferirem podem procurar o Centro de Atendimento, Orientação e Triagem (CAOT), situado na Praça Cesário Alvim, 254-B. Feita a inscrição, o interessado será convidado para uma entrevista, onde será feito o processo de triagem. “Será observada a realidade da pessoa, perceber o seu real interesse pelo tratamento e passar para ela uma relação de exames laboratoriais para que a partir desses exames já se inicie o tratamento. Esses exames são para perceber se a pessoa tem uma enfermidade que merece melhor atenção, pois ela vai passar a morar numa comunidade. Então nós observamos com muito detalhe a Resolução Normativa que nos direciona, que é a RDC 29/2011, também como todas as diretrizes da Vigilância Sanitária para que possamos fazer um atendimento adequado e oferecermos um tratamento de qualidade”, ressalta Aluísio Palhares.
Na Comunidade Terapêutica Mãe Admirável os acolhidos recebem tratamento baseado na trilogia: oração, disciplina e laborterapia onde acontece o processo de desintoxicação, reeducação e reinserção social. “Durante o período de sete meses retomam bons hábitos e, aos poucos, se conquista a alegria de viver e a esperança é novamente sedimentada”, frisa Aluísio Palhares.
Aluísio Palhares fala que durante estes 15 anos as instalações da Comunidade foram ampliadas e o tratamento melhorado. A Comunidade Terapêutica se mantém em virtude de um convênio com o governo do estado de Minas Gerais e pela ajuda de colaboradores. “Dependemos dos colaboradores porque o convênio do governo não cobre todas as despesas. Imagine uma área de 7 hectares, uma instalação, que além dos 30 acolhidos, tem a equipe técnica de trabalho. Então é uma despesa muito alta”, observa o fundador e voluntário.
PREVENÇÃO
Aluísio Palhares opina que os trabalhos de prevenção tem que serem feitos, evitando assim que o jovem tenha contato com as drogas. “O jornal publica todos os dias notícias ligadas ao tráfico de drogas e suas consequências. Mas ainda tem o álcool, que é a pior das drogas, pois é lícita. E as pessoas ainda batem no peito e dizem: ‘não mexo com droga, só bebo’. Mas o álcool é uma epidemia”, afirma Aluísio Palhares.
Aluísio faz ainda um comparativo dos atendimentos no decorrer desses quinze anos. “No ano 2000, a maioria dos acolhidos eram alcoólatras; em 2004 começaram a aparecer os usuários de crack. Esta é uma droga de alto poder e leva muito rápido ao fundo do poço. Os efeitos do crack são avassaladores na saúde do usuário. Esta é outra epidemia”, analisa Palhares.
Voltando a questão da prevenção, Aluísio Palhares conclama para que a sociedade se una neste trabalho. “Apelo para que as pessoas voltem os olhos para o interior das próprias casas, das famílias, para que possamos fazer em conjunto um trabalho preventivo. A Comunidade Terapêutica abre as portas para a sociedade organizada, instituições e escolas que nos visitam e ministramos palestras. Também vamos até essas unidades. Como fundador e voluntário, tenho compromisso com essa causa, peço que nos ajudem porque as exigências são muitas. A necessidade é maior ainda e essa vaga não deve faltar para quem precisa e busca reabilitação. Ficamos felizes quando alguém nos procura pedindo apoio. Embora existam as recaídas, os próprios médicos dizem que trata de uma das situações mais desafiadoras da medicina, muitos reconhecem que essas comunidades são os lugares aonde existe a esperança, aonde existe uma oportunidade. Felizmente temos bons testemunhos e boas histórias de pessoas que conseguiram essa nova vida e foram reinseridas na sociedade”, finaliza Aluísio Palhares, fundador e voluntário da Comunidade Terapêutica Mãe Admirável.