O ano em que as canetas emagrecedoras redefiniram o tratamento da obesidade

CARATINGA- O ano de 2025 entrou para a história da endocrinologia como um marco no tratamento da obesidade. As chamadas canetas emagrecedoras deixaram de ser apenas uma tendência para se consolidarem como aliadas importantes no cuidado de uma doença crônica que afeta milhões de pessoas. Mas, junto com os avanços científicos, surgiram dúvidas, usos inadequados e expectativas irreais. Para esclarecer o tema, o DIÁRIO conversou com a endocrinologista Lissandra Eduardo, que defende informação correta, indicação criteriosa e acompanhamento especializado.

“2025 foi um ano marco para as canetinhas emagrecedoras. Ainda existem muitas dúvidas, tanto de quem já usa quanto de quem tem vontade de usar. Nosso papel é levar informação correta e responsável”, afirma a médica.

Da diabetes ao tratamento da obesidade

As canetas emagrecedoras não surgiram originalmente com foco no emagrecimento. Segundo Lissandra, tudo começou em 2019, com a liraglutida, um análogo do hormônio GLP-1, criado para o tratamento do diabetes tipo 2.

“Os pacientes que usavam a liraglutida para diabetes começaram a perder peso, e isso despertou o interesse dos pesquisadores”, explica. A partir daí, surgiram versões com doses maiores, como o Saxenda, voltadas especificamente para o tratamento da obesidade, com perdas de peso mais expressivas.

Com o tempo, novas moléculas foram desenvolvidas. A semaglutida, popularizada pelo Ozempic e, posteriormente, pelo Wegovy, ampliou ainda mais os resultados. “O Wegovy trouxe concentrações maiores da mesma molécula, o que permitiu uma perda de peso mais significativa quando comparada às versões anteriores”, destaca.

Tirzepatida: nova geração e novos horizontes

Mais recentemente, uma nova medicação entrou em cena: a tirzepatida, conhecida comercialmente como Mounjaro. Diferente das anteriores, ela atua em dois hormônios — GLP-1 e GIP — ampliando o efeito no sistema nervoso central.

“Ela chegou para tirar a compulsão. Quem usa relata que a fome emocional simplesmente desaparece”, explica a endocrinologista. Os benefícios vão além da balança: estudos mostram melhora na esteatose hepática, redução do risco de fibrose, melhora da apneia do sono e impactos positivos na saúde cardiovascular.

Há ainda pesquisas avançadas que apontam efeitos sobre outros tipos de compulsão. “Os estudos estão caminhando para avaliar benefícios em compulsões por compras, jogos, álcool e outras dependências”, revela Lissandra.

Não é milagre — é tratamento

Apesar dos resultados expressivos, a médica reforça que as canetas não são soluções mágicas. “A obesidade não é uma questão estética, é uma doença crônica e não tem cura. Se não houver mudança de hábitos, o reganho de peso acontece”, alerta.

Ela destaca que o medicamento deve ser encarado como um instrumento para viabilizar mudanças duradouras. “Esse período com o remédio serve para mudar o mindset, criar hábitos, ajustar alimentação e incluir atividade física. Caso contrário, o cérebro sempre tenta voltar ao ponto inicial”, explica.

Estudos recentes, segundo Lissandra, indicam que o uso prolongado em doses menores tende a ser mais eficaz do que estratégias agressivas de curto prazo. “Perder rápido pode até acontecer, mas sustentar é o grande desafio”.

Para quem é — e para quem não é

Outro ponto fundamental é a individualização do tratamento. “Não é qualquer pessoa que quer emagrecer que pode usar essas medicações”, afirma. Gestantes não podem utilizar, idosos exigem cautela por risco de perda muscular, e adolescentes só podem usar em situações específicas.

“Existe risco de perda de massa muscular, queda de energia e náuseas. Por isso, atividade física resistida e, às vezes, suplementação são indispensáveis”, explica. O acompanhamento médico permite ajustar doses, prevenir efeitos colaterais e definir metas realistas.

Prescrição obrigatória e riscos do uso clandestino

O uso indiscriminado levou à escassez de medicamentos e à necessidade de maior controle. Hoje, a prescrição é obrigatória e controlada. “Não se compra mais legalmente sem receita especial”, ressalta Lissandra.

Ela faz um alerta importante sobre produtos clandestinos. “Quando a esmola é demais, o santo desconfia. Se a medicação é cara e aparece muito barata, desconfie. Comprar fora do mercado regular coloca a saúde em risco”.

Um novo olhar sobre a obesidade

Para a endocrinologista, as novas diretrizes, como a mais recente da Organização Mundial da Saúde (OMS) sobre o uso das canetas emagrecedoras para tratamento da obesidade que afeta mais de 1 bilhão pessoas em todo o mundo, representam uma mudança de paradigma. “Hoje entendemos que só dieta e exercício não são suficientes para todos. O remédio é um aliado importante e deve entrar, muitas vezes, já no início do tratamento”, afirma.

Mais do que emagrecer, o objetivo é promover saúde, bem-estar e qualidade de vida. “Quando o paciente vê resultado, ele se motiva. Mas precisa entender que o tratamento é um processo, não um atalho”, conclui.

As canetas emagrecedoras vieram para ficar. Mas, como reforça a especialista, seu verdadeiro potencial só se realiza quando ciência, acompanhamento médico e mudança de hábitos caminham juntos.

Endocrinologista Lissandra reforça que apesar dos resultados expressivos, canetas emagrecedoras não são soluções mágicas

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