CARATINGA – Em 25 anos, muitas coisas podem mudar: os costumes, a moda, a tecnologia, a economia, a política, os lugares. Caratinga mudou nesse período e sua infraestrutura acompanhou essas mudanças. Mais ruas, mais bairros, mais veículos circulando, mais comércios em funcionamento, novas prestações de serviços, novos espaços de lazer.
“Quando se fala em progresso, o setor imobiliário é emblemático pela característica inerente de ser a parte mais tangível desse progresso. A primeira percepção de crescimento, se dá exatamente pelo aspecto físico. Novas ruas e bairros, novos prédios (comerciais e residenciais), novos loteamentos, condomínios, etc.”, explica Geraldo Carvalho, proprietário da Carvalho Negócios Imobiliários, que já atua no ramo desde 1987.
O crescimento imobiliário em Caratinga acompanhou o aumento da demanda por moradias, com a vinda de centenas de estudantes para a cidade, durante o boom que aconteceu no setor de Ensino Superior, de 1995 para cá. “O crescimento das unidades educacionais, que fez de Caratinga um polo regional de ensino superior, gerou uma alavancagem significativa, originando grande demanda no setor imobiliário neste período”, destaca o empresário.
Além deste fator, Geraldo Rodrigues destaca que houve um período com políticas favoráveis para o setor imobiliário. “O período de crédito facilitado, numa economia crescente e de inflação controlada, entre 2003 e 2013, foi a fase de ouro para o negócio imobiliário em todo o país. A construção de vários prédios e condomínios residenciais fortaleceu o setor, gerando renda e empregos. A perspectiva de valorização levou grande parte da sociedade a optar pelo imóvel como forma de investimento, o que foi reforçado pelo surgimento de novas empresas caratinguenses com ramificações nacionais, como por exemplo o grupo DPC”. Além disso, Geraldo ressalta que o crescimento do setor de serviços impulsionou a criação de condomínios e prédios residenciais com instalações de melhor conceito.
Para o administrador Eugênio Maria Gomes, diretor da Unec TV, essa mudança na infraestrutura da cidade foi muito significativa neste período. “Eu acompanhei bem o desenvolvimento de Caratinga nesses 25 anos, inclusive o nascimento do jornal Diário de Caratinga. A mudança mais significativa que pudemos perceber no município nesse período foi a territorial. O município perdeu uma extensão territorial grande com as emancipações e também houve uma mudança no mapa do município”.
E não é só a mudança territorial que ele destaca. “Além disso, tivemos uma redução da população e passamos a ter a predominância da população urbana, já que perdemos vários distritos, que se tornaram municípios. Tem também a questão da quantidade de prédios. Em 1995 tínhamos poucos prédios altos, hoje a cidade está com muitos edifícios de vários andares”, comenta Eugênio Gomes.
A expansão imobiliária afetou até mesmo o comércio. Se em 1995 praticamente todas as lojas da cidade estavam na Avenida Olegário Maciel e outras próximas, hoje temos comércios em vários pontos da cidade.
Há 30 anos atuando no comércio de Caratinga, a empresária Sandra Corrêa Cortes, proprietária da Casa Auxiliadora materiais para construção, ressalta que Caratinga proporcionou, nos últimos 25 anos, condições favoráveis para o crescimento do comércio. Prova disso é a migração de comércios do centro da cidade para lugares mais periféricos. “Caratinga tem visão e amplitude para isso, em termos de mercado, imóveis e oportunidades. Nós ficamos muito satisfeitos de termos vindo para a BR, pois temos um espaço que nos proporciona mais conforto no atendimento ao nosso cliente”.
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ENTREVISTA
Análise histórica
Professor e historiador Nelson Sena mostra seu olhar sobre os últimos 25 anos
Nos últimos 25 anos muitas mudanças aconteceram no mundo e na sociedade. Ao seu ver, como essas mudanças afetaram Caratinga?
Caratinga é um reflexo do acontece no Brasil e no mundo. A revolução tecnológica dos últimos anos é um exemplo de como viramos uma imensa aldeia global. A meu ver, as mudanças aqui ocorridas, tanto no campo da política, economia e costumes, devem-se mais às mudanças gerais, que especificamente de nossa cidade.
Um exemplo disso foram as eleições municipais, que tiveram candidatos vencedores os mais alinhados com os mandatários estaduais e até na presidência. Tivemos um prefeito eleito por um partido de esquerda, algo impensável 25 anos atrás.
No âmbito social, questões que afloraram em nível nacional, como a luta contra o machismo, a homofobia, o racismo, repercutiram em nossa cidade, com a criação dos coletivos, notadamente o coletivo Afro, que vem fazendo um grande trabalho.
Na questão econômica, também observamos esta tendência nacional: a diversificação da economia. O café, embora ainda de grande importância, deixou de ser, nos últimos 25 anos, fator preponderante, tendo o setor de serviços, educacionais e etc. adquirido grande importância. O fim da inflação exorbitante conseguida há 25 anos, permitiu que o Brasil e Caratinga entrassem enfim na chamada “Nova Ordem Mundial”, com o que isso tem de bom e ruim.
Enfim, também sofremos com os problemas que a nação vem sofrendo: desemprego e a criação de empregos na área informal, como dos aplicativos; e a crise na área da saúde, com o hospital ora fechado ora aberto, os profissionais sem receber, população sem atendimento.
Quais as transformações vividas por Caratinga, nos últimos 25 anos, que você destaca? Você acha que foram 25 anos com mais avanços positivos? Ou tivemos retrocessos?
São inúmeras as mudanças, como algumas citadas acima. A economia diversificada, cursos superiores das mais variadas áreas, opções de lazer que nem toda cidade média possui.
Especialmente na área política, vários fatores podem ser citados, tais como o declínio do coronelismo político, nas ultimas quatro eleições venceram candidatos relativamente novatos na política caratinguense. A diversidade política hoje é enorme, há alternância de poder, e isso é muito bom para a democracia. Durante grande parte de sua história, Caratinga foi governada por dois grupos políticos que se alternavam no poder, tais como, bacurau e caranguejo no início da história, PDS e UDN, embora a UDN nunca tenha ganhado, ARENA 1 e 2, etc.
Gostaria de destacar, especificamente para Caratinga, mas também como resultado de políticas nacionais, o avanço e a organização da sociedade civil. Os conselhos municipais estão tendo grandes batalhas e grandes vitórias. Nos últimos anos, tivemos, por exemplo, uma construção em terreno público sendo desautorizada pela justiça e o Município condenado a demoli-la; a reconstrução do Cine Brasil, cujo prédio já havia sido tombado pelo conselho e foi derrubado pelo dono. Anos atrás seria impensável que a justiça desse ganho contra empresas, a igreja Católica, a prefeitura e a câmara.
Quanto aos pontos negativos, são os mesmos que assolam o país, tais como a perda de direitos trabalhistas, aumento do trabalho informal, a educação não ser prioridade do governo, redução dos programas de bolsa na área educacional.
Na área da Educação, principalmente do Ensino Superior, esses anos foram importantes para Caratinga. Como você vê este processo?
De novo, temos a influência do que ocorre no país: hoje temos uma diversidade enorme de cursos, em todas as áreas, sendo que o estudante não precisa mais sair da cidade para cursá-los. Temos o aumento dos cursos a distância, tendência nacional. Temos a implementação de uma unidade federal em nossa cidade. Enfim vários avanços que devem ser comemorados.
Na questão territorial também tivemos muitos avanços. Mais bairros, mais imóveis… Comente esta transformação vivida pelo município.
Novamente Caratinga segue a tendência nacional e não poderia ser diferente. A expansão urbana é característica de todas as cidades médias estudadas. Apesar da falta de um planejamento urbano, pois o Plano Diretor elaborado anos atrás, raramente é seguido, esta expansão mostra o crescimento populacional e econômico. Como acontece na maioria das cidades médias, observamos também em Caratinga, inúmeras construções inacabadas, resultado de uma política que, após anos fomentando a construção civil, foi abandonada.
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CURIOSIDADES
Veículos
Segundo dados do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), em 1995, Caratinga possuía 8.477 veículos. Em 2020, são 43.829 veículos registrados no município.
O carro mais popular de 1995, considerado o carro do ano pela Revista Autoesporte, era o Corsa. Atualmente, este modelo da Chevrolet já está fora de linha. E o carro do ano 2020, eleito pela equipe de especialistas da revista, é o Corolla, da Toyota.
Comércio
Em 1995 a Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Caratinga possuía 118 associados. Em 2020 já são 516. Só no setor de farmácia, o salto foi de 8 para 22, no mesmo período.
Você sabia?
Em 1995 o salário mínimo era de R$ 100,00 (LEI Nº 9.032, DE 28 DE ABRIL DE 1995). Este ano, o valor do mínimo é de R$ 1.045,00.