Entendemos por cidade um aglomerado de pessoas que vivem em uma área geograficamente delimitada. Nessa área, as pessoas transformam os recursos naturais em meios que favoreçam uma busca por melhores formas de viver a vida, assim, ruas são abertas, casas são construídas, prédios buscam os céus, surgem os comércios, as indústrias; o solo é recoberto por novas plantações e paisagismos, enfim, com a perene formação da cidade, inaugura-se uma dinâmica sem fim, mudando assim, constantemente, a paisagem.
E com Caratinga não foi diferente, ao longo dos seus 175 anos, muita história foi construída/escrita pelos seus habitantes, muitas coisas aconteceram, que fizeram com que, não só, o número da sua população aumentasse, mas também novos espaços, de seu território fossem ocupados e transformados.
Nesse contexto, nas últimas décadas, estamos observando o desenvolvimento da nossa cidade, ocorrendo de forma mais contundente, rumo ao norte, que corresponde ao sentido Bairro das Graças.
Lembro dos meus tempos de adolescência, quando frequentava, praticamente quase todos os domingos, o Córregos do Campinhos, sentido à vizinha cidade de Vargem Alegre. Na época era perceptível quando saímos da região central de Caratinga, e depois de um tempo passávamos pelo Bairro Zacarias e pouco depois pelo Bairro das Graças, pois, os respectivos aglomerados não se comunicavam, levando em consideração construções e a própria iluminação pública. A sensação que se tinha ao trafegar pelo trecho era uma mistura de ermo como algo abandonado. Nessa época, não existia a Avenida Dário Grossi.
Mas, a dinâmica urbana não para, e atualmente o que vemos é um cenário totalmente diferente, praticamente, estamos assistindo, dentro das devidas proporções, um processo de “conurbação interna”. Pois os bairros, antes afastados e divididos, agora se interligam e se unificam ao “corpo” da cidade.
Para ilustrar tal situação, passando pela rodovia, que margeia o Bairro Esplanada, até chegarmos ao Parque de Exposição, localizado no Bairro das Graças, é notável que o espaço está sendo tomado por casas, estabelecimentos comerciais e com iluminação pública, que deixa a paisagem noturna mais bonita e mostra a pujança da cidade para esse setor.
Mas percebo, que ainda falta um olhar mais humanizado para o desenvolvimento em questão, pois na mesma proporção é perceptível a falta de áreas destinadas ao interesse público, que se manifesta através de ambientes de lazer, podendo ser praças, parques, espaços de esportes, afinal, precisamos também criar espaços de práticas de convivências, onde seja possível caminhar, correr, praticar algum tipo de esporte que necessite de um espaço apropriado, um momento de piquenique em família, ou até mesmo, um local para sentar, conversar ou ler um bom livro. Pois isso, faz parte do processo de civilidade.
Avançar é preciso! A cidade é um ambiente de residência, de trabalho, de transformação, mas é preciso que seja na mesma medida um espaço de harmonia, de possibilidades, de encontro com a qualidade de vida. Que Caratinga encontre seu equilíbrio, e que no seu avanço haja espaço para todos. Parabéns, Caratinga pelos seus 175 anos!
Walber Gonçalves de Souza é professor e escritor.