Ato simbólico serve de exemplo para gestores de saúde que não pagam suas contas por pacientes enviados a Caratinga
SÃO DOMINGOS DAS DORES – Corredores cheios. Pacientes de várias regiões à espera de atendimento. Uma realidade que faz parte da rotina do Hospital Nossa Senhora Auxiliadora (HNSA), cuja estimativa de atendimento é de duzentas pessoas por dia só no Pronto Atendimento Municipal (PAM), que é por onde se inicia a triagem via Sistema Único de Saúde (SUS) para encaminhamentos à unidade hospitalar. Um número que impressiona, mas o que impressiona também é a falta de comprometimento dos municípios dos arredores que utilizam os serviços de saúde de Caratinga como centro de referência, mas não pagam a conta dos gastos dos seus pacientes de origem. As dívidas com os municípios inadimplentes já ultrapassam o valor de R$ 1 milhão. Infelizmente, em algumas reuniões em que secretários municipais que utilizam os serviços de saúde em Caratinga deveriam comparecer, o número de presenças é sempre aquém do esperado.
Bem diferente desta realidade de inadimplência, o município de São Domingos das Dores anda em dia com suas contas, atuais e passadas, e é justamente onde se iniciou uma ação voluntária que chama a atenção: uma escola inteira se mobilizou voluntariamente para ajudar o hospital, principalmente no que se refere às finanças.
Uma ação individual, que se transformou em um ato simbólico, de uma aluna que encontra um dinheiro no chão do pátio, na saída da escola, decide, então, achar o dono para entregá-lo, motivando toda uma comunidade em prol de uma caminhada que pode ajudar a salvar o hospital.
Cerca de noventa dias atrás, em uma manhã de quarta-feira como outra qualquer, dia de aula normal, a aluna Gabriele Gomes Soares, encontra R$ 50,00 perto de uma moto de uma professora. Conversando com outras duas amigas, Áurea Gonçalves Araújo e Milena de Fátima Fernandes, elas não titubeiam e decidem entregar o dinheiro para a direção da escola. Conhecido popularmente como Viola, da direção, é quem recebe o dinheiro.
“Minha mãe me ensinou que a gente não deve ficar com o que não nos pertence. Mesmo que a gente não saiba quem seja o dono, é preciso procurar saber porque pode fazer falta para a pessoa que perdeu”, respondeu de bate e pronto a aluna Gabriele quando questionada sobre o porquê de ter decidido entregar o dinheiro achado para a direção da escola em que estuda.
A atitude, aliada a uma professora, que acompanhando o pai em um momento de doença observou de perto as dificuldades do hospital, motivou a criação do Projeto Solidário na Escola Municipal Barão do Rio Branco, zona rural de São Domingos das Dores. O projeto envolveu toda a escola em uma ação visando à arrecadação de fundos para ajudar o HNSA. A entrega das arrecadações aconteceu na quarta-feira, 10, em uma cerimônia na própria escola.
“Quando acompanhei meu pai em um atendimento no hospital vi que lá até maca estava difícil. Ele precisou ficar assentado em uma cadeira tomando soro. Quando a Gabriele tomou a iniciativa de devolver um dinheiro que achou, mesmo que achado não seja roubado, e sabendo das condições dos nossos alunos e que 50 reais para eles é um valor significativo, ela logo de cara decidiu procurar o dono, então tive a ideia de envolver os alunos em uma campanha que reunisse toda a escola e toda a comunidade”, conta a professora Angélica de Souza Freitas.
O evento na escola reuniu professores, alunos, os representantes da administração do hospital, professor Antônio Fonseca da Silva – representando a Fundação Educacional de Caratinga (Funec), co-gestora – e padre José Antônio, representante da Cúria Diocesana -, e também a secretária municipal de Saúde de São Domingos das Dores, Suellen Pereira de Souza, que elogiou a nova administração hospitalar desde que a Fundação Educacional de Caratinga assumiu a co-gestão do HNSA.
“A realidade no hospital era cruel, mas desde que a Funec assumiu a co-gestão percebemos que o acolhimento pediátrico e dos idosos que chegam ao hospital mudou positivamente. Eu, e outros secretários municipais da Microrregião de Caratinga, compactuamos do mesmo pensamento”, opinou a secretária de saúde.
Ao todo, foram arrecadados R$ 1.611.35 com o projeto desenvolvido pela escola, só que mais do que o dinheiro, é o ato que mostra como a força advém da união e da consciência de que juntas as pessoas podem mais.
O hospital atende toda a região, mas parece que nem toda a região tem essa consciência. Dos treze municípios que formam a Microrregião de Caratinga, apenas três andam em dia, sem pendências atuais e passadas, com o hospital. São Domingos das Dores é um deles, ao lado de Piedade de Caratinga e Caratinga. Que a atitude das três meninas da Escola Municipal Barão do Rio Branco possam sensibilizar os outros gestores de saúde da região. Na escola as meninas já são motivo de exemplo.
“São o nosso orgulho, exemplos de solidariedade e caráter”, conclui a professora Angélica.

A secretária municipal de Saúde de São Domingos das Dores, supervisora pedagógica, professora idealizadora do projeto e os representantes da administração do HNSA