Em seu tão aguardado livro, o jornalista Humberto Luiz Salustiano Costa nos mostra mundo político, social e econômico de Caratinga nas décadas de 70 e 80
CARATINGA – A espera chegou ao fim. O que há muito tempo era pedido, estará à disposição no próximo dia 20, quando o jornalista Humberto Luiz Salustiano Costa irá lançar o livro ‘A Verdade dos Fatos’. Segundo o próprio jornalista, a obra mostra mundo político, social e econômico de Caratinga nas décadas de 70 e 80.
Humberto Luiz é um dos fundadores do ‘O Jornal de Caratinga’, que circulou ininterruptamente por mais de quatro décadas. Esse livro é baseado nessa experiência. Em uma entrevista ao DIÁRIO, publicada em 21 de março de 2017, ele ressaltou sua predileção pelo jornal impresso. “O jornal impresso será sempre “o jornal”, o grande veículo. Ele fala mais de perto e até com um certo glamour no sentimento da gente, tendo o poder de se multiplicar nas mãos daqueles que o compram, que o assinam ou que o pedem emprestado. Há os que afirmam que o jornal impresso, com o advento da internet, tem os seus dias contados. No entanto, se não morreu até hoje, não morrerá jamais! Esse é o meu ponto de vista, já que sempre tive uma predileção especial pela mídia impressa, não importando o que dizem os internautas de plantão a respeito dessa minha predileção contumaz”.
Ainda sobre o lançamento desse tão aguardado livro, ele será às 19h30 do sábado (20 de agosto) no Auditório Professor Celso Simões Caldeira, avenida Moacyr de Mattos, 49, centro, Caratinga. O preço do livro será dois quilos de produtos não perecíveis, que serão distribuídos para entidades beneficentes. O evento contará com participação especial da Corporação Musical Santa Cecília.
E para quem quer exercer esse ofício de jornalista, Seu Humberto dá uma preciosa dica: “Meu conselho a quem queira abraçar, também, o jornalismo é que, acima de tudo, tenha sempre o compromisso com A VERDADE DOS FATOS”.
Eis a entrevista, uma ótima leitura.
Como surgiu a ideia do livro?
Refleti muito antes de tomar a decisão da publicação de um livro. Velhos amigos, amigos velhos do tempo do JORNAL DE CARATINGA, do qual fui redator-chefe, sempre insistiram para que eu tomasse essa decisão. Foi a partir do incentivo dos antigos leitores do JC que me vi encorajado a tomar essa atitude, que agora se concretiza com A VERDADE DOS FATOS.
Depois de tantos pedidos, por que o senhor decidiu lançar o livro somente agora?
Porque nessa fase crepuscular de minha existência – lá se vão 85 anos de idade – achei que deveria deixar para a posteridade esse tipo de legado, do qual eu muito me ufano e me orgulho. E me dou por satisfeito pela efetivação desse feito literário modesto, é bem verdade, mas que tem muito da gratidão que devo a Caratinga e à sua ordeira e laboriosa gente.
O que o leitor vai encontrar em A VERDADE DOS FATOS?
O mundo político, social e econômico de Caratinga nas décadas de 70 e 80 está retratado em A VERDADE DOS FATOS. Trata-se de uma coletânea de artigos selecionados do JORNAL DE CARATINGA, que durante 45 anos circulou na cidade que lhe emprestava o nome.
O senhor que tem vasta experiência jornalística, são muitos fatos que acompanhou. Qual o critério usado no momento de selecionar o que estaria em seu livro?
Os textos selecionados destacam uma Caratinga vibrante, com seus problemas, suas lutas e suas conquistas. São histórias, muitas vezes, surpreendentes e pitorescas, mas sempre verdadeiras.
Agora vamos falar um pouco de sua carreira. O senhor escolheu o jornalismo ou o jornalismo o escolheu?
Foi a partir do meu envolvimento com o mundo da política, elegendo-me vereador, ainda muito jovem, na cidade de Teófilo Otoni, que me senti interessado pelo difícil ofício do jornalismo, tendo iniciado a minha trajetória inicialmente no rádio, como locutor e produtor de programas musicais e jornalísticos. Dali para a mídia impressa foi um pulo, com a minha militância no jornalismo se concretizando de fato com o convite para fundar e dirigir um jornal em Caratinga. Foi um dos grandes desafios que tive de enfrentar, e hoje, modéstia à parte, me dou por realizado naquilo que me propus levar a efeito como profissional da imprensa, em que pese a minha formação acadêmica estar ligada às Ciências Sociais, que em verdade tem muito a ver com a profissão que escolhi.
Analisando pelo lado profissional, quais matérias feitas pelo senhor que mais lhe marcaram?
Todas aquelas em que procurei pautar como sendo de legítima defesa dos altos interesses da comunidade, colocando-me sempre ao lado do bem e da verdade, e propugnando, de modo resoluto, pelas justas e nobres causas, com coragem e determinação, jamais me curvando diante das dificuldades próprias do ofício a que desde cedo me entreguei de corpo e alma.
Em Caratinga o senhor fez parte de um grupo que alavancou o jornalismo no interior de Minas. Como era trabalhar com essas pessoas e qual o legado deixado por esse grupo?
Fui convidado para fazer imprensa escrita, em Caratinga, lá pelos idos de 1968. Na época a cidade estava órfã da mídia impressa. Só havia a Rádio Caratinga, uma vez que o jornal até então existente, de nome “Impacto”, tinha encerrado as suas atividades devido a desavenças entre os seus sócios. Foi nesse clima e nessa circunstância que assumi a responsabilidade de ser um dos cuidadores da fundação do O JORNAL DE CARATINGA, de circulação semanal. Consegui, para tanto, reunir em torno daquele projeto uma equipe das mais qualificadas, integrada por valorosos escribas cujos nomes até hoje são lembrados e enaltecidos pelo bom trabalho que sempre procuraram realizar em função de uma causa nobre e edificante no jornalismo caratinguense. Vale aqui o registro de uma homenagem póstuma a Luiz Santos, Joaquim Felício, Tião de Lima, Eurico Gade, George Gade, Fernando França e Flávio Anselmo, dentre outros, com os quais tive o privilégio e a felicidade de conviver através do trabalho. Deles recolho um legado dos mais preciosos.
Quando o senhor iniciou no jornalismo já existiam “fake news”? Ou seja, como se proliferaram as notícias falsas em décadas passadas?
Notícias falsas são coisas dos tempos atuais, com o advento das redes sociais. Na imprensa do passado havia, mesmo, os chamados debates em torno de assuntos polêmicos, travados entre jornais de posições políticas diametralmente opostas. Uma notícia contraditória dava ensejo ao instrumento de leis do direito de resposta. Hoje, pelo contrário, a coisa se generalizou de tal modo que dá para confundir a cabeça da gente sobre o que é verdadeiro ou falso em relação a notícias que ganham cada vez mais espaço nas chamadas redes sociais, cuja velocidade da propagação chega a ser das mais espantosas.
Como lidar com A VERDADE DOS FATOS em tempos de internet?
Não é nada fácil, a coisa chega a ser das mais preocupantes, fazendo vítimas a todo instante, acerca de notícias falsas no mundo da política, principalmente. Há casos, e são muitos, até de questões envolvendo situações familiares de tristes consequências. Enfim… É a modernidade do ponto de vista inescrupuloso que pode nos atingir a todos em razão das maledicências.
Sem nostalgia, o que era maravilhoso e que precisaria ser resgatado pelo jornalismo atual?
As boas notícias. Sem maiores comentários.
O que está fragilizando o jornalismo impresso? As inovações vertiginosas das tecnologias de comunicação ou a incapacidade desse meio de informação de se preparar para sua inserção em um novo tempo?
Basicamente, com o avanço tecnológico vertiginoso, não está sendo possível ao jornalismo impresso acompanhar na mesma velocidade, por questões óbvias. Não tanto pela incapacidade de se inserir no novo tempo, como acreditam alguns estudiosos do assunto. O próprio, nosso querido Diário, tem buscado novas opções criando com indiscutível sucesso, com seu DIÁRIO CAST. Também o Rádio e a TV vêm sofrendo as consequências dessa nova era.
Qual o maior aprendizado que o jornalismo lhe proporcionou?
Tudo que tenho de mais importante nessa minha vida de muitos anos, devo, primordialmente, à minha trajetória no jornalismo. Do ponto de vista de aprendizado sempre foi de uma importância transcendental, como profissional da imprensa, tanto na impressa quanto no rádio e na televisão, os quais tenho convivido ao longo de vários anos de uma experiência das mais edificantes.
Para finalizar, qual conselho daria para quem quer ingressar no jornalismo?
Jornalismo para mim sempre foi, antes de uma profissão, uma missão pelo fim a que honestamente se propõe. Não é lucrativa, diga-se de passagem, mas vale a pena exercê-la, principalmente estando vocacionado para tanto. Meu conselho a quem queira abraçar, também, o jornalismo é que, acima de tudo, tenha sempre o compromisso com A VERDADE DOS FATOS.