Margareth Maciel de Almeida Santos
Advogada e doutoranda em Sociologia Política
Pesquisadora CNPQ.
Passei uma semana em Brasília, onde minha filha está residindo e confesso que achei a nossa capital maravilhosa! Muitas árvores, muito verde enfeitam o Distrito Federal e nos dá a impressão de estarmos respirando um ar sem poluição.
O que me chamou atenção assim que eu cheguei ao prédio onde minha filha reside, foi uma tabela de racionamento de água anexada em um quadro, destacando o dia em que aquela região ficaria sem o fornecimento do recurso. Sem entender nada, procurei me informar do que se tratava aquele corte.
O segurança me informou que o governo do Distrito Federal no ano de 2017, iniciou um rodízio que altera o corte de água por um dia em cada seis, em todas as regiões, Asa Sul, norte, sudoeste e por aí vai. A CAESB (Campanha de Saneamento Ambiental do Distrito Federal, reduziu a pressão nas redes de abastecimento de água, com o objetivo de controlar a crise hidráulica, reduziu o consumo de água dos reservatórios que permaneciam com nível de água muito baixo, e consequentemente poder melhorar às condições de abastecimento.
Segundo pesquisas, Maurício Ludurice, presidente da CAESB, explicou que foi a primeira vez, desde a transferência da capital do Rio de Janeiro em 1960, que a população se viu às voltas de uma campanha de racionamento. Esclareceu ainda que “em torno de 980 litros de água por segundo foram poupados ao longo do ano passado e que o governo investiu em mais de R$ 133,6 milhões em obras para fortalecer o sistema de distribuição e reduzir perdas, além de não saber determinar a data final da referida campanha”.
Insatisfeita ainda com as informações obtidas, assim que eu fui à lavanderia levar algumas roupas, perguntei ao atendente o que ele pensava sobre o racionamento de água. Ele me disse que “no princípio trouxe muita insatisfação, pois complicou o trabalho para muitos comerciantes”, inclusive alegou que o “racionamento não é culpa da população, mas dos governantes que não tem um planejamento que evite o corte”. Por outro lado, disse que o “comportamento da população em relação ao uso racional dos recursos hídricos mudou”. Todos estavam cooperando diante do resultado positivo da referida campanha e que exatamente naquele dia em que eu fui levar a roupa, a água tinha sido cortada e que diante disso, iria me entregar a roupa, somente dois dias após eu a ter deixado, em sua lavanderia.
Ainda me explicou que a CAESB recomendou aos moradores das regiões atingidas pelo racionamento que não estocassem água, por acreditarem que o volume que estavam nas caixas residenciais era o suficiente. Diante dessa informação, logo que eu retornei para o apartamento, constatei que era verdade, pois havia água para o consumo.
Como eu disse acima, a Campanha iniciou em 2017, e as pesquisas revelam que “os consumidores individuais motivados por campanhas de esclarecimento ou pelo temor de que a estiagem se prolongasse, reduziram seu consumo. Os dados apresentados foram que, ocorreu uma redução em cerca de 16%, se comparado ao mesmo período de 2016 à 2017.”
Especialistas falam do “uso inteligente dos recursos hídricos”, explicando que “a água disponível para o uso humano no Distrito Federal é 20 vezes menor do que a média brasileira. São apenas 1338 metros cúbicos por ano para cada habitante, o que pode comprometer o desenvolvimento social e econômico da região.” Eles propuseram o reaproveitamento, alegando “que cerca de 40% dos recursos hídricos consumidos em residências geram a chamada água cinza. Esse termo faz referências a água utilizada em banheiros, chuveiros, máquinas de lavar. Com o reaproveitamento essa água pode ser reaproveitada para irrigar jardins, descargas de vasos sanitários” explicam.
O Brasil possui 20 % do total da água existente no mundo. No entanto, a degradação das florestas e do solo, a falta de chuva, a poluição dos rios com o esgoto e os resíduos químicos, falta de obras para captação de água, dentre outras, explicam a escassez de água potável. Sabemos que o mundo passa por sérios problemas hídricos. A principal consequência é a do homem. A falta de educação para o consumo, ligações clandestinas, ausência de investimento em infraestrutura devem ser levadas à sério, explicando para a criança, desde cedo, que sua colaboração é indispensável para recuperar níveis dos reservatórios.
Diante do exposto, não só os usuários de Brasília devem ter a percepção sobre os impactos do racionamento de água. É preciso dizer que “todos” devem se preocupar com esse bem precioso, já que “todos os extratos da população” podem ser afetados pela falta de água. Ainda, levar em conta, que a conscientização permite que medidas possam ser tomadas afim de que ocorra uma armazenagem de água e a produção de uma economia do recurso.
A população de renda mais alta deve ser a mais cobrada, seu nível cultural influencia em seu comportamento. Não podemos nos esquecer de que a escassez do recurso ocorre de maneira desigual, devido que essa classe possa armazenar água em reservatórios residenciais e consumir água mineral. A população de menor renda armazena água em potes e panelas.
Se o racionamento que é feito em Brasília for copiado por muitas capitais, municípios, mudaremos nossos hábitos, reduziremos o consumo, e contribuiremos para que a falta de água não seja uma ameaça!
Paz e Bem!