Walber Gonçalves de Souza
O Patrimônio Cultural compreende manifestações populares, tanto de ordem material, em que se incluem a construção de edificações, tais como: igrejas, prédios públicos, residências, monumentos, bem como os diversos tipos de utensílios e objetos desenvolvidos pelos grupos humanos ao longo dos séculos. Manifestações com características de cunho imaterial, como danças, festas, expressões orais, tradições, criações artesanais e tantas outras atividades vividas pela humanidade.
Em especial, o Patrimônio Imaterial, de acordo com o IEPHA (Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais), “é entendido como as práticas, representações, expressões, conhecimentos e técnicas (junto com os instrumentos, objetos, artefatos e lugares culturais que lhes são associados), que as comunidades, os grupos e, em alguns casos, os indivíduos reconhecem como parte integrante de seu patrimônio cultural”.
E tratar de cultura é tratar da identidade das pessoas. Portanto, algo de suma importância, não só de forma localizada, mas podemos afirmar que é de relevância mundial devido à sua importância na formação de uma identidade cultural e o fortalecimento do sentimento de pertença dos povos em suas respectivas comunidades, no espaço vivido. A UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e Cultura), através de uma das suas convenções, estabeleceu que “o Patrimônio Cultural Imaterial ou Intangível compreende as expressões de vida e tradições que comunidades, grupos e indivíduos em todas as partes do mundo recebem de seus ancestrais e passam conhecimentos a seus descendentes”.
Em Caratinga podemos destacar a existência tanto do Patrimônio Cultural Material, quanto imaterial. De acordo com o Conselho Municipal do Patrimônio Histórico e Cultural de Caratinga, são considerados como Patrimônio Cultural Material os seguintes locais: a Estação Ferroviária, o Casarão do Deputado Agenor Ludgero Alves, conhecido como Casarão das Artes; a Igrejinha de São João, a Praça Cesário Alvim, a Catedral São João Batista, o Palácio do Bispo, o Cine Brasil a Escola Estadual Princesa Isabel, o Coreto Ronaldinho Calazans, a Pedra Itaúna, o antigo Prédio do Fórum, a Cachoeira Bom Será, e o Vitral das Carmelitas, que está sob a proteção e cuidados do Instituto Hélio Amaral. Todos estes locais foram tombados como Patrimônio Histórico e Cultural pertencente aos munícipes e que devem ser deixados como herança para as gerações futuras, a fim de conhecer suas próprias raízes.
Além do Patrimônio Material podemos constatar em Caratinga um rico e vasto acervo cultural imaterial. Dentre eles destacamos, a Banda Musical Santa Cecília e o Coral São João Batista, ambos tombados como Patrimônio Cultural de Caratinga.
Mas existem outras manifestações culturais que merecem nossa atenção, pois são manifestações que durante anos estão presentes na vida cotidiana das pessoas, transformando-se, portanto, em uma manifestação cultural.
Podemos citar como exemplo destas manifestações culturais:
– O Cruzeiro que está localizado na estrada em direção ao distrito de Dom Modesto. Dentre as tradições religiosas, promovidas pela Igreja Católica, fora dos seus templos, as procissões se destacam, e todas elas, de alguma forma, representam, simbolicamente, alguma intenção religiosa. Nesse sentido, todos os anos centenas de pessoas se deslocam de algum ponto da cidade em direção ao Cruzeiro, a fim de pedir alguma graça ou pagar alguma promessa.
-Outro ponto que merece nossa atenção é conhecido como a “Gruta da Santinha”, localizada às margens da BR 116, na divisa entre as cidades de Caratinga e Ubaporanga. Todos os anos no dia 12 de outubro, em comemoração ao dia de Nossa Senhora Aparecida, segundo os seguidores da Igreja Católica, a padroeira do Brasil, acontece uma romaria até o local onde está situada a gruta em homenagem à santa.
– Barão de Itaperuna: uma figura histórica, que possui pouca relevância cultural no âmbito municipal, mas que nos últimos anos vem despertando o interesse de pesquisadores de diversas partes do Brasil, entre eles o historiador Flávio Mateus dos Santos, através do livro “A República do Silêncio”. O corpo do barão está enterrado no cemitério do distrito de Santo Antônio do Manhuaçu e sua história suscita uma série de lendas e histórias controversas, mas que estão presentes ainda hoje no imaginário popular dos moradores da região do referido distrito.
– Como uma forma de resgate desses valores culturais, provenientes do uso do carro de boi, moradores das zonas rurais de alguns distritos de Caratinga, mas especificamente dos moradores do distrito de Sapucaia, estão promovendo o encontro dos “Carros de Boi”. Uma festividade de características rurais, onde os mais diversos proprietários de carros de boi se encontram para um desfile percorrendo as estradas que ligam as propriedades rurais. E no ponto final do percurso o encerramento do evento acontece com a promoção de um delicioso almoço.
– Festa do Biscoito: no distrito de São João do Jacutinga acontece todos os anos uma tradicional festa do produtor rural. Além das festividades típicas, como shows, barraquinhas e quitutes, um em especial chama a atenção, que é o biscoito de polvilho assado, produto esse que acabou denominando a festa e se tornando tradicional na região.
Muitos são os aspectos que colaboram para a formação cultural de um povo, vários estudos demonstram essa preocupação com a identidade cultural. Entretanto, algumas manifestações culturais tornam-se oficialmente parte do Patrimônio Histórico e Cultural, quer dizer, são tombados pelos poderes públicos constituídos. Já outros, mesmo não sendo incluídos nesses critérios do tombamento configuram-se com expressões populares, portanto, são manifestações culturais que merecem o cuidado da percepção dos estudiosos e da própria população.
As manifestações culturais, aqui apresentadas, enquadram-se nesse perfil, são formas de expressão da identidade, da memória, do sentimento dos habitantes de Caratinga. Por isso, merecem o nosso cuidado e zelo como forma de manter viva a identidade do povo caratinguense.
*Walber Gonçalves de Souza é professor da Fundação Educacional de Caratinga (FUNEC) e membro das Academias de Letras de Caratinga (ACL), Teófilo Otoni (ALTO) e Maçônica do Leste de Minas (AMLM).
Mais informações sobre o autor: www.lattes.cnpq.br/3301696192374172