A verdade não importa. O que importa é a percepção. É a aparência. É aquilo que as pessoas pensam a partir da aparência daquilo que foi dito e visto – poucos são os que vão além disso” – Viserys Targaryen, House Of Dragon –
“A mulher de César não basta ser honesta, deve parecer honesta” – Júlio César.
Não é novidade para ninguém que vivemos em um mundo de aparências. Por mais que as pessoas digam buscar relações sinceras, por mais que elas digam amar a sinceridade e a verdade, poucas são aquelas que realmente se interessam pela verdade das coisas, seja a verdade de um fato, de coisas vistas e ouvidas, ou, as grandes verdades sobre as coisas da vida. Poucos são os que realmente as buscam e, menos ainda, são aqueles que as aceitam e as aspiram acima de todas as coisas. Em nosso mundo atual, o que vale é aquilo que as pessoas pensam, é a representação de uma papel, é o fingimento. O que se busca é a aparência, é aquilo que simplesmente parece, mas que, no fundo, não é o que aparenta ser.
Isso me faz lembrar da frase que inicia esse artigo, dita pelo rei Viserys Targaryen, da série House Of Dragon: “A verdade não importa. O que importa é a percepção. É a aparência”. No episódio, a frase é dita em decorrência de sua filha, a princesa Rhaenyra Targaryen, ter sido vista em uma “casa dos prazeres”, onde o argumento do rei se baseia no fato de não importar o que a princesa estava ou não fazendo lá, mas o que as pessoas pensariam disso, independentemente se fosse verdade, ou não. A frase do rei, por sua vez, me fez lembrar da frase de Júlio César, dizendo que não bastava que sua mulher fosse honesta, ela tinha que parecer honesta. Além de ser honesta em essência, também teria que o ser em aparência, para não deixar nenhuma dúvida ou desconfiança.
Poucos são aqueles que irão se esforçar e correr os perigos necessários em uma jornada em busca da verdade, em busca da verdadeira realidade por detrás de inúmeros fatos, e isso explica a cautela e o temor de Júlio César.
É muito mais fácil ficar na superfície das aparências e julgar todas as coisas a partir daquilo que nossos olhos enxergam e nossos ouvidos ouvem, sem se atentar para a verdadeira realidade dos fatos, assim sendo, quando a vida e as ações de alguém condizem com a sua realidade e suas intenções íntimas, forma-se um paralelo entre realidade e aparência, e isso denominamos, muitas vezes, como integridade. Mas isso não exclui o fato de que a mesma ainda possa ser atacada com mentiras e falsas acusações.
O caminho da mentira é o mais fácil, sem dúvidas. O caminho das aparências é mais fácil. Mas, ao longo da jornada por esse caminho, mesmo que, aos nossos olhos, de tempos em tempos, sejamos de alguma forma recompensados, a sua recompensa final traz o sabor amargo para aqueles que trilham por ele. O caminho mais fácil raramente nos leva a lugares verdadeiramente bons, e o caminho da mentira e da falsidade, o caminho das aparências, uma hora ou outra, pode nos colocar em apuros.
Sabendo que as pessoas tirarão conclusões a partir das percepções que elas têm de nossos atos e aparências, que busquemos, em um mundo onde abunda a falsidade, ser e viver, o mais próximo possível daquilo que é a nossa realidade interior, de maneira que as “aparências” de nossos atos e ações venham demonstrar aquilo que somos de verdade, em nosso íntimo. De maneira que, como diz Júlio César, não somente sejamos (o que já é um ótimo alvo a ser alcançado) mas que também a nossa vida e a aparência de nossos atos e ações reflita, o máximo possível, aquilo que realmente somos. Que sejamos, e pareçamos ser o que realmente somos, por mais difícil que isso seja.
Wanderson R. Monteiro
Graduando em Pedagogia, coautor de 4 livros e vencedor de três prémios literários.
São Sebastião do Anta – MG