Rodoviária em situação crítica

Prefeitura de Caratinga afirma que já está planejando ações para tentar sanar o problema

CARATINGA – A rodoviária deveria ser um lugar tranquilo em que o passageiro pudesse comprar seu bilhete para embarcar para diversos lugares, chegar de viagem e encontrar amigos e parentes com calma e até relaxar, fazer um lanche antes de entrar em um ônibus para encarar horas e horas de estrada. Mas infelizmente esta não tem sido a realidade do Terminal Rodoviário Carlos Alberto de Matos há muito tempo, desde quando andarilhos e pessoas que usam drogas tomaram conta do espaço e acabam causando desconforto e medo para quem usa o local.

A reportagem do DIÁRIO DE CARATINGA esteve conversando está semana com alguns comerciantes que trabalham aos arredores da rodoviária, que preferiram não se identificarem por medo de retaliações. A reportagem ouviu até mesmo com um homem drogado que estava no estacionamento. A Prefeitura de Caratinga também enviou uma nota à redação para informar quais atitudes tem tomado para que a situação seja resolvida ou amenizada.

O DRAMA ENFRENTADO PELOS COMERCIANTES

O primeiro comerciante a ser ouvido, trabalha perto da rodoviária há 16 anos e diz que a situação está insustentável, pois são brigas a todo o momento, além dos andarilhos e usuários de drogas andarem portando facas, pedaços de pau e barras de ferro.  “Esta semana mesmo começaram brigar ali por perto da rodoviária e alguém veio em meu comércio, pegou uma barra de ferro e saiu correndo com ela na mão dizendo que mataria outra pessoa. Por sorte, quando chegou lá o outro já havia evadido”.

O comerciante disse que se sente totalmente ameaçado, pois todas essas pessoas chegam pedindo as coisas, incomodando clientes e não dão sossego a ninguém. “Virou um inferno esse trecho da rodoviária, além do abandono que a gente percebe. Passageiros para entrar na rodoviária precisam passar por cima de alguém deitado ou caído e já pedimos socorro e nada aconteceu”, disse revoltado.

O segundo comerciante, que conversou com a reportagem, está nas proximidades da rodoviária há 13 anos e relatou que todos que ali trabalham estão atravessando uma fase muito complicada. “São moradores de rua, alguns tem até residência, mas incomodam muito, não apenas comerciantes, mas pessoas que chegam para viajar e quem esta tendo problema quem estaciona o carro perto da rodoviária, pois se pedirem dinheiro e a pessoa não der, criam confusões”.

O comerciante relatou que se sente prejudicado, porque as pessoas evitam até entrar na rodoviária e chegam em cima da hora de embarcar para não passarem por constrangimentos e acabam deixando de consumir e usar os serviços oferecidos na rodoviária.

Outro comerciante disse que a rodoviária está em pleno abandono.  “Ninguém está limpando mais, as mulheres que trabalham pela Prefeitura estão tendo que entrar no banheiro dos homens para limpar, porque não tem funcionário do sexo masculino para fazer o serviço. Todos estão reclamando. Passageiros, pessoas que trabalham na rodoviária, está uma bagunça geral, não tem segurança, todos os dias tem confusão de andarilhos. Muita gente está pegando ônibus em outro lugar por causa desta situação”.

O PROBLEMA DAS DROGAS

Uma das pessoas que fica na rodoviária pedindo dinheiro e entrando em confusões aceitou conversar com a reportagem. Totalmente drogado, o homem que disse ter 35 anos, ao ser questionado se não tinha vontade de trabalhar, começou a ser irônico dizendo que tem muitas dores na coluna e que vive daquela forma porque não tem mais mulher, que saiu de casa.

Questionado sobre a vida que leva, o andarilho disse que no momento não está sendo feliz e, emocionado, contou que tinha sido feliz no dia anterior, pois tinha ido à igreja, mas está afastado, inclusive citou alguns versículos bíblicos e até começou a cantar uma música gospel.

A PREFEITURA

Para dar uma resposta efetiva à população, e por se tratar de questão de Segurança Pública, a Prefeitura de Caratinga está planejando novas ações com o envolvimento das secretarias municipais para requisitar um apoio mais efetivo da Polícia Militar sobre a situação da ‘população de rua’ na “Rodoviária Nova”.

A Prefeitura esclareceu que tem tomado diversas ações para garantir a execução da política social no município. Por meio da Secretaria de Desenvolvimento Social são feitas intervenções junto à população de rua. São oferecidos encaminhamentos, atendimento social e psicológico e ofertados os serviços do CAPS-AD (Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas), instituições e abrigos.

As medidas incluem um diagnóstico da população de rua, a partir do qual, a prefeitura e os parceiros tentaram executar as medidas cabíveis e têm realizado por meio das secretarias de Saúde, de Defesa Social e de Desenvolvimento Social diversas ações com o objetivo de oferecer medidas de proteção a pedintes e migrantes, que abordam moradores em alguns pontos do município.

A Secretaria de desenvolvimento Social esclareceu que o CREAS (Centro Especializado de Assistência Social) vem realizando abordagens sociais desenvolvidas por uma equipe multidisciplinar (assistente Social e psicólogo e uma educadora Social). Ao identificar pessoas em situação de rua, a equipe realiza a oferta dos serviços existentes no município, como o agendamento para atendimento social e em grupo no CREAS, contato com familiares, realização de encaminhamentos para Cadastro no CadÚnico, atendimento de saúde, inclusive para CAPS AD para tratamento do álcool e drogas e em convênio com o MOVISO (Movimento Social São João Batista) e casas de amparo, são encaminhados para alimentação, banho e vestuário e também para pernoite. O município também oferece passagem, caso a pessoa queira retornar para sua cidade. “Contudo, poucos aderem aos serviços ofertados impedindo assim que a equipe contribua para a construção de uma nova trajetória de vida. Ainda sim existem os casos em que são identificados apresentando efeitos de substâncias químicas impedindo que a equipe realize a intervenção. Vale dizer ainda que a Constituição Federal de 1988 deixa claro à questão do direito de ir e vir não podendo obrigá-los a aderir. Assim, muitos declaram estar em situação cômoda e não aderem aos serviços”.