QUANDO A MUDANÇA É A ÚNICA CERTEZA

*Joséllio Carvalho

 

Seria mais um dia normal pro nosso herói, mas a vida é feita de caminhos que, às vezes, não entendemos. Adão já trabalhava há anos naquela indústria vital, sombreada por palmeiras imperiais. Porém, sentia que precisava voar mais alto. Um homem de coração indomável não consegue ficar sem conhecer novas terras, ares e mares.

Ele já sentia desde alguns meses que seu ciclo estava chegando ao final. Sua amada também pressentia que os tempos estavam mudando, mas não comentava; apenas o corpo gritava. O que é do homem, o bicho não come.

Nosso protagonista era o que podemos chamar de “popular na cidade”. Todos o conheciam e ele conhecia a todos. Apesar de ser um simples, feliz e humilde operário, muitas vezes era benquisto por aquela comunidade, o que aumentava sua satisfação.

Muitos poderiam se sentir acomodados com tal situação: estabilidade, vida social bem movimentada e o seu setor na fábrica ia muito bem. Sabe quando as coisas só davam certo? Era a vida do pacato operário. Ao final de um dia de trabalho, era costume “ligar” a obra com uma tríplice argamassa. Sempre terminava o expediente contente e satisfeito.

Mas naquele dia seria diferente. Durante a jornada, sentiu uma aceleração estranha no coração. Aí veio a notícia da promoção. A princípio, veio uma alegria e uma leveza no espírito. Quem não gosta de ser promovido? Só maluco. Mas Adão não era maluco. Tá bom. No máximo, um maluco-beleza, bem de leve, apesar de seu peso.

A comemoração dos colegas foi bacana: uns cumprimentavam dando parabéns e outros ficaram de boca aberta sem entender nada, pois acreditavam piamente que o cidadão iria ficar eternamente na mesma unidade da fábrica a vida inteira, no mesmo setor e apertando os mesmos parafusos. Ele respeita quem tem essa visão, mas ele queria respirar (e voar em) novos ares, desbravar novas terras e navegar em outros mares. Adão acredita que mar tranquilo não faz bom capitão.

Após o rompante de felicidade, ele começou a pôr os pés no chão e raciocinar na frase do Tio Ben: “Grandes poderes trazem grandes responsabilidades”. Com a cabeça mais calma, iniciou sua reflexão de tudo que já tinha percorrido até o momento naquela indústria vital e pensou no que seria a sua carreira dali pra frente. Nesse “mundão doido”, a carreira profissional tem se mostrado um verdadeiro labirinto e está cada vez mais difícil cavar seu espaço no mercado.

A jornada é difícil, mas as recompensas são proporcionalmente boas (na maioria das vezes). Há que se trabalhar muito para se obter sucesso. E isso o destemido Adão fazia. A sua rotina era pesada, era rotina de campeão, era rotina de correria, máquinas com barulho ensurdecedor, linha de produção com metas desafiadoras, indústria pesada, mas ele fazia tudo com toda alegria possível. Nunca apertou um parafuso sem dar um sorriso. Parece estranho (ou mentira), mas é verdade.

E lá se foi Adão, nosso bom camarada, rumo à nova filial. Agora não iria apenas apertar parafusos. Aliás, não sabia nem onde ficava a cidade onde trabalharia. Só sabia que iria para longe dos amigos e da família. Mas, antigos gurus o haviam preparado muito durante os anos passados para quando este dia chegasse.

Espirituoso e espiritualista que era, Adão confiou em Jesus o transporte da mobília. Encheu o caminhão de mudança do jeito que deu e partiu rumo à cidade “daquele que corre”. A fiel companheira foi junto, a inseparável mulher de Adão (um dia contaremos seus causos). Chegaram naquela terra até então desconhecida, mas puderam notar que tinha um sol nascente muito bonito, acima da média. O povo e os colegas de fábrica receberam com muita alegria e cortesia o jovem casal.

Em breve, teremos mais notícias (sempre boas) do nosso amigo. Na sua despedida do antigo local de trabalho disseram que a saudade é o amor que fica. Ele respondeu que a gratidão é a memória do coração. Agora, sua função é ser líder e relata que ser líder é formar novos líderes e espalhar esperança. Mas a esperança é o amor em movimento. Entendam como quiserem. Esse Adão… Nunca entendi a cabeça dele!

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JOSÉLLIO CARVALHO é membro fundador da AMLM, jornalista, escritor, telespectador e pedestre.