Jorge Couto apresenta livro sobre a Revolução de 30 em Caratinga e Santana de Imbé
DA REDAÇÃO- O livro é de autoria de Jorge Luiz Couto, 58 anos, morador de Volta Redonda, Rio de Janeiro. O ‘Revolução de 30 em Caratinga e Santana do Imbé- Uma história de jagunços e coronéis’, será lançado no próximo dia 23 de março, às 19h, no salão paroquial ao lado da Igreja Nossa Senhora das Graças, centro de Imbé de Minas. Já em Caratinga, o lançamento está marcado para o dia 5 de abril. 19h, no Casarão das Artes.

O DIÁRIO DE CARATINGA fez contato com Jorge Couto, que prontamente respondeu a esta entrevista, dando detalhes da concepção da obra, que promete conteúdo vasto da história de Caratinga e Imbé de Minas, com os fatos que marcaram este período. Ele ainda analisa, de acordo com suas pesquisas, o impacto da Revolução de 30 para a região.
Jorge nasceu em São Paulo em 1959, tendo sido criado em Volta Redonda. Lá trabalhou na Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) por 30 anos. É professor graduado em Matemática. Foi dirigente sindical, ocasião em que participou de importantes fóruns no Brasil e no exterior. Foi membro do Fórum Consultivo e Econômico e Social do Mercosul, do Coletivo de Educação Sindical para a América Latina da Organização Regional Interamericana de Trabalhadores e vice-presidente da Federação dos Trabalhadores Metalúrgicos do Estado do Rio de Janeiro. É apaixonado pela História em geral. Atualmente é docente na rede pública.
Fale um pouco sobre a sua trajetória como escritor.
Minha trajetória como leitor é bem maior do que a de escritor. Comecei a ler muito cedo. De Machado de Assis a Jorge Amado, li tudo. Depois andei escrevendo uns sonetos, até que um dia os enviei para um concurso nacional chamado Poetise, e em sua versão 2014 fui classificado, e publicaram o soneto vencedor numa coletânea. Agora, livro mesmo, este é o primeiro.
O senhor fala sobre Caratinga e Imbé de Minas pela época da revolução de 1930. Qual foi o ponto de partida para contar esta história?
Comecei a pesquisar e anotar há mais de três anos. O que me chamou atenção, foi a triste história do fazendeiro Joaquim Cândido da Silva, e de quatro de seus amigos que em outubro de 1930, no calor da revolução que levou Getúlio Vargas ao poder, foram brutalmente executados em praça pública. Fiquei curioso para saber a razão daquilo e os detalhes da chacina, não encontrando nenhuma bibliografia sobre o assunto. Depois me disseram que em 2003, um escritor havia lançado um livro que tratava desse tema. Tentei conseguir o livro, mas não encontrei ninguém que o tivesse, então resolvi partir para as pesquisas.
Se baseou em quais fontes?
Foram várias. Comecei conversando com algumas pessoas, sobretudo em Imbé de Minas, que tinham algumas informações não documentadas. Depois busquei informações na hemeroteca da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, que possui em seu acervo, uma grande coleção dos principais jornais do país. Como essa pesquisa pode ser feita “online”, facilitou muito, e encontrei as primeiras verdadeiras versões sobre muitos acontecimentos. Depois procurei o Núcleo de Documentação e Estudos Históricos- NUDOC, departamento ligado à faculdade de História da UNEC-Caratinga, e consegui localizar processos criminais antigos do Fórum Desembargador Faria e Sousa, que estão arquivados lá. Processos criminais da década de 20 e inícios dos anos 30, que envolviam pessoas que tiveram direta ou indiretamente relação, principalmente com a chacina do Imbé. Fui a Conselheiro Pena, conversar com a única filha viva de Joaquim Cândido, D. Conceição então com 101 anos em 2017. Pesquisei também num dos principais periódicos que circulou em Caratinga de 1927 aos anos 50, que foi o jornal ‘O Município’, que me deu preciosas informações sobre aquele tempo. Estive em pesquisa no Seminário Diocesano de Caratinga, onde Monsenhor Raul Mota, me autorizou vasculhar numa das maiores coleções dos periódicos ‘A Época e Renascença’. Depois busquei documentos importantes na Fundação Getúlio Vargas, no Rio de Janeiro, e finalmente no acervo do Arquivo Público Mineiro em Belo Horizonte. Além de pesquisar em documentos particulares dos familiares de Manoel Joaquim Teodoro, em Imbé de Minas.
Por que escolheu estas cidades como história para o seu livro?
Primeiro pela riqueza histórica dessa região. Basta dizer que a localidade de Cuieté, na época um distrito de Caratinga, tem os primórdios de sua história, ligada à procura e extração de ouro e pedras preciosas, desde o início do século XVIII. Bem antes de Domingos Fernandes Lana pisar nas terras do Caratinga à procura da poaia. Cuieté foi tão importante para o reino, que por ordem do governador geral, foi criado lá, uma prisão, conhecida como “Degredo do Cuieté”. Os domínios de Caratinga iam desde as cercanias de Vermelho Novo, até bem perto de Governador Valadares. Caratinga, foi uma das cidades que mais contribuiu para a vitória da revolução de 1930, que levou Getúlio Vargas ao poder, tendo despachado mais de 500 homens entre médicos, dentistas, farmacêuticos, jagunços, lavradores, etc, para garantir a vitória da revolução no estado do Espírito Santo, que ainda não havia aderido a ela. Tudo isso bancado pelos fazendeiros e comerciantes. Com isso, eu não precisava de outros argumentos para escrever sobre essa região. E Imbé de Minas, antiga Santana do Imbé, por ter sido um dos distritos mais desenvolvidos (naquela época) de Caratinga, e, por em suas terras terem se passados episódios importantes. Os domínios do Imbé incluíam, Rochedo (atual Itajutiba), Rio Preto, São José do Peixe e Batatal.
O início da década de 1930 ficou marcado na história da região, por exemplo, com o caso da “Chacina de Imbé”, com a morte do líder local, Joaquim Cândido. Como esse fato é relatado no livro?
A chacina do Imbé é tratada com riqueza de detalhes no último tópico do livro. Foi o caso de Joaquim Cândido que me impulsionou a pesquisa. Então resolvi explicar em que condições sócio-econômicas-culturais e política, ocorreu aquele episódio. Não se trata de tese, nem de trabalho acadêmico. Procurei fazer um texto de leitura fácil, acessível a todos. Só escrevi com embasamento histórico. Ainda falo reminiscências dos padres do Imbé, sem grande aprofundamento. Por fim, vem 27 fotografias antigas de alguns personagens tratados no livro.
Se tratando de Caratinga, há algum fato interessante que você pesquisou e gostaria de compartilhar nesta entrevista?
Sim. Ainda que Caratinga fosse um dos principais e mais importantes municípios de Minas Gerais, era também considerado muito violento. Com autoridades policiais diretamente comprometidas com os coronéis, e portanto a serviço deles. Eram verdadeiros jagunços travestidos de autoridade. Foi o caso do delegado Silvério Lourenço da Silva. Indicado delegado pelo partido Caranguejo em 1929, roubou, prevaricou, espancou inocentes, estuprou mulheres, participou da chacina do Imbé, e foi um dos mentores do assassinato do comerciante Domingos Viggiano no Inhapim. Ficou preso em Caratinga, depois de indiciado por diversos crimes. Foi julgado em Raul Soares e absolvido, em 1935, por influência dos coronéis da época, dos quais era serviçal. Ao sair da cadeia, foi assassinado em frente sua casa, na Ladeira do Hospital, no Centro de Caratinga, por um jagunço que havia prendido arbitrariamente, espancado e estuprado a esposa. Levou 4 tiros, em plena 6 horas da tarde. Seu assassino foi absolvido. Chamava-se Pedro Neves e morava em São José do Peixe.
Outras localidades também são citadas?
Pouco a pouco, o livro foi se tornando uma história de jagunços e coronéis. Pesquisei e escrevi sobre o coronel Serafim Tibúrcio da Costa, de Manhuaçu; Coronel Calhau, de Ipanema; Coronel Osório de Oliveira, de Mutum; e outros mais que representavam o estado maior do poder nas matas do Rio Doce. Falo rapidamente sobre as localidades que antes eram distrito de Caratinga, como Entre Folhas, Bom Jesus do Galho, Resplendor, Floresta, Santo Estevam, Vermelho Velho, Tarumirim, Lajão, Cuieté me estendendo mais nesse último, pela sua grande importância histórica.
A partir do que está exposto em seu livro, qual foi o impacto da revolução de 30 na região?
Após a revolução, e com a vitória desta, Caratinga foi tratada com algum destaque pelo governo de Getúlio. Como havia disputa política ferrenha, entre os dois partidos políticos da época, apelidados de Caranguejos e Bacuraus, Getúlio tratou de indicar um prefeito estranho à cidade, para enfraquecer os coronéis, que foram perdendo o poder, até desaparecer da vida política da cidade. O mesmo aconteceu com Manhuaçu, onde a luta política, raras vezes não resultava em cadáveres. Por fim, a história de Caratinga e seus distritos, teve dois momentos distintos: antes da revolução de 30 e depois da vitória da revolução com o governo Vargas, (fim da República Velha) já logo com a chegada da estrada de ferro Leopoldina Highway, que foi um marco na modernização da região.
Quais são suas considerações finais?
Dia 23 de março próximo, faremos um lançamento em Imbé de Minas. Toda a organização desse evento tem sido planejada e executada pela Prefeitura Municipal de Imbé de Minas, através da Secretaria de Educação, Cultura, Esporte e Lazer, onde agradeço ao José Guilherme Grosse Gervásio. E com o apoio do padre Fabrício da Paróquia de Imbé de Minas, que está cedendo o espaço do salão paroquial para o evento. Você imbeense que quer conhecer um pouco da história local, compareça, tome um café com a gente, e adquira seu exemplar, que será vendido a R$ 35,00. Dia 05 de abril, faremos um debate acadêmico e o lançamento no Casarão das Artes em Caratinga, às 19h. Você caratinguense, é meu convidado.[vc_hoverbox image=”52195″ primary_title=”” hover_title=””]“Escrever sobre Caratinga e região é resgatar uma história esquecida de uma época brilhante, recheada de articulações e jogos de poder; é esclarecer a todas as pessoas que passam casualmente por Caratinga, Manhuaçu, Imbé de Minas, Inhapim e arredores os muitos anos de história que repousam em suas ruas, praças, algumas casas e na memória de alguns moradores. Tudo isso nos remete a grandes indagações do passado, mexendo com nosso imaginário. Como era essa região, do ponto de vista político, nos anos 1920 e 1930? Qual foi a participação de Caratinga e região nos episódios da Revolução de 1930, que levou Getúlio Vargas ao poder? Todos conhecem os pormenores que redundaram na Chacina do Imbé, que vitimou o fazendeiro Joaquim Cândido da Silva? Os atos de selvageria acontecidos em Caratinga e arredores foram realizados em defesa da Revolução de 1930? Ou ela foi apenas um pretexto para resolver antigas pendências? A resposta para essas indagações não está nas estatísticas nem nos anuários oficiais, mas nos caminhos da memória e nos velhos documentos manuscritos. Afinal, ‘um povo que não conhece a própria história está condenado a repeti-la’”.[/vc_hoverbox]
Uma resposta
Joaquim Cândido era um posseiro assassino e tinha sua própria gangue de jagunço. Foi numa época que se distribuía terras da união e ele tomava estas terras para si matando famílias inteiras.