Margareth Maciel de Almeida Santos
Doutora em Sociologia Política (IUPERJ)
Membro do Instituto Nacional dos Advogados do Brasil (IAB-RJ)
Na data de 14 de novembro de 2022, o cartunista Élcio Danilo Russo Amorim, conhecido como Edra, lançou o livro Ziraldo, Um Gênio de Caratinga tendo como ponto principal a homenagem para o caratinguense Ziraldo, referindo-se a ele com a expressão “Ziraldo é coisa nossa”!
No entanto, o protagonista dessa história que aconteceu no dia 14 de novembro de 2022 em Caratinga é o Edra, caratinguense como Ziraldo, e foi ele quem criou a Casa Ziraldo de Cultura para mostrar ao renomado artista Ziraldo a sua admiração, que é ‘fã incondicional’ perpetuando o nome de Ziraldo em Caratinga. A festa do lançamento do livro começou às 20 horas com a execução de várias canções pela Banda de Música Santa Cecília, patrimônio cultural de Caratinga. Estava ansiosa para ouvir o hino de Caratinga, mas me parece que não foi executado. Por outro lado, Edra explora o tema da leitura, a arte, e o incentivo para que crianças e jovens desenvolvam as suas aptidões artísticas e o hábito de ler.
Primeiro Edra com lutas e dificuldade conseguiu inaugurar em 1998 o I Salão Internacional de Humor em Caratinga, prefeito da época, José de Assis, e depois em 27 de setembro de 2009, no governo de João Bosco Pessine, a Casa Ziraldo de Cultura, localizada na Avenida Benedito Valadares, 15.A professora Elzi, mãe de Edra nos relata no referido livro que a Casa Ziraldo de Cultura “foi uma conquista pessoal para um bem coletivo, pois é um espaço destinado aos artistas, escritores e todas as atividades culturais e sociais.”
Ainda posso contar que o livro Ziraldo, um Gênio de Caratinga elaborado por Edra e com a participação de fãs, admiradores, amigos, que também têm Ziraldo como ídolo, ilustram trechos da narrativa do próprio Ziraldo, onde ele não esconde a sintonia com os casos de quando viveu em Caratinga e depois que saiu da sua terra natal a memória dos tempos vividos em Caratinga o acompanharam. Os trabalhos de Ziraldo foram traduzidos para diversos idiomas como francês, espanhol, alemão, inglês, italiano e basco e tem um ponto de vista que me chamou muita atenção, ponto defendido por Ziraldo quando faz a seguinte observação: “Ler é mais importante que estudar”.
Passei a refletir sobre “essa defesa” e questionar se ler é realmente mais importante do que estudar porquê existe mais oferta de meios eletrônicos do que livros ainda na infância e adolescência?
No meu pensar, entendo que é dever de todos e todas que estão nos círculos de amizades com as crianças, incentivá-las a lerem, escolhendo o tipo de leitura que lhes interessam. Ler nos leva a questionar as profundas mudanças em todos os aspectos da vida humana, e consequentemente provoca um desejo de querer sempre manusear os livros. A formação de um sentimento coletivo para a construção de uma sociedade melhor é o resultado da leitura. Estamos vivendo tempos dolorosos e um olhar mais crítico formado por meio do ler, cria um desenvolvimento integral que possa contribuir formação de adultos mais conscientes para consolidar uma sociedade mais justa e equilibrada.
Consultei os Retratos da Literatura do Brasil, e no site vidaeacao.com.br/dicar-de-livros-para-incentivar o hábito da leitura nas crianças, em 09 de outubro de 2022, relata que só “18% dos brasileiros têm o hábito de ler”.
O mais interessante é que o artigo do site acima ressalta que “com inúmeras opções dos brinquedos e eletrônicos para presentear as crianças os livros nem sempre são as primeiras opções que passam na cabeça dos adultos” e que 70% das famílias não têm livro em casa (grifo nosso).
O espaço Casa Ziraldo de Cultura, que Edra conseguiu inaugurar e simultaneamente o deu a capacidade de reconstruir a memória do “gênio Ziraldo”, articula reflexões entre o indivíduo seja criança ou adulto, ou adulta com suas vivências na sociedade. A Casa Ziraldo de Cultura faz parte da composição da cultura e se pode dizer da memória coletiva, trazendo desdobramentos a respeito dos livros escritos por Ziraldo. Não posso deixar de citar aqui que o ambiente familiar que a criança vive no dia a dia irá influenciar no seu desenvolvimento, na sua capacidade de desempenhar um papel importante para a sociedade. É a memória individual que se conecta com a memória coletiva.
Pensei em ser pertinente procurar uma melhor definição de memória coletiva para fundamentar os meus pensamentos e encontrei o sociólogo Maurice Halbwachas, que trouxe ao estudo da memória o fator social. Ele mostrou a existência de uma relação íntima entre o individual e o coletivo, explicando que “boa parte das lembranças individuais possuem relações com o coletivo”. Exemplificando, quando eu me lembro de algo, posso dizer aqui do “Menino Maluquinho” essa lembrança que foi vivida por mim e também por outros se relaciona com uma determinada comunidade, e vai se constituindo como patrimônio dessa comunidade. Tudo isso se dá ao mesmo tempo que está sendo repassado de pessoa a pessoa até ser considerado um acontecimento de grande relevância.
Lendo o livro Ziraldo, Um Gênio de Caratinga, tendo Edra e convidados, e cito aqui que entre esses está euzinha. Chique demais! É assim que eu me sinto. Gostaria de dizer que foi uma experiência emocionante, muita alegria e preciso ressaltar aqui palavras do Ziraldo, que fazem parte do referido livro e as reescrevo aqui:
“Pedir para eu narrar as memórias de Caratinga é me pedir para escrever um livro. Parte dessa memória perpassada em muitos recantos dos livros que já publiquei. A gente tinha até hino. A letra era do Padre Juquinha, que todo mundo sabia que era o homem mais inteligente do Brasil. Ele falava oito línguas e sabia alta matemática. Aliás, sabe ainda Padre Juquinha só não era muito bom de letra de música, mas seu hino era uma força: “Caratinga, cidade esperança, flor da mata, gentil arrebol”. (ZIRALDO, Um Gênio de Caratinga).
Para responder à questão de não saber se foi tocado ou não o Hino de Caratinga no lançamento do livro Ziraldo, Um Gênio de Caratinga, gostaria com muita humildade de fazer a seguinte sugestão: – que O Hino de Caratinga deva ser ensinado para as crianças que moram em Caratinga. Ser cantando semanalmente e fazer um estudo crítico com a realidade atual do munícipio.
Quem sabe a partir da leitura do hino e de sua interpretação, aprender a cantá-lo despertará em todas e todos os indivíduos de Caratinga, o prazer de ler e manusear os livros e fazer parte da memória individual e coletiva?
Confesso que eu não sabia a letra do Hino de Caratinga, letra de Pe. José Rocha de Castro e música, Irmã Joana D’ Arc, mas ressalto que irei aprender a cantá-lo para poder ensinar a todos que admiram essa terra tão mágica que é a nossa Caratinga. Abaixo, apenas um pedacinho do hino que copiei do site https;//www.youtube.com>watch.
Caratinga, Cidade-Esperança!
Flor da mata, gentil arrebol!
Seja Fé tua seiva divina,
Seja hóstia sagrada o teu sol!
Capital do sudeste mineiro,
Das cidades da Mara a primeira.
Deste Vale feroz do Rio Doce
És princesa, és rainha altaneira!
Para quem quiser aprender também a cantá-lo, o leia e o ouça no site citado acima.
PAZ E BEM!