A pandemia covid-19, trouxe o luto para milhares de famílias brasileiras, estamos próximo de 687 mil mortes no país, diariamente vemos o aumento desse número, apesar de observarmos a diminuição dos casos da doença.
Para termos ideia da dimensão das mortes existentes, poderíamos escolher, por exemplo, uma das seguintes cidades para ser “varrida” ou “eliminada” do Brasil: a cidade de Aracaju em Sergipe, ou a Cidade de Sorocaba em São Paulo, ou a cidade de Contagem em Minas Gerais.
Cada uma das cidades mencionadas, possuem a quantidade próxima em números de habitantes mortos por covid-19 em nosso país. E então, qual cidade podemos eliminar? Estranho e assustador, não é? É como pensar que estamos dentro de um filme de terror, e precisamos escolher qual cidade extinguir ou quais seres humanos escolher para viver, é um filme de terror que você não escolheu assistir ou estar dentro, fomos jogados nele, por estarmos existindo no planeta Terra.
Temos uma pequena noção da dimensão de toda “desolação” existente e causada pela pandemia da covid-19 no Brasil, mas que nos ajuda a refletir sobre as perdas, as dores e as tristezas que muitas famílias passaram e estão passando, e assim podermos praticar mais a empatia e a compaixão com as pessoas, e sermos mais gentis, e se não pudermos ajudar, que possamos talvez rezar, orar, pedir alguma prece para aqueles que ficaram e para aqueles que se foram possam ter paz. É bom lembrarmos que empatia, é a você sentir o que o outro sente, e a compaixão, é você ver o mundo de uma pessoa através de suas lentes, e entender como ela se sente e fazer algo a respeito.
Para aqueles que ficaram, que possam aproveitar seu tempo para evoluir mais e praticar o bem para si e para os outros, e assim, encontrar na vida, na vivência em comunidade, e nos princípios mais caros de amizade, a solidariedade e esperança, a serenidade e o consolo. E que as melhores lembranças dos que partiram, nos guie sempre.
Quando pensarmos nas lembranças das inúmeras mães de famílias, amadas, dedicadas, companheiras, guerreiras, batalhadoras, fortes, e nos inúmeros de pais de famílias, trabalhadores, cuidadores, amados, queridos, nos irmãos, irmãs, tios, tias, sobrinhos, sobrinhas, amigos e todas as pessoas de alguma forma amada e querida, deixaram em nós, mas que foram embora, sem querer ir, sem pedir pra ir, e sem ao menos podermos ter a chance de se quer dar um adeus ou prestar uma homenagem mais significativa que representasse a imensidão do amor de todas elas, nos faz ter muitas outras reflexões, como por exemplo, podemos fazer um exercício de tentar refletir sobre a pequenez que nos seres humanos somos diante das coisas, dos seres vivos, do planeta, das doenças, dos vírus, das bactérias, das tecnologias, dos tratamentos de saúde, enfim, de tudo que existe e que pouco sabemos ou conhecemos.
E assim, cientes de ‘nossa pequenez”, e de também sermos seres humanos imperfeitos, faltando um pedaço e com vazio dos que se foram, com dores, tristezas, vamos buscando todos os dias sermos seres mais fortalecidos, e procuremos resgatar as nossas conexões sociais mais verdadeiras, quer sejam familiares, no trabalho e em comunidade, para retomarmos aos momentos de alegrias que ainda podem existir.
A dor da perda de um ente querido, é imensurável. Não é fácil caminhar, mas é preciso seguir. Os rastros do vírus SARS-CoV-2, fez inúmeras famílias ficarem desoladas no Brasil e no mundo. Digo “rastros”, porquê atrelado ao vírus, está o sistema de saúde, e um conjunto de situações que não temos controle, as equipes de profissionais, os tratamentos, a prevenção, o conhecimento, e muito que conhecemos e não conhecemos, os sistemas imunológicos humanos, os equipamentos, as cepas virais, e enfim, uma infinidade de “coisas” interligadas que em conjunto se somam aos óbitos registrados.
As conexões sociais e o acolhimento, são de extrema importância para o enfrentamento das dores e perdas causadas pela pandemia da covid-19, e são consideradas uma necessidade humana, sua qualidade e quantidade pode afetar beneficamente a saúde mental e física das pessoas enlutadas, e considero que o acolhimento das pessoas enlutadas nos seus respectivos locais de trabalho, e até mesmo no cerne de sua família, são ações básicas de apoio, bem como melhores gestões públicas em saúde, as quais poderiam contribuir por proporcionar condições e ações para que as interações sociais e acolhimentos nos municípios, nas cidades, e por todo país pudessem existir e atender as necessidades das famílias enlutadas, ressalto que muitas mães, pais, filhos, irmãos que se foram, eram arrimos de família.
Como cientista, quero acreditar que a Ciência poderá nos ajudar, acolhendo os problemas existentes, tentando explicar e compreender melhor as doenças e seus mecanismos, estando estes mais aptos para lidar com as pandemias, as endemias, produzindo conhecimentos, medicamentos, bem como vacinas eficazes, e que atrelado a tudo isto, possamos encontrar equipes de profissionais de saúde, a saúde pública, e os governos mais capacitados, preparados e principalmente mais humanizados para enfrentar as possíveis doenças que surgirem, e então, preveni-las e tratá-las de forma mais adequada, evitando ter como consequências desfechos tão drásticos e tristes. O investimento na Ciência, na Educação, na Saúde, são fundamentais para que possamos ter mais esperança.
Esperança para todos os dias, por dias melhores, e por uma sociedade melhor, por mais empatia, compaixão e solidariedade. De acordo com Paulo Freire “Num país como o Brasil, manter a esperança viva é em si um ato revolucionário” e completo, necessário e preciso. Muitos versículos bíblicos nos trazem a palavra esperança como um consolo maior, que é um consolo em Deus: “Se trabalhamos e lutamos é porque temos depositado a nossa esperança no Deus vivo, o Salvador de todos os homens, especialmente dos que creem (Timóteo 4:10)”; “De manhã ouves, Senhor, o meu clamor; de manhã te apresento minha oração e aguardo com esperança” (Salmos 5:3). E então, seguimos o nosso caminho e trabalho, na esperança de um futuro melhor para o país.
Dedico este texto, em especial a minha mãe Eva Gomes de Oliveira (in memoriam) e a toda minha família, e as minhas amigas: Josefa Maria (in memoriam) e Elzi Verneque Soares (in memoriam) e seus familiares, e a todos que perderam um ente querido ou um amigo diagnosticado com a covid-19 e seus familiares. Desejo que seus corações, nossos corações, possam ter mais força e conforto em Deus, que sejam acalentados pelo carinho dos familiares e amigos.