CARATINGA – Um assunto ainda sem solução. As salas de aula, que antes eram tidas como o berço para a educação e o aprendizado; abriram espaço para o medo. A violência, que invadiu as escolas das grandes cidades, atingiu também o interior.
Cenas de alunos brigando entre si ou agredindo professores são cada vez mais comuns nas redes sociais e em noticiários da TV. Com a ampla divulgação, ano a ano, o número de vídeos em que jovens protagonizam agressões físicas ou verbais se multiplicam assustadoramente pela internet. Mas, o que estaria causando esse fenômeno no ambiente escolar? Como proceder nestas situações?
Caratinga, não diferente de outras cidades, também tem enfrentado sério problema no combate à violência nas escolas e, principalmente, o envolvimento de menores na prática de delitos. Com o objetivo de amenizar esses transtornos enfrentados, a Superintendência Regional de Ensino de Caratinga está promovendo uma mediação de conflitos. Para isso, será formada uma rede, composta por representantes de diversos segmentos que envolvam a infância e a juventude.
O primeiro encontro aconteceu na manhã de ontem, com o tema “Educação para a paz. Conversas de Justiça e Paz”, para a prevenção da violência. Estiveram presentes, diretores escolares, a superintendente regional de Ensino, Beatriz Gomes; a inspetora escolar, Karina de Cássia Ferreira Lima; a defensora pública, Paula Brunner; o soldado, Cláudio Teixeira; o presidente da 8ª subseção da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Denis Barroso, além de outros representantes da Polícia Civil, Conselho Tutelar e Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS).
De acordo com a superintendente Beatriz, a intenção é formar uma rede de proteção, para que as crianças e adolescentes sintam-se protegidos. “Precisamos melhorar esse quadro de violência que temos nas escolas e no entorno. Também é necessário incentivar a permanência da criança na escola”.
RESPONSABILIDADE SOCIAL
Karina Lima é a responsável por fazer os trabalhos de mediação na SRE de Caratinga. Para ela, a violência nas escolas deixou de ser um fato isolado e deve ser encarada como uma responsabilidade social. “Por isso é importante essa cultura de paz e ela só acontece através dessa mediação. A gente pode acreditar que é possível cultivar essa cultura de paz. Educar através do exemplo, para que a vivência de valores faça parte do cotidiano dos adolescentes e do nosso cotidiano também. Temos que aprender a lidar com esses conflitos, essas situações”.
A mesma ideia foi compartilhada pela defensora pública, Paula Brunner e o presidente da OAB, Dênis Barroso; a necessidade de unir esforços para a resolução de conflitos que acontecem dentro das escolas, que são provocados por diversos fatores, que passam pela condição social, ou até mesmo, negligência dos responsáveis.
Paula destaca que é necessário promover a ideia de diálogo. “Infelizmente, quando o caso chega para mim, é porque não tem mais jeito, não teve salvação para o menor, ele já está no meio da criminalidade, respirando violência. A criminalidade aumentou muito em Caratinga e o que percebo durante o acompanhamento que faço, é que no caso dos menores acautelados, que hoje já atingiram a maior idade, o tempo que ficaram no presídio não serviu de nada. Então não é esse o caminho. Vejo que nós precisamos ter de volta a aptidão de dirimir os nossos conflitos. Hoje tudo que acontece, as pessoas querem judicializar, não existe mais diálogo, o que poderia resolver muitas coisas”.
Dênis Barroso acredita que é necessário formalizar o projeto em um protocolo de intenções, onde todos os representantes da sociedade firmariam um compromisso em assumir sua responsabilidade nesta rede de proteção que está sendo criada. Mais do que isso, ele enfatiza que é importante a mútua cooperação das entidades.
Outro assunto abordado durante a reunião foi a necessidade da reeducação dos professores, já que a abertura de diálogo deve começar na sala de aula. A relação professor-aluno ainda é uma incógnita dentro da maioria das escolas, diante da violência. Essa necessidade também foi defendida por Paula. “O professor precisa conversar com o aluno. Hoje o professor se diz mal remunerado, desmotivado e o diálogo acaba não acontecendo. Como o professor pode dizer que o aluno deve dialogar com o seu coleguinha se ele não o faz? Acho que tem que ter uma capacitação, uma reeducação com os próprios professores também”.
POLÍCIA NAS ESCOLAS
A Polícia Militar realiza as atividades do programa Jovens Construindo a Cidadania (JCC), nas escolas. O projeto visa a criação de ambientes sadios na comunidade jovem.
No Brasil foi apresentado pelo tenente Gerald Rudoff do Miami-Dade Police Department, na cidade de Bauru-SP, em 1999, sendo sugerido para ser desenvolvido em todas as escolas sob a coordenação da Polícia Militar, diretoria Regional de Ensino e diretores de escolas públicas e particulares. O Brasil passou a ser o primeiro país da América Latina a adotar o programa, considerado como uma alternativa para conter o grave problema de drogas e violência existente em algumas escolas.
Em Caratinga, o JCC é desenvolvido em duas escolas estaduais, Engenheiro Caldas e Moacyr de Mattos. Outro projeto desenvolvido pela PM com caráter é educativo é o Programa Educacional de Resistência às Drogas (Proerd). Ambos são considerados como de grande importância para a realidade de crianças e adolescentes.
Para o soldado Cláudio, a polícia conquistou um novo espaço nas escolas, promovendo a proximidade com os alunos. “A criança ou adolescente tem que se entender como protagonista. Não é ele quem vai resolver sozinho, mas ele pode ajudar. Tem que ter a consciência de que não é só ficar sentando vendo as coisas acontecendo e deixar”.
Será agendado mais um encontro para definir os últimos detalhes para a formação da rede e mediação de conflitos nas escolas. O objetivo será definir a atuação de cada profissional no projeto.