Em entrevista ao DIÁRIO, o secretário de Meio Ambiente, Álvaro Tápias afirma que possível uso irregular do Ribeirão do Lage coloca o sistema em risco
CARATINGA – A crise hídrica tem sido um problema em todo o país. Em Minas Gerais, a situação é grave, o que levou a Copasa a anunciar a necessidade de medidas para economia, principalmente na região de Belo Horizonte. Em Caratinga, a Copasa ainda se mantém em silêncio em relação a real situação da cidade. A Reportagem entrou em contato, em busca de uma entrevista, mas não obteve resposta.
Na tarde de ontem, o DIÁRIO entrevistou o secretário de Meio Ambiente e Serviços Urbanos, Álvaro Tápias Chinchilla, que falou da preocupação do município com a seca enfrentada em toda a região. “É um momento muito delicado. Nosso ‘Sistema Cantareira’, aqui em Caratinga, chama-se sistema do Ribeirão do Lage. É de lá que nós tiramos toda a água que vai abastecer mais de 75 mil pessoas. E assim como o sistema Cantareira, o Ribeirão do Lage está sofrendo com o momento. Nós precisamos que as pessoas entendam que há falta d’água e que é desde a nascente até a torneira que atende nossas casas”.
Álvaro confirmou que há a intenção de se decretar estado de emergência, caso não chova nos primeiros dias de fevereiro. “A administração do governo Marco Antônio está preocupada com isso, tanto que nós estamos fazendo estudos, inclusive para talvez chegar a decretar um estado de emergência, porque esse sistema que nos abastece está com uma deficiência muito grande. Nós precisamos cumprir a lei, que é: opção número 1, abastecimento para seres humanos; opção número 2, abastecimento para animais; opção número 3, a agroindústria e opção número 4, a indústria”.
De acordo com o secretário, haverá união de esforços com as polícias Militar e Ambiental, Ministério Público, Copasa, Instituto Estadual de Florestas (IEF) e o Instituto Mineiro de Gestão de Águas (IGAM), para identificar quem está utilizando de maneira errada o sistema Ribeirão do Lage. “Se não tiver a outorga de utilização para uso dessa água, infelizmente não vai poder utilizá-la. Quem tiver utilizando mesmo com outorga, se for preciso vai ter que parar de usar. Eu sei que é um sacrifício para alguns produtores que vivem de isso, antes da captação de água existem produtores que dependem disso, mas não posso infelizmente ser irresponsável e colocar em perigo o abastecimento de água de 75 mil habitantes. Estamos sim estudando esse decreto que inclusive vai permitir que a própria fiscalização possa atuar”.
DEPERDÍCIO
Álvaro destaca que é necessário combater o desperdício. Conforme o secretário, a principal aliada para enfrentar o período de seca é a população, que na maioria, não age de maneira consciente. “É inconcebível pensar que com essa falta d’água, a gente ainda tenha muitos moradores lavando a calçada com água tratada. Que tenhamos moradores desperdiçando água, que fazem vandalismo nos registros das praças, fazendo chafariz, verdadeiros gatos para lavar carro. Então, infelizmente, o próprio momento emergencial está obrigando as administrações a tomar essas medidas, que certamente em alguns momentos são antipáticas, mas necessárias para evitar o caos, o pior”.
Com a falta d’água, o primeiro local a ser atingindo seriam os bairros localizados em topografia mais acidentada, por exemplo, o Bairro Santa Cruz, um dos mais populosos de Caratinga. Por isso, Álvaro destaca que o momento é de alerta. “Certamente quem mais vai sofrer são aqueles que moram nos altos de morros, porque simplesmente o abastecimento da Copasa precisa de uma pressão maior para chegar aos lugares mais altos. Se nós não tivermos um volume necessário, o uso racional, estes serão os primeiros. Queremos contar com a colaboração da população, depois vai ser o aspecto legal, ver quem está ou não cumprindo a legislação e a gente será obrigado a tomar medidas extremas. Hoje há crise em todos os reservatórios, sistemas de abastecimento do nosso município e do nosso estado”.
MEDIDAS
O secretário faz um chamado à população para que o uso consciente seja mais que uma garantia de conforto, mas uma questão de sobrevivência. “Gostaríamos que a gente repensasse, primeiro o ser humano, depois os animais. Graças a Deus, praticamente o nosso sistema é para abastecimento de uso humano, mas, antes da captação da Copasa existe algumas agroindústrias, pequenos produtores, que com todo esforço ao longo de suas vidas construíram suas propriedades, mas infelizmente é um momento difícil, de colaboração. O prefeito tem consciência disso e já nos mandou estudar as possibilidades para que nos possamos inclusive fiscalizar aquelas pessoas que não querem contribuir”.
Com a efetivação do decreto na cidade, Álvaro acredita que a população terá a um sofrimento menor e aqueles que não quiserem colaborar sofrerão as penalidades da lei. E ele destaca que as mudanças terão início na própria administração municipal. “Nós vamos dar o exemplo. Tínhamos na Praça Cesário Alvim irrigação todos os dias. Agora vamos irrigar uma vez por semana e, caso necessário, será uma vez a cada 15 dias ou só aquelas plantadas recentemente. É necessário que a gente mantenha as nossas praças bonitas, mas a maior preocupação é o abastecimento de água para as nossas residências”.