Aluno de escola estadual foi apreendido pela PM depois de ameaçar professor no Polivalente
CARATINGA – Há cinco anos, quando o estudo “Cotidiano das Escolas: entre violências”, realizado pela UNESCO, foi divulgado, soube-se que 47% dos professores ou funcionários das escolas analisadas já haviam sido xingados por alunos. Nas 110 escolas pesquisadas, 11% dos membros do corpo técnico-pedagógico declararam ter sofrido agressão física na escola no ano anterior. A análise foi feita em seis capitais do país. Não demorou muito para que outra pesquisa ganhasse a atenção pública. “A vitimização de professores e a alunocracia”, análise feita por Tânia Maria Scuro Mendes e Juliana Mousquer, da Universidade Luterana do Brasil (Ulbra), apontou em 2013 que 58% dos docentes ouvidos não se sentem seguros em relação às condições ambientais e psicológicas nos seus contextos de trabalho. Além disso, 89% declararam que gostariam de contar com leis que os amparassem no que diz respeito a essa insegurança.
Uma pesquisa global feita com mais de 100 mil professores e diretores de escola do segundo ciclo do ensino fundamental e do ensino médio (alunos de 11 a 16 anos) põe o Brasil no topo de um ranking de violência em escolas.
Os casos de alunos que agridem professores verbalmente ou fisicamente crescem vertiginosamente todos os dias, em escolas de todo país, seja nas capitais ou no interior.
EM CARATINGA
No início deste mês, um professor de Geografia, de 49 anos, que não será identificado por questão de segurança, precisou chamar a polícia depois de quase ser atingido por uma mesa dentro da sala de aula e ter recebido ameaças de vários tipos, inclusive de morte.
O caso aconteceu na Escola Estadual Maria Isabel Vieira, o “Polivalente”, que fica no Bairro Nossa Senhora Aparecida.
Em entrevista ao DIÁRIO DE CARATINGA, em sua casa, pois quase não sai, com medo de ser agredido, o professor contou que estava em duas turmas ao mesmo tempo, pois um colega havia faltado e quando entrou na sala do nono ano para passar atividades, ouviu um barulho estrondoso de uma mesa sendo jogada por um aluno, que quase o atingiu.
O professor contou que tem problema com este aluno, de 15 anos. “Ele conversa demais, tira atenção dos outros alunos, usa celular dentro da sala e xinga se for chamado atenção. Uso tecnologia em sala por conta do diário eletrônico, então ele acha que também pode. Ele não deixava explicar matéria. Parei de chamar atenção pelas ameaças que eu recebia”, contou.
No dia que o aluno quase acertou a mesa no professor, ele chamou a diretora para tomar uma providência, mas quando o jovem foi retirado da sala de aula e avisado que deveria voltar acompanhado dos pais, teria perdido o controle. “Ele se referiu a mim como professor fofoqueiro, perguntando o que eu tinha falado e disse que da próxima vez jogaria a mesa em mim”, disse.
A polícia precisou entrar no caso. O professor disse que acionaria a Polícia Militar para registrar um boletim de ocorrência e o aluno começou a gritar dizendo que ele mesmo chamaria e ressaltou que não tinha medo de polícia.
O professor ligou para a PM, e quando os militares chegaram, o aluno ficou nervoso, e segundo o professor, até gritou com o sargento que foi atender a ocorrência. Neste dia o professor disse que precisou ir para casa escoltado pela polícia, pois um grupo apoiou o aluno e fez diversas agressões verbais contra ele. “Guardei minha moto numa sala de aula e tranquei. Quando pedi um amigo para buscá-la, estava com os retrovisores quebrados”, contou.
O professor atualmente faz tratamento com um psiquiatra, pois teve depressão devido aos vários anos que vinha sendo ameaçado e tendo ficado pior com este último fato. Ele disse que não volta à escola. “Não volto lá, tenho medo, ando na rua com medo. Ele postou um vídeo falando muita mentira sobre mim. O professor que ficou no meu lugar disse que não volta também, pois um aluno jogou uma tesoura no quadro que quase o acertou. Infelizmente o professor não é mais respeitado”.
NA DELEGACIA
O aluno foi apreendido por ameaça verbal ao professor e foi conduzido à Delegacia de Polícia Civil. Segundo a delegada Nayára Travassos, foi feito um BOC (Boletim Circunstanciado de Ocorrência), procedimento adotado no caso de ato infracional de menor potencial ofensivo. “O aluno chegou cheio de razão, achando que estava certo, dizendo que não estava sendo respeitado, confessou a ameaça ao professor, e também ter jogado a mesa dentro da sala, conversei com ele e o entreguei à mãe”.
A delegada orientou o aluno que o caso não poderia voltar a acontecer, já que ele deve respeito ao professor. Caso o aluno volte a desrespeitar professores, outras medidas serão adotadas pela polícia.