CARATINGA – “Ah, que vontade de escrever bobagens bem meigas, bobagens para todo mundo me achar ridículo e talvez alguém pensar que na verdade estou aproveitando uma crônica muito antiga num dia sem assunto, uma crônica de rapaz; e, entretanto, eu hoje não me sinto rapaz, apenas um menino, com o amor teimoso de um menino, o amor burro e comprido de um menino lírico. Olho-me no espelho e percebo que estou envelhecendo rápida e definitivamente; com esses cabelos brancos parece que não vou morrer, apenas minha imagem vai-se apagando, vou ficando menos nítido, estou parecendo um desses clichês sempre feitos com fotografias antigas que os jornais publicam de um desaparecido que a família procura em vão” (Rubem Braga).
Mesmo diante de seu apreço pela morte, ontem Rubem Braga se fez muito vivo. Bem vivo! Aconteceu o lançamento do livro “Casa dos Braga, de Rubem Braga: Retratos de uma Morte Feliz”, escrito pelo professor José Geraldo Batista, Doutor em Estudos Literários que leciona no curso de Letras do Centro Universitário de Caratinga (UNEC). O lançamento aconteceu no aconchegante novo espaço do Núcleo de Documentações e Estudos Históricos (NUDOC).
“O próprio Rubem Braga gostava de ser chamado repórter, era um homem de jornal. Manuel Bandeira o chamava de um poeta bissexto. Suas crônicas revelavam um lirismo, uma poesia. Mesmo que uma crônica seja como um pãozinho, que deve ser servido quentinho, as crônicas do “Sabiá da crônica” ficaram imortalizadas porque foram parar em livros. Rubem Braga escrevia como se estivesse fotografando, então daí surgiu a ideia do tema deste livro”, descreve o autor.
Outros escritores, integrantes da Academia Caratinguense de Letras, professores, alunos, visitantes e músicos prestigiaram o lançamento. Um momento de “prosa intelectual” permitiu que interessados em literatura e no cronista trocassem experiências.
Para o presidente da Academia Caratinguense de Letras (ACL), Caratinga é um celeiro de produção literária. “A ACL se faz presente representada por três de seus membros para incentivar as produções literárias em nossa cidade. Essa maravilhosa obra do professor José Geraldo engrandece o acervo da Academia”, considerou.
O reitor Antônio Fonseca da Silva elogia a obra e comenta que produções como o lançamento do livro contribuem para agregar valor à Instituição de Ensino. “A produção de um livro permite que as pessoas busquem novos conhecimentos. A maneira com que o Professor José Geraldo focou as crônicas de Rubem Braga foi muito interessante e profunda. Isto só enriquece nossa Instituição. É mais um professor que entra no ritmo de escrever”, enfatizou.
No próximo dia 18, o mesmo José Geraldo Batista lançará outro livro, trazendo a obra de Rubem Braga como tema central, porém com outra temática. O evento também será no NUDOC às 19h30. O autor já antecipa alguns pontos do novo livro:
COM A FEB NA ITÁLIA: Crônicas-Reportagens, Literatura da Notícia.
Quando retornou de sua empreitada como correspondente do Diário Carioca na Segunda Guerra Mundial, junto à Força Expedicionária Brasileira (FEB), Rubem Braga (1913-1990) publicou a coletânea de crônicas Com a FEB na Itália (1945). Evidentemente, na seleção dos textos, o autor considerou o contexto político e ideológico do Brasil de meados dos anos 1940, já que, naquele tempo, o Brasil passava por um momento singular: pretendeu-se uma “redemocratização” do país e houve formação dos partidos políticos.
“Eleições presidenciais estavam marcadas para 2 de dezembro e Getúlio Vargas fora forçado a se renunciar, seu sucessor começou a reprimir os comunistas, nomeou novos interventores nos estados e foram substituídos alguns prefeitos, como afirmado por Boris Fausto, em História do Brasil (2010)”, ressalta José Geraldo.
Neste sentido, partindo de tais informações, o texto do professor-escritor investiga o valor de registro histórico de Com a FEB na Itália, bem como aponta as marcas subjetivas do seu narrador, uma vez que, devido a uma tensão entre os focos narrativos clássico, moderno e pós-moderno em tal obra, por si só, as marcas subjetivas do narrador já vêm à tona. E o tempo particular e definido, atravessado pela experiência e pela memória pessoal do repórter, mescla de linguagem subjetiva e objetiva – respectivamente, literatura e jornalismo – os textos das crônicas.