57 focos foram registrados em Caratinga em apenas 16 dias
CARATINGA – O número de focos de incêndio registrados em todo o país durante os primeiros 15 dias de outubro mais que dobrou em comparação ao mesmo período do ano passado. Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), disponíveis no Portal do Monitoramento de Queimadas e Incêndios, apontam que, entre 1º e 15 de outubro deste ano, o total de focos chegou a 24.237, resultado 113% maior que os 11.375 casos verificados no mesmo período de 2013.
CARATINGA
No município de Caratinga os números também são preocupantes. Até às 23h59 desta quinta-feira (16) tinham sido registrados 57 focos de incêndio. Em 2013, durante este mesmo período, nenhum foco foi registrado no munícipio.
Em algumas ocorrências existe a suspeita de que o fogo foi colocado de maneira criminosa, caso do incêndio registrado no dia 8 de outubro na Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Feliciano Miguel Abdala. A reserva de Mata Atlântica que abriga uma espécie de macaco ameaçada de extinção, o Muriqui, fica no distrito de Santo Antônio do Manhuaçu, em Caratinga. Os dois focos foram combatidos pelo Grupamento de Bombeiro Civil de Caratinga, que recebeu ajuda de diversos voluntários. O fogo foi debelado, mas chegou a atingir sete hectares.
Se o autor do incêndio for identificado, ele será processado de acordo com a Lei n. 9.605 /98, que dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente. O artigo 41 tipifica como crime contra a flora, a conduta de provocar incêndio em mata ou floresta. A pena é de reclusão, de dois a quatro anos, e multa. Já se o incêndio for culposo, ou seja, sem a intenção; a pena é de seis meses a um ano de detenção, e multa.
Outro foco de incêndio aconteceu na última quarta-feira (15) na área de vegetação próxima a um depósito de materiais de construção na Rua Paulina Miranda, no Bairro Esplanada. O fogo atingiu parte do galpão onde alguns funcionários trabalhavam. Com o vento, as chamas se alastraram rapidamente e também ameaçaram residências vizinhas. Bombeiros civis, com ajuda de voluntários, trabalharam e contiveram as chamas. As causas desse incêndio estão sendo apuradas.
Focos de incêndio nos municípios da região registrados entre 1º e 16 de outubro. Os dados são do Inpe:
Município
Bom Jesus do Galho – 10 focos
Caratinga – 57 focos
Córrego Novo – 24 focos
Inhapim – 12 focos
Piedade de Caratinga – 15 focos
Santa Bárbara do Leste – 18 focos
Santa Rita de Minas – 01 foco
Ubaporanga – 16 focos
BRASIL
Se o ritmo atual se mantiver pelas próximas duas semanas, o total de focos de incêndio ativos também será maior que os de agosto e setembro últimos. Ao longo de todo o mês passado, foram registrados 43.174 casos. Historicamente, setembro é o mês que concentra o maior número de ocorrências de todo o ano.
Mais de 1.600 brigadistas do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) combatem o fogo em áreas críticas, unidades de conservação e terras indígenas espalhadas por todo o país. Focos de incêndio já atingiram o Parque Nacional do Araguaia (TO), o Parque Nacional da Serra dos Órgãos (RJ); o Parque Nacional da Serra do Cipó (MG) e a Serra da Cantareira (SP), entre outras localidades, como a região metropolitana de Belo Horizonte. Só no estado de São Paulo, segundo o Corpo de Bombeiros, a cada oito minutos e meio é registrado o início de um incêndio em área de mata.
De acordo com o coordenador do Centro Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais (Prevfogo), Rodrigo Falleiro, o resultado de todo este ano já era esperado. “Como choveu muito, 2013 foi um dos anos em que tivemos menos focos de incêndio na história. Neste ano, foi bem mais seco. Por isso, já esperávamos o aumento do número de focos em comparação ao ano passado”, disse Falleiro, comparando os dados anuais consolidados.
Mesmo se comparados apenas os primeiros 15 dias de outubro, o total de focos registrados em 2013 é 29% inferior ao resultado do mesmo período de 2012. Mas mesmo as 16.063 ocorrências de dois anos atrás ficam bem abaixo das atuais 24.237.
Ao longo dos últimos 15 dias, os estados que registraram o maior número de focos foram Mato Grosso (3.801), o Maranhão (3.578), Minas Gerais (3.408), o Pará (2.938), Tocantins (2.802) e a Bahia (1.594). Só as cidades de Cocalinho (MT) e de Paranã (TO), juntas, totalizam 177 focos de incêndio, Quando analisadas as últimas 48 horas, Minas Gerais e o Tocantins lideram a lista das unidades da Federação com mais queimadas, com, respectivamente, 864 e 526 casos.
O bioma mais afetado nos últimos dois dias foi o Cerrado. No segundo maior ecossistema brasileiro – que se estende por oito estados (Minas Gerais, Goiás, Tocantins, Bahia, Maranhão, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Piauí e Distrito Federal) – foram registradas 2.126 ocorrências, o que equivale a 59% dos incêndios dos dois últimos dias. A Amazônia teve 661 focos (18,5%), a Mata Atlântica. 642 (18%) e a Caatinga, 142 (4%).
TECNOLOGIA PODE IDENTIFICAR QUEIMADAS EM TEMPO REAL
Reduzir as interrupções no fornecimento de energia elétrica causadas por incêndios, auxiliar na preservação de áreas de proteção ambiental e diminuir a poluição ambiental nos grandes centros urbanos são as principais vantagens da utilização de sistemas para o monitoramento de áreas com risco de incêndio.
Uma tecnologia está sendo implementada pela Companhia Energética de Minas Gerais – Cemig, em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Axxiom, Enacom e DspArt. O projeto tem financiamento da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) por meio do Programa de Pesquisa e Desenvolvimento e vai permitir a detecção de focos de fumaça e de fogo por meio de uma nova técnica de processamento em tempo real de imagens digitais disponibilizadas via web.
Uma área piloto para os testes de campo já foi montada na área de preservação do BH-Tec, no campus da UFMG, localizado na região da Pampulha, em Belo Horizonte.
Com o aumento expressivo nos registros de incêndio no País e, em especial, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, a aplicação desta tecnologia pode representar um importante aliado no combate e prevenção dos futuros incêndios em áreas previamente monitoradas, conforme explica o engenheiro de tecnologia e normalização Carlos Alexandre Meireles do Nascimento, da Cemig, que atua como gerente do projeto.
Por outro lado, o sistema disponibilizará, em tempo real, as imagens e o processamento digital de forma autônoma por meio de algoritmos de inteligência computacional para os internautas, que, por sua vez, poderão auxiliar na identificação precoce e precisa dos focos de fumaça, assim como na determinação da evolução dos focos de fogo. Dessa forma, será possível, por exemplo, acionar alarmes para as autoridades responsáveis, via web.
Assim, em um futuro próximo, áreas de preservação ambiental poderão ser supervisionadas em tempo real com uma ampla colaboração dos internautas. O objetivo é reduzir os registros de incêndio nos grandes centros urbanos e, para a Cemig, melhorar a qualidade dos serviços, por meio da redução das interrupções no fornecimento de energia elétrica causadas por incêndios próximos às redes.
DICAS
De acordo com a Cemig, as principais causas de incêndios florestais em Minas são a queima preparatória de pastos e de terrenos para plantio, especialmente em períodos de altas temperaturas e baixa umidade do ar, além da queima de lixos e de tocos de cigarros jogados em beiras de estradas e descargas atmosféricas. Para ajudar a diminuir os focos, a Empresa recomenda:
- fazer queimadas somente com autorização do Instituto Estadual de Florestas (IEF), Ibama ou órgãos competentes e de forma controlada, com a construção de aceiros e barreiras que impeçam a propagação das chamas. O aceiro pode ser feito por meio de valas ou da limpeza do terreno, de modo a obstruir a passagem do fogo.
- não jogar pontas de cigarro próximo a qualquer tipo de vegetação.
- apagar com água o resto do fogo em acampamentos para evitar que o vento leve as brasas para a mata.
- não realizar queimadas a menos de 15 metros de rodovias, de ferrovias e do limite das faixas de segurança das linhas de transmissão e distribuição de energia elétrica.
A Cemig lembra que é proibido o uso de fogo em áreas de reservas ecológicas, preservação permanente e parques florestais. De acordo com a legislação, o indivíduo que cometer o crime ambiental terá que responder a processo, com possibilidade de prisão, e deverá pagar multa pelo dano ambiental causado.
Em caso de incêndios, o Corpo de Bombeiros ou as Brigadas Voluntárias de Combate a Incêndios Florestais devem ser avisados o mais depressa possível.
Com informações da Agência Brasil