Casal deixa o conforto de sua residência e desde 2011 trabalha evangelizando em um país africano
Todos nós temos sonhos e uma vida confortável é um desses anseios. Mas o casal formado pelo caratinguense Felipe de Oliveira Lopes e por Graciele Marciene Janaina de Oliveira Lopes, nascida em Conselheiro Lafaiete, tem outros objetivos. Casados há seis anos, eles ouviram um chamado e foram cumprir o que dizia esse chamado. Desde 2011 o casal realiza trabalho missionário na Guiné-Bissau. Eles residem na capital desse país africano, Bissau, e evangelizam pelas aldeias da região dessa cidade.
O casal tem o filho, Noah, de um ano e dois meses. Até os cinco meses de gravidez, Graciele esteve na Guiné-Bissau. Depois veio ao Brasil para ter o bebê. Assim que Noah nasceu, voltou para cumprir sua missão na África.
Felipe e Graciele são membros da Igreja El Shaddai, situada no Bairro Esplanada, em Caratinga. Giovanni Corrêa é o pastor dessa igreja.
Ao deixar o Brasil, Felipe e Graciele encontraram uma realidade bem diferente da nossa. Eles tiveram que aprender a viver num país que está na África Ocidental. Aprenderam a lidar com as diferenças em um território que abrange 36.125 quilômetros quadrados de área, com uma população estimada de 1,6 milhão de pessoas. Outro fator que deve ser levado em consideração é que a Guiné-Bissau tem um histórico de instabilidade política desde a sua independência, declarada em 1973 e reconhecida em 1974, e nenhum presidente eleito conseguiu completar com sucesso um mandato completo de cinco anos. Apenas 14% da população falam português, estabelecido como língua oficial durante o período colonial. Quase metade da população (44%) fala kriol, uma língua crioula baseada no português, enquanto o restante dos habitantes fala uma variedade de línguas africanas nativas. As principais religiões são as tradicionais africanas e o islamismo; mas o cristianismo vem crescendo graças ao trabalho de pessoas abnegadas como Felipe e Graciele. “Estamos aqui desde janeiro de 2011, não temos data certa ainda para voltar ao Brasil, mas provavelmente será entre junho a novembro do ano que vem. Não sabemos ainda para onde vamos depois, só o Senhor sabe”, avisa Felipe Lopes.
Como a fé remove montanhas, ela fez com que o casal deixasse o conforto do lar e fosse levar uma mensagem em outro continente. Felipe e Graciele seguem à risca o que diz o evangelho segundo Marcos 16:15: “Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura”.
Por e-mail, o casal respondeu as perguntas do DIÁRIO.
Como surgiu a ideia de serem missionários em outro país?
Isso surgiu primeiro no coração de Deus e depois Ele colocou em nós quando ainda éramos solteiros. Foi o amor por missões que nos uniu.
Por que escolheram a Guiné Bissau?
Não somos nós que escolhemos, mas sim o Senhor, assim como poderia ser em qualquer lugar do Brasil ou do mundo.
Fale um pouco sobre o que encontraram neste país, como costumes e hábitos.
Guiné-Bissau tem aproximadamente 27 etnias e cada uma tem algo particular, mas de forma geral eles sempre fazem cerimônias com derramamento de sangue de animais para oferecer aos demônios, onde há muita dança e vinho de caju. Eles gostam muito de conversar com estrangeiros e querem saber sobre nosso país.
Foi difícil a adaptação?
Não, porque ficamos três meses em uma base missionária e depois que saímos para as aldeias. Com um ano aprendemos o crioulo, que é a língua mais falada na Guiné-Bissau.
Como vocês se prepararam para serem missionários? Quais as principais qualificações para serem missionários em outra cultura?
Fizemos um curso de Teologia no Brasil que durou dois anos. Depois fizemos outro curso, de cinco meses na Missão Jocum, aqui em Guiné Bissau.
Ser missionário cristão é estar totalmente disponível para o Senhor e ser dependente do Espírito Santo, essas são as principais qualificações, o resto Ele cuida, como saúde, finanças e outras coisas.
Como é a igreja que vocês são missionários no continente africano em termos de abrangência?
Temos hoje aqui duas igrejas em duas aldeias diferentes, apesar de nós termos começado, são igrejas típicas africanas, eles gostam de cantar e são muito alegres. O culto é todo em crioulo e procuramos sempre ver o que podemos melhorar na igreja para que eles se sintam a vontade.
Poderiam nos descrever experiências marcantes neste trabalho?
Quando íamos à feira comprar legumes, sempre víamos uma menina bem doente e magrinha sentada na calçada e com um olhar muito triste. Então resolvemos ajudá-la, e durante um tempo sua mãe, que era uma jovem de 14 anos, levava essa menina todos os dias em nossa casa para darmos a ela papa com leite, mas a menina não melhorava. Então a levamos para um hospital e o médico disse que ela estava com anemia profunda e precisava de internação porque não conseguia mais se recuperar só com alimentos. A menina estava muito fraca e iria morrer se ficasse assim por mais uma semana. Então ficou internada durante uma semana e se recuperou graças a Deus. Depois descobrimos que sua mãe se prostituía e não cuidava dela direito. Assim pedimos a mãe para deixá-la num orfanato cristão que tem aqui. Ela aceitou e a criança esta muito bem e com saúde novamente graças a Deus.
Qual a principal lição de vida aprendida em ser missionário?
Aprendemos a confiar de fato em Deus.
Qual o conselho para alguém que quer ser missionário?
Cremos que antes de alguém querer ser um missionário, Deus que o escolhe e é um chamado irresistível.
Valeu a pena deixar o conforto do lar para ser missionário em um lugar tão distante?
Isso é o mínimo que podemos fazer em gratidão ao que o Senhor Jesus fez por nós, sermos obedientes naquilo que Ele quer de nós.
Para terminar deixamos essa frase que resume bem sobre o que é ser um missionário: “Ser missionário não é só percorrer grandes distâncias, ir para outros continentes, mas é a difícil viagem de sair de si, ir ao encontro do outro, ir ao encontro do “diferente”, ir ao encontro do marginalizado”.