Recuperando cometeu suicídio e o caso refletiu ainda no presídio de Caratinga, onde detentos atearam fogo em colchões
CARATINGA – Uma família de Santa Bárbara do Leste procurou o DIÁRIO DE CARATINGA para expor as circunstâncias que teriam levado ao suicídio de um recuperando da Associação de Proteção e Assistência aos Condenados (Apac) de Caratinga. O fato aconteceu por volta de 14h30 de sábado (11) e os familiares alegam negligência por parte da unidade.
Aloízio Marques da Silva deu entrada na Apac no dia 23 de janeiro de 2012. Atualmente, cumpria o regime semiaberto. De acordo com Dalilia Maria da Silva, irmã de Aloízio, o recuperando foi diagnosticado com esquizofrenia paranoide e por isso passava por acompanhamento médico constante. Laudo apresentando pela família confirma a doença e a necessidade de cuidados.
No entanto, nos últimos dias, Aloízio vinha apresentando um comportamento estranho. Segundo as familiares, ele queixava-se de maus tratos na unidade e chegou a dizer por três vezes que iria se suicidar. E isso veio a se confirmar no sábado. Ele foi encontrado isolado, com sinais de enforcamento. “Eles prenderam o meu irmão sozinho, disseram que era um castigo. A Apac tem acesso aos documentos, sabia que o meu irmão era doente, levavam meu irmão nas consultas, a última foi dia 14 do mês passado. Apresentam duas versões para a morte dele. Uma de que ele tinha ido tomar café da manhã e na hora de levar o almoço, encontraram ele morto. A outra versão é que encontraram-no quando vieram buscar as vasilhas do almoço. O pessoal da Apac acompanhava, mas as consultas minha mãe quem custeava, os remédios, têm três caixas de medicamento que vai ter que devolver pra farmácia, porque era pra dois meses”.
Dalilia ainda destaca que sua mãe fez uma certidão de interdição pra custear o tratamento de Aloízio. No laudo está escrito que ele não poderia trabalhar, mas, a família alega ter encontrado marcas nas mãos do recuperando. “Na documentação fala que ele não tinha condições de trabalhar, nem físicas e nem psicológicas e eles colocaram ele para trabalhar, sendo que as horas que ele trabalhava não colocavam para assinar. Semana passada a mãe teve aqui (na Apac), ele estava muito revoltado, disse que ia tirar a vida e o pessoal da Apac sabia disso. Eles tinham conhecimento que ele quebrou uma lâmpada, misturou com água e tomou, quebrou uma vassoura, fez um punhal pra tentar se matar e perguntou para outro detento onde era a veia artéria”.
Para Dalilia, o irmão não se sentia bem no local. Ela afirma inclusive que ele desejava ser transferido. “Eles sabendo disso tudo colocaram ele em uma sala sozinho, não fizeram nada, deixaram pra fazer o que ele fez. Ele reclamava muito que estavam maltratando-o demais. Fui à Apac ontem (domingo), eles falaram comigo que o sonho do Aloízio era ser transferido para o presídio, de tanto que eles estavam maltratando ele”.
A família afirma que ficou sabendo do suicídio horas depois e que não receberam informações detalhadas sobre o caso. “Eu estava dentro do ônibus, indo embora, o pessoal da Apac passou com o carro na nossa frente, ligou para a minha irmã querendo falar com o esposo dela, porque não queria dar a notícia pra ela. Quando a gente desceu do ônibus, subiu o morro, eles deram a notícia pra gente no meio da rua. Não tivemos nem preparação psicológica para receber uma notícia dessas. O pessoal da Apac não deixou a gente fazer nada, nem ver o corpo direito, eles tomaram as providências. Na hora que a gente ficou sabendo já estava no IML (Instituto Médico Legal) há muito tempo”.
PRESÍDIO
Detentos atearam fogo em colchões no início da noite deste domingo (12) no presídio de Caratinga. Segundo a Polícia Militar, quando os policiais chegaram, o fogo já tinha sido contido por agentes penitenciários.
De acordo com os militares, o fogo começou na cela quatro, do bloco B, e os colchões queimaram por completo. As chamas danificaram também a grade de proteção da cela, onde começou a confusão.
Durante a tentativa de conter as chamas, um agente penitenciário foi desacatado por um preso. Um detento teria xingado o funcionário e ainda arremessado um marmitex, que acertou o rosto do agente.
O episódio tem conexão com o caso de Aloízio. O detento acusado do tumulto é Ênio Marques da Silva, 32 anos, irmão de Aloízio. Os familiares afirmam que o preso se revoltou após não ter sido levado ao sepultamento do irmão. “Ele queria ver o irmão pela última vez e eles não deixaram, e eu sei que tem uma lei. O documento que era necessário para conduzi-lo até o sepultamento foi entregue na mão do inspetor e mesmo assim eles não levaram. O sepultamento estava marcado para as 15h, disseram que levariam até antes. Como ele não chegou e o pessoal da funerária insistindo que o corpo não estava preparado para suportar o tanto de horas que tinha pra esperar, eu pedi pelo amor de Deus pra esperar. Ele ficou revoltado e os outros presos também foram solidários a ele”, explica Dalilia.
Com a demora, Dalilia foi até o presídio em busca de notícias e foi informada por um inspetor de que a viatura havia quebrado no momento em que conduziam Ênio. “Eu falei com ele que mais cedo, quando vim aqui entregar o documento, tinham três viaturas no pátio. Ele disse que duas estavam quebradas e a outra era ambulância, que não pode conduzir preso. Eu pedi pra pelo menos tomar conta dele, pra não acontecer outra tragédia. Os dois irmãos eram apegados demais. O Ênio sempre perguntava pelo Aloísio, gostava demais dele”.
Para a família, fica a sensação de revolta. “Esse sistema prisional aqui está muito incompetente. O que eles fizeram com os meus irmãos não faz nem com cachorro. Meu irmão estava na Apac para recuperar, entrou bem e saiu dentro de um caixão”.
A Reportagem procurou a Apac para que apresentasse a sua versão dos fatos. No entanto, não houve resposta até o fechamento desta edição