Provedor apresenta balanço da situação financeira e mudanças que estão para acontecer no HNSA
CARATINGA – O provedor do Hospital Nossa Senhora Auxiliadora (HNSA), padre José Antônio Nogueira, convocou a imprensa no final da tarde de ontem para fazer um balanço das atividades da unidade de saúde nos últimos meses. O hospital tem uma dívida que gira em torno de R$ 12 milhões e chegou a ficar sem anestesista, tendo que cancelar cirurgias.
Segundo o provedor, a situação atual é mais tranquila do que em outros períodos e o momento não é de lamentar, mas, de ter esperança. “Neste curto período, iniciado em junho deste ano, com esta presença constante, foi possível a igreja conhecer um pouco a atual situação do hospital e a realidade da saúde. Como já é de nosso conhecimento a saúde no país anda doente. Aqui em Caratinga não é diferente. Apresentamos a sociedade e região resultado, embora pequeno, do nosso esforço nesse curto espaço de tempo de nossa gestão. Vale lembrar que estamos diante de uma realidade complexa que é a administração hospitalar e ainda com poucos recursos diante da exigência e aumento da demanda, que está sendo arrastada por longos anos. Seria pretensão e inviável querer solucionar em curto prazo a situação da saúde da região, sabendo que estamos mergulhados numa imensa crise nacional. Os passos possíveis estão sendo dados e temos plena confiança que o caminho vai sendo construído com firmeza, sem perder a ternura”.
MUDANÇAS NA MATERNIDADE
Obstetras, pediatras, enfermeiros e técnicos de enfermagem estão fazendo um curso de capacitação e atualização promovido pelo estado, o perinatal. A partir deste curso, foram feitas várias mudanças nos setores de UTI neonatal, maternidade e pediatria, como: parto humanizado, área de recebimento para primeiros cuidados do recém-nascido, onde este permanece com a mãe durante todo o período pós-parto e encaminhado ao setor de alojamento conjunto, implantação da classificação de risco, o que possibilita a identificação das propriedades para atendimento e não mais por ordem de chegada, priorizando assim, as que necessitam de maior urgência em atendimento.
A maternidade contará com serviço de cartório dentro da maternidade, onde a criança já sairá com registro de certidão de nascimento e teste do coraçãozinho em que todos os recém-nascidos farão antes de sair de alta. Todos os funcionários estão envolvidos nas mudanças, apoiando o padre José Antônio, buscando melhorias e aperfeiçoamento para melhor atendimento à população.
O balanço de rescisões trabalhistas apresenta de junho a outubro deste ano, administrador (junho); seis técnicos de enfermagem, quatro auxiliares de limpeza, três recepcionistas e uma costureira (julho); um técnico de enfermagem, dois auxiliares de limpeza, um recepcionista, um faturista, duas copeiras, um enfermeiro e um auxiliar de lavanderia (agosto); uma secretaria administrativa, um auxiliar de custos, um enfermeiro e um técnico de enfermagem (setembro) e um na função de coordenação de projetos (outubro). Um total de 29 rescisões, sendo apenas uma por aposentadoria. O custo mensal com folha de pagamento era de R$36.559,55.
Portanto, para o provedor, esta é uma economia significativa, tendo em vista que não foi realizada nenhuma contratação neste período. O funcionamento do hospital, apesar de tudo isso, está acontecendo de maneira brilhante. Os funcionários trabalhando muito, mas alegres nos seus serviços.
ANESTESIOLOGIA
Desde o dia 8 de julho, o Hospital está contando com a presença em tempo integral de uma equipe de anestesiologistas. Os profissionais são de cidades da região e atuam em escala de revezamento. “Isso foi fundamental para a imagem, credibilidade e bom funcionamento do hospital. Eles estão fazendo a diferença aqui na nossa cidade. Gosto também de lembrar e ser grato aos que estavam antes, porque foram muito importantes, significativos aqui no hospital. Tendo em vista que eles mesmos, percebendo que não eram suficientes e não dariam conta, não teriam condições, eles mesmos pediram seu afastamento e tivemos que contratar esta nova equipe. Hoje nós recebemos, por exemplo, muitos elogios por parte das cirurgias, das cesáreas, dos pacientes, o atendimento que os anestesistas fazem é espetacular”.
De acordo com padre José Antônio, a presença destes profissionais elevou de forma considerável o número de cirurgias e cesarianas, no tempo em que estão atuando no HSNA. O número de cesarianas e cirurgias apresenta-se em: de 8 de junho a 8 de julho (147), 9 de julho a 8 de agosto (150), 9 de agosto a 7 de setembro (160) e 8 de setembro a 7 de outubro (198).
DÍVIDA
A direção do hospital ainda apresentou dados mostrando que a dívida não tem crescido como antes. A unidade tem hoje uma receita de cerca de R$ 1,5 milhão por mês e despesas de R$ 1,8 milhão. Segundo o provedor, parte do recurso que entra já é utilizado no abatimento da dívida, creditada à defasagem da tabela do SUS (Sistema Único de Saúde). “A saúde é direito de todos, mas para que o direito seja validado, concretizado, é preciso que aqueles que são responsáveis em fazer esse direito acontecer, cumpram com o seu dever”.
Ele destaca que além da economia, é necessário fortalecer os laços com as prefeituras conveniadas. Pelo menos quatro delas estão inadimplentes com verbas complementares referentes ao exercício de 2014. “Temos que buscar outros recursos, melhorar a questão do envolvimento com as prefeituras, para que eles assumam de fato aquilo que é dever deles com a gente, também o estado, federal. Precisaríamos com urgência, repensar na tabela do SUS, ela não funciona. Ela não responde mais à expectativa de mercado. Tivemos aumento de salário, de combustível, de tudo, menos da tabela do SUS. Então tudo subiu assustadoramente. O custo não cobre as entradas, infelizmente”.
O provedor também espera conseguir apoio de políticos bem votados na região no pleito de domingo (5). Foram encaminhadas oito emendas parlamentares, para aquisição de automóvel para transporte, material e medicamento, gêneros alimentícios; tecidos, produtos de limpeza e higienização; material de escritório, equipamentos de proteção individual (EPI) e cama hospitalar. “Estamos na confiança que elas sejam contempladas e liberadas para custeio do hospital em 2015”.
Tem se especulado uma possível parceria com o Centro Universitário de Caratinga (Unec), que poderia assumir a administração do hospital. O presidente da mesa diretora da unidade de saúde, bispo dom Emanuel Messias, vai falar sobre o assunto na manhã de hoje.
Funcionários aprovam mudanças
Os funcionários do Hospital Nossa Senhora Auxiliadora acreditam nas mudanças propostas pela nova administração. De acordo com o enfermeiro Sinésio Pontes Gonçalves, é possível sentir o impacto positivo nesta nova fase do HNSA. “Nesse curto período de tempo, depois que o padre José Antônio assumiu a administração, a gente está sentindo mais seguro, principalmente pela forma de administrar com diálogo com os funcionários mais antigos, ouvindo mais. Aumentou o número de paciente, partos, cirurgia, a gente sente certa segurança que há tempos atrás a gente não via no hospital”.
Fernanda Sales, pediatra e coordenadora da UTI neonatal, afirma que os benefícios são ainda maiores nesse setor. Para ela, o diálogo foi fundamental. “Nós tivemos muitas mudanças, interação, oportunidades de conversa, aquisição de novos materiais, com toda a dificuldade ainda financeira que o hospital está passando. Fomos mais ouvidos, mais direcionados, temos muita participação entre a equipe médica e a equipe administrativa, isso traz muitos benefícios pra sociedade e tranquilidade para a equipe médica trabalhar. Ainda temos muitos desafios a serem cumpridos, metas a serem atingidas, mas estamos muitos esperançosos de que vamos chegar lá, com a ajuda da administração hospitalar”.
Ela destaca que a sensação de tranquilidade se estende ainda à população que utiliza dos serviços prestados no local. “Uma satisfação trabalhar aqui dentro, as mães, as gestantes, podem ficar tranquilas realmente. Aqui temos uma estrutura muito importante, como não tem em muitas regiões próximas de Caratinga. É uma conquista que tem que ser valorizada, protegida e incentivada. Um acompanhamento muito seguro, temos uma resolutibilidade realmente muito grande aqui dentro e isso tem que ser financiado e guardado”.
A técnica em Enfermagem Denise de Melo também acredita que o hospital está próximo de viver dias melhores. “A gente tem sentido certa tranquilidade. Temos visto que o padre está administrando de uma forma bem transparente, junto com os funcionários, esse é um ponto muito positivo. E também a igreja está mais participativa, inteirando mais da situação do hospital”.