Luciano Cherubini
É preciso entender o que se faz. Mas nem sempre sobra tempo pra isso. Jornalista que o diga. E não é diferente com outras tantas profissões. Fazer essa reflexão não é fácil. “Perde-se” tempo com isso. E tempo, hoje em dia, principalmente em grandes cidades, está mais difícil de se encontrar do que água.
Meus colegas de profissão não me deixam errar. Jornalista mal tem tempo pra comer, que dirá parar em frente à tevê e assistir à reportagem que lhe consumiu grande parte do dia, ou dias. E aposto que você, leitor, também já se viu nessa mesma situação em sua área profissional.
Essa e outras verdades da profissão comecei a descobrir há quase 17 anos, quando iniciei minha carreira no Diário de Caratinga. Mas fui sentir mesmo na pele nas grandes emissoras de televisão por onde passei, na Região Metropolitana de São Paulo.
Lembro que meu recorde de corrida contra o tempo foi na TV Globo. A reportagem era para o SPTV 1ª Edição, noticiário que cobre a Grande São Paulo. Já passava das 10 horas da manhã e tinha que partir do zero numa matéria que iria ao ar por volta de meio dia. O tema era controle de emissão de gases poluentes em veículos de grande porte. Daquelas matérias que surgem em cima da hora.
Procurei algumas pessoas, conversei, entrevistei, escrevi meu texto, gravei a passagem (momento em que o repórter aparece na reportagem), passei o texto com o editor de lá mesmo, corri para o carro, gravei a narração e entreguei a mídia para o motoqueiro que já aguardava do lado de fora com o editor cobrando a entrega do material pelo telefone. Tudo isso em aproximadamente 40 minutos. Eu nem me lembro se voltei pra me despedir dos entrevistados.
Com o tempo – e aqui me refiro à repetição dessa rotina louca – aprendi que qualidade não é sinônimo de quantidade. Ainda guardo comigo reportagens dos tempos que trabalhei no Diário de Caratinga. A maior parte dessas matérias saiu na página Especial, publicada aos domingos. Eram os textos mais pensados, com cruzamento de informações, resultado da consulta a várias fontes, com levantamento estatístico e embasamento legal.
Na midiateca aqui de casa também guardo grandes reportagens feitas para o programa semanal Caminhos da Reportagem, da TV Brasil, emissora pública brasileira. Com matérias desse tipo, muitas vezes, vale a pena “perder” tempo e descobrir o que elas têm a dizer. Muitas vezes são elas que promovem a formação de opinião, que conscientizam efetivamente. São sobreviventes nessa ditadura do tempo que domina o noticiário instantâneo da mídia contemporânea.
O que a Comunicação Pública tem a nos ensinar
Não é segredo pra ninguém que uma boa forma de refletir sobre o que se faz está na literatura, no congressos anuais, no pensamento produzido pela academia. Pesquisando sobre Comunicação Pública no último ano, observei que esse conceito ainda está em construção em muitos países. Mas quando se fala em pesquisas brasileiras, uma coisa é certa: cidadania é palavra-chave ao investigar se um processo comunicativo se caracteriza ou não como exemplo de comunicação pública.
O cidadão melhor informado passa a ter domínio sobre seus direitos e deveres e assume assim um papel mais participativo na sociedade. Apoderando-se de um termo característico das mídias sociais, ao compartilhar conhecimento, a comunicação pública cumpre a missão de promover o bem-estar social.
Jamais deve se perder de vista o foco no cidadão, na informação de interesse público. Mas na correria das redações, muitas vezes, só se executa. Nunca se questiona. Até que ponto o resultado desse trabalho vai contribuir para o exercício da cidadania? É essa reflexão que nós jornalistas devemos fazer sempre. Perder tempo com isso significa ganho para a sociedade.
* Luciano Cherubini é jornalista. Pós-graduando em Comunicação Pública. Cobre o Poder Judiciário Trabalhista em São Paulo. As reportagens são veiculadas nos canais do Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região e na TV Justiça. Antes passou pela TV Brasil, TV Globo SP e TV DIÁRIO-Afiliada Rede Globo de Mogi das Cruzes. Começou no Jornalismo no Diário de Caratinga, em 1998.