É possível discutir política sem perder as amizades?
CARATINGA – Discussões acaloradas. As redes sociais se tornaram palco de brigas em defesa dos candidatos à presidência nas eleições 2014. Muitas vezes, a divergência de opiniões termina em ofensa. E na maioria das vezes, nem mesmo as pessoas mais próximas escapam das “farpas”, quando se está do lado oposto, até mesmo familiares e amigos.
Dados da Safernet, entidade que recebe denúncias de crimes cibernéticos, indicam que entre 28 de setembro (data do debate na TV em que Levy Fidelix fez declarações consideradas homofóbicas) e 6 de outubro (o dia seguinte ao primeiro turno) houve 3.734 denúncias sobre crimes de ódio na internet. Esse número é mais do que o triplo do acumulado no mesmo período no ano passado – 1.221 denúncias.
Especialistas acreditam que as eleições de 2014 têm sido as de maior violência entre eleitores. Já há até registros de agressão física. Os candidatos se enfrentam na TV e os eleitores fazem um debate paralelo nas redes sociais. Rapidamente, os chamados “memes” com os principais momentos dos candidatos viralizam pela internet.
Há até quem prefira “dar um tempo” nas relações durante o período eleitoral, para evitar as divergências. Mas, há aqueles mais radicais que excluem ou bloqueiam aqueles que são contrários às suas ideias. Xingamentos, ameaças, os registros são inúmeros de postagens agressivas em todo o país.
De um lado aquele que quer argumentar, mas não convencer a votar em seu candidato. De outro, quem quer brigar e não aceita ser contrariado. Verdadeiro “cabo de guerra”, que vai muito além do embate tucanos x petistas, quadro atual para o segundo turno.
Será que as pessoas estão sabendo debater política nas redes sociais? O DIÁRIO ouviu alguns eleitores para saber se é possível discutir política sem perder as amizades.
Para Rhanielle Izabelle Paulino Cruz, atualmente não é possível expor sua opinião sem atingir outras pessoas. “Infelizmente as pessoas que são apaixonadas por política não deixam brecha para se discutir, então sendo ou não por redes sociais não há como discutir este assunto. Prefiro mudá-lo. Duas coisas que não foram feitas para se discutir são política e religião”.
Raul Miranda acredita que há a possibilidade de discutir o assunto, embora nem sempre de maneira confortável. “Talvez sim. Entretanto há alguns que não se conformem em ver rebatidas suas opiniões. Geralmente os mais vazios de argumento, usando apenas palavras de ordem, se sentem ofendidos quando desmentidos. Mas é parte do jogo”.
Raniele Moreira é bastante otimista e acredita que o importante é falar, mas também saber ouvir. Em tempos de política, o importante é ter em mente que as eleições passam, mas as amizades ficam. “Eu acho que é possível sem perder as amizades. Temos que saber respeitar as opiniões contrárias às nossas”.
CAMPANHA DO MINISTÉRIO DA JUSTIÇA
No começo de outubro, o Ministério da Justiça soltou uma campanha pelas redes sociais para conscientizar os internautas para que mantenham os direitos individuais e evitem conflitos pessoais.
Veja a íntegra do texto:
“Liberdade de expressão é o direito de manifestar livremente opiniões e ideias. Entretanto, o exercício dessa liberdade não deve afrontar o direito alheio, como a honra e a dignidade de uma pessoa ou determinado grupo. O discurso do ódio é uma manifestação preconceituosa contra minorias étnicas, sociais, religiosas e culturais, que gera conflitos com outros valores assegurados pela Constituição, como a dignidade da pessoa humana. O nosso limite é respeitar o direito do outro.”