Agente funerário é preso suspeito de retirar órgãos de idoso. Caso aconteceu neste domingo (19) em Bom Jesus do Galho. Após muitos transtornos, a família conseguiu fazer o sepultamento nesta segunda-feira (20)
BOM JESUS DO GALHO – Um agente funerário, 51 anos, foi preso neste domingo (19) acusado de retirar órgãos do corpo de Vicente Bernardino da Silva, 89 anos. O caso foi registrado em Bom Jesus do Galho. Depois de passar por momentos constrangedores e de muito sofrimento, a família do idoso só conseguiu sepultar seu corpo na tarde dessa segunda-feira (20).
Conforme denúncia recebida pela Polícia Militar, o idoso, que morreu no último sábado (18), teve os órgãos retirados do corpo em uma funerária de Bom Jesus do Galho. Esses órgãos foram colocados em um saco plástico e enterrados em uma cova, antes do sepultamento do corpo.
A neta do senhor Vicente, Bruna Aquino, 29 anos, contou que o avô morreu no último sábado depois de ter uma parada cardiorrespiratória, pois já estava em estágio terminal de um câncer de próstata, e como de praxe, a família contratou uma funerária. “No sábado, após minha mãe fazer uma oração por meu avô e entregá-lo à Nossa Senhora, diante do sofrimento que ele estava vivenciando, ele com total paz, de maneira muito suave fez a passagem dele, assistido pelos profissionais e do nosso lado, foi como um passarinho. Acionamos a funerária após ligar para o meu tio que já tinha deixado tudo preparado, até mesmo para naquele momento desconfortável termos que pensar em nada de burocracias. A funerária veio até aqui e retirou o corpo, o responsável relatou que meu avô seria lavado e vestiria a roupa dele, que teria todo preparo e levado até o córrego dos Palmeiras, em Bom Jesus do Galho, onde estaríamos aguardando”, conta Bruna.
Quase no momento do sepultamento, que aconteceria no último domingo (19), a família foi surpreendida pela chegada da Polícia Militar. “Fizemos o velório, passamos a madrugada junto do meu avô, no domingo pela manhã foi celebrada a missa de exéquias. Após isso aguardávamos, pois às 15h seria a saída do corpo. Perto desse horário chegou a Polícia Militar e nós imaginávamos que seria apoio para o cortejo, porque estávamos na roça, passaríamos por um trecho de estrada até Bom Jesus do Galho e seriam muitos carros. Mas chegaram, pediram que minha mãe fosse um pouco à frente de onde estavam as pessoas porque precisavam conversar. A Polícia Militar disse que recebeu uma denúncia anônima que haviam retirado os órgãos do meu avô e lançado dentro da cova, dentro de um saco fechado. A polícia perguntou se estávamos cientes, se havíamos permitido, dissemos que não e ficamos indignados. Não queríamos que a funerária levasse meu avô nem até a igreja. A polícia foi com algum dos meus familiares até Bom Jesus do Galho para que fosse solicitada uma nova funerária, e que fosse mostrado a cova com o saco. Realmente esse saco estava lá, ele foi recolhido pela polícia. A Polícia Civil foi até a casa do meu avô onde ele estava sendo velado, pediu com todo respeito licença para que fossem feitas fotos, foi aberta a camisa dele, o corte estava lá. Foi nos dada oportunidade de despedir do meu avô, foi fechado o caixão, fizemos um pequeno cortejo de casa até o carro da funerária, e a PM já estava conduzindo os envolvidos para a delegacia”, disse a neta do senhor Vicente.
Já não bastasse o sofrimento da família pela perda, o corpo precisou ser removido ao Instituto Médico Legal de Caratinga para perícia. “Viemos até ao IML com meu avô e informaram que não tinha alguém para receber o corpo, e que era para a funerária entrar, colocar lá dentro e deixar, pois, hoje (segunda-feira-20) seria dado retorno”.
De fato, o corpo foi liberado na manhã dessa segunda-feira para que a família então fizesse o sepultamento, que aconteceu em Bom Jesus do Galho. A família já contratou um advogado para que providências sejam tomadas contra a funerária, “e que outra família não passe pelo mesmo sofrimento”.
Lei 9434/97
De acordo com nota enviada a imprensa pela Polícia Civil, “Em relação aos fatos registrados ontem (domingo, 19/5), em Bom Jesus do Galho, a Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) requisitou perícia no local para identificar e coletar vestígios. Um homem, de 51 anos, foi conduzido e ouvido por meio da 2ª Central Estadual do Plantão Digital, onde teve a prisão em flagrante ratificada pelo crime previsto no artigo 14 da Lei 9434/97 (Remover tecidos, órgãos ou partes do corpo de pessoa ou cadáver, em desacordo com as disposições desta Lei). Após os procedimentos de polícia judiciária, ele foi encaminhado ao sistema prisional, onde permanece à disposição da Justiça. As investigações seguem em andamento para a completa elucidação dos fatos”.
A reportagem do DIÁRIO entrou em contato com um agente funerário, que preferiu não se identificar, mas explicou que não se pode retirar os órgãos de um corpo sem o consentimento da família, e geralmente essa prática acontece quando existe o embalsamamento, e o velório será mais demorado, como por exemplo, quando é necessário o translado para outro país.
Ainda de acordo com o agente funerário existe a tanatopraxia, conjunto de procedimentos, técnicas e métodos utilizados por molde a conservar, embalsamar, higienizar, restaurar e cuidar da aparência de um cadáver, de modo a prepará-lo para o velório, funeral ou cerimónia fúnebre, observando os devidos preceitos religiosos e legais. A prática consiste na higienização e conservação de corpos humanos através da injeção de líquidos específicos com o objetivo de proporcionar uma melhor apresentação do corpo no momento do velório. E inclusive essa técnica tem que ser realizada por uma pessoa que fez o curso, e também depende da autorização da família.
A reportagem tentou contato com o advogado do responsável pela funerária, mas não obteve sucesso.