CARATINGA – As salas de aula da Escola Estadual Engenheiro Caldas se transformaram em verdadeiros cenários literários no último sábado (29/11), quando mais de 300 estudantes participaram da 8ª edição do Engenharte. Neste ano, a feira foi guiada pelo programa Leitura e Escrita da Secretaria de Educação de Minas Gerais. A proposta deste ano, “Literatura em Cena”, fez com que livros ganhassem corpo e voz, mostrando que a leitura pode ultrapassar o papel e se tornar experiência viva.
Ao percorrer os corredores, era possível entrar e sair de mundos completamente distintos, cada um construído pelas turmas do Ensino Médio a partir das obras estudadas ao longo do ano. Para a diretora Rosália Paiva, essa é exatamente a força do projeto. “Nós queríamos que eles percebessem que literatura não é só interpretação de texto. É uma forma de olhar o mundo. E ver cada sala transformada em um cenário mostra que eles compreenderam a potência disso”, afirmou.
Entre os projetos que mais emocionaram o público estava o que abordava o livro Holocausto Brasileiro. A estudante Sofia Altino, do 3º ano do Ensino Médio, guiava os visitantes com explicações, cuidado e firmeza. “Eu quis tratar esse tema com muito respeito. A gente estudou bastante para não transformar dor em espetáculo. Meu objetivo era fazer as pessoas sentirem a urgência dessa história”, explicou. Ao acompanhar a apresentação, a mãe da estudante, Zilta de Oliveira, se emocionou. “Percebi que a Sofia entendeu a dimensão humana do que leu. Isso não é só conteúdo escolar, é formação”, disse.
Outros grupos preferiram conduzir o público para universos fantásticos. Na sala inspirada em Avatar, a estudante Anna Gurgel, do 2º ano do Ensino Médio, apresentava cada elemento como se fizesse parte dele. “A série fez parte da minha infância e tem muita filosofia por trás. A gente quis mostrar que desenhos também ensinam e que a cultura pop tem muito a dizer”, contou. A magia se estendia à sala temática de Harry Potter, onde o Chapéu Seletor recepcionava os visitantes; e ao ambiente dedicado ao Sítio do Pica-pau Amarelo, que resgatava a fantasia brasileira de Monteiro Lobato. Em contraste, a representação de Morte e Vida Severina lembrava ao público que a literatura também revela o árido, o desigual e a busca por dignidade.
Para o coordenador do Engenharte, Pablo Oliveira, a feira é o resultado visível de um trabalho que percorre todo o ano letivo. “Eles pesquisam, debatem, criam, reescrevem. Tudo aqui é autoria estudantil. Quando chega o dia da feira, a gente percebe o quanto eles cresceram nesse processo”, afirmou. As professoras Luciane Paulo e Janalucy Rezende acompanharam cada etapa das produções e reforçaram o impacto pedagógico do projeto. “Aqui a literatura se conecta com história, com sociologia, com arte. É conhecimento integrado, e isso faz diferença”, disse Luciane. Janalucy completou: “É muito gratificante ver como eles se apropriaram das obras. Não repetem o livro; interpretam. Isso é aprendizagem verdadeira.”
As famílias também demonstraram orgulho ao acompanhar cada apresentação. Sirlene Medeiros, mãe do aluno Rafael, disse ter percebido o quanto o filho amadureceu ao participar da feira. “Ver meu filho explicando e recebendo o público com segurança me emocionou. A escola está dando um espaço que transforma”, comentou.
A coordenadora do projeto, Sabrina Gardoni, observava o movimento intenso nos corredores e o entusiasmo dos alunos. “O Engenharte é um capítulo que se renova. Cada edição reafirma que a escola pode ser um lugar de imaginação, de sensibilidade e de transformação”, afirmou.
A 8ª edição do Engenharte se encerrou deixando a sensação de que, para aqueles estudantes, literatura já não é apenas um conteúdo do currículo. É prática viva. E, neste ano, esteve literalmente em cena – nos gestos, nas palavras e na criatividade de cada jovem que decidiu transformar leitura em experiência.










