Irmã Francina e Dona Maria Coutinho ficaram marcadas pelos trabalhos voltados, respectivamente, para a educação e a caridade
CARATINGA – A cidade de Caratinga perdeu duas mulheres que dedicaram suas vidas em ajudar ao próximo. Na sexta-feira (21), morreu Irmã Francina, aos 85 anos de idade. Ela foi professora de Geografia e Educação Física no Colégio do Carmo. Irmã Francina vivia em Petrópolis/RJ. Ela foi sepultada em Recreio/MG, sua terra natal.
Na manhã de ontem, faleceu, aos 78 anos, dona Maria Coutinho Muniz, presidente do Grupo Espírita Dias da Cruz. Seu corpo está sendo velado na sede do Grupo, na Avenida Moacir de Mattos, número 247, no centro de Caratinga. O seu sepultamento acontecerá durante o dia de hoje, no Cemitério São João Batista. O horário do sepultamento não tinha sido informado até o final desta edição.
Para falar sobre a importância dessas cidadãs para Caratinga, o DIÁRIO usa artigos feitos pela escritora Marilene Godinho, sendo que o que fala sobre dona Maria Coutinho foi extraído do livro ‘Os Sabores da Mulher’, publicado em 2011.
Com imensa tristeza, noticiamos a morte da querida Irmã Francina. Nós, ex-alunas carmelitanas, lamentamos a perda e recordamos sua figura dinâmica, alegre, comprometida com os ideais do educandário e da congregação.
Viveu em Caratinga no tempo áureo do Colégio do Carmo como professora de geografia e educação física. E foi nessa última disciplina que ela mais se destacou por realizar magníficos espetáculos de ginástica no dia a dia e em ocasiões especiais. Disciplinadora de mão cheia, suas exigências chegavam à perfeição. Tínhamos de usar uniforme limpo, completo, bem passado e até as meias tinham de estar a determinada altura dos joelhos. Para que a fila fosse impecável, ela ensinava: cada aluna deve olhar a nuca da colega da frente. Os desfiles de 7 de Setembro e dia da cidade, eram brilhantes! Ensaiava por muito tempo e se esmerava na condução da bateria. Contratou um soldado do tiro de guerra para ensinar posições e movimentos das balizas e aperfeiçoar o toque dos bumbos e taróis. Tudo por conta da grandeza que ela desejava conferir à apresentação. E nosso Colégio do Carmo fazia bonito pela ordem e beleza. Aplaudido pelas autoridades do palanque, arrancava elogios que nos deixavam orgulhosas e motivadas para os próximos desfiles.
O que mais nos causava admiração em sua maneira de ser, era a autenticidade de se assumir como era. Não tinha, como a maioria das freiras, aquele ar religioso, olhar calmo, sorriso piedoso, como convinha àquela época. Ela era inquieta, ativa e usava até uma forma diferente de repreender. Certa vez, uma aluna lhe fez uma malcriação. Para não levar castigo e com medo da fúria da Irmã, a menina correu. Mas a freira, não podendo alcançá-la para aplicar-lhe uma descompostura, como era seu estilo, não deixou por menos, pegou um apagador cheio de giz e jogou na aluna. Diante da cena inusitada, a classe caiu na gargalhada, e tudo virou brincadeira.
No início de cada ano, fazíamos exames médicos para ver se estávamos aptas para as aulas de educação física. Enquanto o Dr. Ércio Bamberg auscultava o coração, Irmã Francina pesava a gente. Tínhamos de tirar os sapatos para subir à balança. Então, era um deus-nos-acuda, pois muitas de nós estávamos com as meias furadas. Para não nos humilhar, ela fingia que não estava vendo, embora esboçasse um risinho de quem via, mas não via.
Mercê sua competência, sua experiência de verdadeira educadora, poder de liderança e espírito empreendedor, foi diretora do Colégio do Carmo em época posterior.
Embora distante daqui, nunca se esqueceu de nossa terra onde, segundo dizia, foi o lugar que a tinha conquistado para sempre. Lembrava-se de tudo acerca do seu tempo entre nós. Citava nomes, recordava fatos e perguntava pelas amigas. Notava-se o quanto seu coração ainda pulsava por todas nós. Cada encontro seu com ex-alunas que a procuravam, era um reviver de emoções. Por tanto e por tudo, tornou-se inesquecível e faz parte de nossa história em suas páginas mais fecundas. Dilena – seu nome de batismo – deixou-nos no dia 21 deste mês, aos 85 anos de idade, e foi sepultada em Recreio, MG, sua terra natal. Atualmente, vivia em Teresópolis. As Irmãs de seu convívio recente, entristecidas, falam da generosidade e do companheirismo que nortearam sua conduta. Era tesoureira e, com lucidez, zelava pela economia e interesses da Instituição.
Indelével ficará sua passagem entre nós e na vida de todos que a conheceram de perto e se banharam na luz de sua alma. Nosso sentimento de pesar à família e à congregação.
Hoje, a saudade já se antecipa e buscamos suas lições, seu rosto simpático, seu jeito de escutar e compreender. Mas, como na eternidade tudo está impresso, seguramente sua missão, bem cumprida, e todo bem praticado estão inscritos no coração de Deus. E é lá, aos pés do Pai, envolvida no escapulário de Nossa Senhora do Carmo, plantando rosas com Santa Teresinha, que ela hoje usufrui as belezas do Reino: todo aquele que deixa pai, mãe e amigos, renuncia a si mesmo para seguir a Jesus, terá o cêntuplo nesta vida e mais a vida eterna.
Marilene Godinho
Quando pensamos em caridade, em obras de intensa fraternidade, lembramos Maria Coutinho Muniz. Sua assistência às famílias pobres, feita com carinho, é necessária e bonita, espalhando frutos copiosos de socorro e paz. Estudou no Colégio do Carmo e foi, sempre, aquela aluna participante e boa. Cativou colegas e contemporâneas com seu jeito doce, seu sorriso manso, sua fala macia.
Filha de Ornar Coutinho e de Áurea Rezende Coutinho, pertence a uma família envolvida com a história de Caratinga. Seu pai foi prefeito numa época muito difícil porque nossa terra estava por construir. Abriu a estrada Caratinga-Ipanema onde os trabalhadores escavavam com picaretas. Obras de fato desbravadoras foram verificadas aqui sob o dinamismo desse homem público que deixou seu nome inscrito em nosso progresso. Sua mãe, dona Áurea, era um exemplo de bondade socorrendo os necessitados e deixando um rastro de luz indicando aos filhos atalhos infinitos do bem.
Casou-se com doutor Aluízio Muniz — advogado ilustre e vereador, que fez parte de uma Câmara responsável e culta honrando-a com sua presença, ao mesmo tempo em que foi honrado em pertencer ao número de figuras distintas das quais nos chegam as melhores referências.
Com pouco tempo de casada, a morte arrebatou-lhe o companheiro, deixando família e cidade inteira consternadas. Um filho, ainda muito pequeno, ficou a lhe dar consolo e impelindo-a a lutar e a se soerguer. Por ele, sorriu chorando, levantou-se fraquejando, caminhou com os pés feridos. Passou a enxergar o mundo através dos olhos de José Aluízio, e embora noite, ela via somente lua clara. Agora, casado com Lídia Ferreira Coutinho, deram a Maria dois netos maravilhosos. Lucas e Francisco enriquecem seus dias e a fazem viver profundas e consoladoras alegrias.
À época de seu luto, visitei-a. Senti sua grande dor e sua profunda conformidade. A fé na outra vida animava-lhe o coração, ela vislumbrava a eternidade e entendia os desígnios de Deus.
Assim, viveu mergulhada no feliz convívio que tivera com o marido. E a lembrança dos bons momentos justificou viver a restante jornada.
Espírita convicta. De esperança e ideais, dedicou sua vida à causa do próximo. No Grupo Espírita Dias da Cruz, reparte o pão, o agasalho, a palavra, no correto seguimento da exortação do Mestre. Um trabalho rico, abnegado e puro. Em maio próximo, a fundação Dias da Cruz estará completando 116 anos de existência, e a Cantina Áurea, 54 anos. Na foto, Maria mostra a refeição distribuída às crianças carentes, todos os dias. Sua campanha de Natal já é um marco na cidade. Cada criança recebe uma sacola cheia de brinquedos, e o olhar de felicidade da garotada é a recompensa dela.
Abraça alegrias e tristezas com a mesma serenidade, porque acredita em que não haja acasos, mas o acontecimento certo para cada um de nós.
Para todos tem uma palavra amiga apontando para o infinito cheio da verdadeira felicidade.
Peço as bênçãos de Deus para você. Em recompensa pela caridade e doação, bondade e generosa oferta.
No evangelho, você norteou sua conduta e seus gestos. E é por ele que brilharão no seu horizonte muitos encantos.
Que o afeto repartido, todos os dias, com seus pequeninos, volte-lhe em dobro. E que haja muito amor em seu coração. Sempre.