Para dom Emanuel, auditoria apontará competência da gestão e que o problema está na falta de recursos
CARATINGA- Está confirmada a intervenção do Estado no Hospital Nossa Senhora Auxiliadora (HNSA). De acordo com o presidente da mesa diretora do hospital, dom Emanuel Messias de Oliveira, a proposta foi aceita em uma reunião com os técnicos da Secretaria de Estado de Saúde (SES) realizada no último dia 15, tendo à frente o coordenador do Centro de Apoio Operacional das Promotorias de Justiça de Defesa da Saúde (CAO-Saúde), promotor de Justiça Gilmar de Assis.
IMPRESSÃO RUIM
De acordo com dom Emanuel, o Estado tem uma impressão “muito ruim” da gestão do hospital. “A mentalidade do Estado é que o hospital não está fazendo uma boa gestão, apesar de nós termos levado
um pacote bem grosso, mostrando tudo que está acontecendo, com uma transparência muito grande de todos os dados. A proposta foi de uma intervenção consensual, com uma participação nossa; inclusive pedindo que nós reuníssemos a diretoria do hospital e déssemos o assentimento. Se não aceitássemos, haveria uma intervenção judicial. Lógico que de qualquer maneira iríamos aceitar de maneira consensual”.
A chegada dos representantes do Estado está confirmada para até o dia 10 de janeiro e eles permanecerão por um período mínimo de 12 meses, que pode ser prorrogado, caso haja necessidade. As primeiras medidas preveem um “pente fino” nas contas do HNSA, o que é bem visto pelo bispo. “O Estado deixou claro através do doutor Gilmar, que eles querem ajudar o hospital, como nós. Na cidade corre o boato que o bispo não está intervindo ou ajudando, o povo fala o que quer. Na realidade estamos muito empenhados, estou empenhado muito mais com o hospital do que com a Diocese, são 52 paróquias que tomo conta. O empenho meu e de nossa equipe é muito grande. Por várias vezes impedimos que o hospital paralisasse, agora chegou a um ponto onde o hospital começou a paralisar. Os médicos não têm culpa se o Estado não aporta o dinheiro necessário para o trabalho. Nossa tese é que precisamos de recursos, a receita está aquém das despesas, caminhamos com um déficit de mais de R$ 900.000 mensais. Chegamos a um ponto em que o Estado estando aqui, mesmo precisando fazer auditoria e olhando onde tem um erro, temos a impressão de uma boa solução pra nós”.
O bispo ainda ressaltou o papel do Estado que deve arcar, “segundo a Constituição, com a responsabilidade da saúde do indivíduo”. Por isso, ainda que em parceria, a administração agora será do Estado. “Se nós tivermos um problema, estamos direto com o Estado aqui dentro. Acredito que o Estado, apesar de ter declarado falência, vai dar um jeito. Ele não tocaram em Belo Horizonte nenhuma vez em dinheiro, então falam que precisam fazer uma gestão, que vão ficar junto conosco, mas que a intenção é ajudar. Não interessa a ninguém fechar o hospital, muito menos ao bispo. Esse hospital é referência para 250 a 270 mil pessoas, está a beira de uma BR, onde toda hora chega um acidentado. Não pode fechar de maneira nenhuma”.
NOVA PERCEPÇÃO
Apesar da avaliação negativa do Estado em relação à gestão do HNSA, para dom Emanuel, com a intervenção, eles terão outra percepção. “Entendemos que a situação está muito crítica e caótica. Teremos essa intervenção consensual do Estado, que significa que eles pedem o nosso consentimento. Todo mundo foi de acordo. Estamos vendo com bons olhos essa intervenção do Estado. Depois que eles estiverem aqui dentro, acho que as coisas vão ficar mais fáceis, porque é o próprio Estado que é responsável que está dirigindo. Não vamos pedir nada para o Estado. Eles vão perceber o drama aqui dentro e inclusive uma coisa muito curiosa, que a gestão está boa. Está faltando são recursos. Não podemos tranquilamente gerir uma empresa com R$ 1.000.000 de déficit mensal, não tem mago que faça. Quando o Estado estiver aqui dentro e perceber o que está faltando para fechar o caixa, vai ter que se virar. Se não tiver, vai ter que apelar para a União”.
Dom Emanuel ainda relembrou que desde sua chegada à cidade há cinco anos, já foram diversas fases tentando resolver o problema do hospital. Com essa intervenção, a esperança é de que se encontre uma solução tão esperada pela população. “O Estado não vai vir para apontar o dedo, mesmo encontrando irregularidades, vai nos ajudar a colocar essas coisas em ordem. O que está errado vai ajudar a corrigir e o que for problema financeiro, lógico que vai ter que trazer essa solução. Vai ser bom, mas talvez num primeiro momento eles vão falar que tem muitos funcionários e é preciso enxugar a máquina. Vamos falar que enxugue, mande 100 embora, agora arque com as responsabilidades sociais deles. Porque se nós não mandamos algumas pessoas embora, é porque não temos dinheiro para acertar com eles. Agora se o Estado tem está tranquilo. Eles vão encontrar um excesso de funcionários, principalmente no PAM (Pronto Atendimento Microrregional), que é de responsabilidade da Prefeitura e estamos arcando como se fosse nossa responsabilidade. Só do PAM parece que tem R$ 450.000 de déficit mensal. O que gasta do PAM é quase igual ao que gasta no hospital todo. Tirando o PAM daqui estamos em boa situação. Eles vão ver e sentir na pele que não é simplesmente um problema de gestão. Pode até encontrar algumas falhas, mas o problema é uma receita insuficiente para as nossas despesas”.
O gasto do HNSA é de R$ 2.783.000 mensal. Portanto, o bispo insiste que é necessário um aporte financeiro do Estado. Para comprovar que o hospital não passa atualmente por um problema de gestão, ele faz um paralelo com a administração anterior. “Depois que a Funec (Fundação Educacional de Caratinga) entrou e ficou aqui um ano e 10 meses de contrato, era pra ficar 10 anos, nós percebemos que ia acabar arrasando o hospital, encerramos o contrato. Nesse tempo nossa dívida que estava em R$ 16 milhões foi para R$ 28 milhões. Então foi péssima a administração. E passaram vários administradores da Funec aqui dentro”.
PROVEDOR
Padre José Antônio Nogueira e o presidente do Sicoob Credcooper, Kdner Andrade Valadares, foram nomeados como provedor e vice-provedor do hospital, respectivamente, no dia 26 de fevereiro de 2014, após a renúncia feita pelo provedor anterior, Sérgio Luís Ribeiro e pelo vice-provedor, Geraldo Araújo. No entanto, no último mesmo, o padre renunciou ao cargo. Kdner permaneceu como vice apenas assinando alguns documentos, mas já apresentou carta afirmando que permanece apenas até o dia 31 de dezembro.
O HNSA segue à procura de um novo provedor, tarefa que não está fácil, conforme explicou o bispo. “O padre teve problema de saúde sério, estava estressadíssimo e nós afastamos, mas achar um novo é difícil porque tem que ser uma pessoa aposentada, porque exige muito aqui dentro e competente. Tem que ser alguém que tem uma noção financeira, de administração. Estamos à procura, mas o hospital pode funcionar sem o provedor, não pode funcionar é sem equipe administrativa. O Kdner disse que não poderia ser o provedor, então precisamos buscar essa pessoa que não é fácil achar. Não vamos nem colocar outro padre; vamos procurar agora um provedor. Ele veio aqui por causa da capacidade administrativa dele, mas não deu certo”.