Vítima de crime fala sobre o caso que ganhou repercussão nacional
A explosão de uma bomba instalada num rádio relógio, no dia 10 de maio de 1996, que feriu gravemente duas mulheres no posto da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT), em Vargem Alegre, quando ainda distrito de Caratinga, foi destaque nas páginas do DIÁRIO em muitas das suas edições. Jaine Matos Gonçalves, à época com 16 anos, recebeu a encomenda. Ela e a funcionária da ECT, Maria Aparecida da Silva, de 43 anos, que estavam na sala, tiveram ferimentos por todo o corpo, principalmente no rosto. A Polícia Civil de Ipatinga prendeu naquela noite, no bairro Jardim, o professor de caratê, Márcio Cordeiro de Almeida, que tinha 28 anos. Ex-noivo de Jaine, ele confessou o atentado. A encomenda tinha como remetente apenas o nome Cláudio. A caixa foi postada na agência de Ipatinga, cidade onde ele morava. Jaine resolveu abrir a caixa e testar o aparelho noposto, quando a bomba detonou. Após 13 horas de julgamento, no dia 23 de outubro, Márcio recebeu a condenaçãoem sentença proferida pelo juiz criminal Herbert Carneiro de Almeida, a 16 anos e oito meses de prisão. Alguns dias após a condenação, entrevistado pela equipe do DIÁRIO ele afirmou: “achei a condenação ilegal, meu julgamento é cheio de furos (…). A partir do momento que mandei aquela bomba, reconheci que estava errado, mas era tarde demais e não tinha mais jeito”.
DIA TRÁGICO
Hoje Jaine está casada e tem duas filhas. Nesta semana, ela recebeu a reportagem do DIÁRIO DE CARATINGA e falou sobre o dia trágico. “Cheguei a brincar dizendo: ‘imagina se esse presente fosse uma bomba’. E foi mesmo uma bomba, com uma explosão muito forte. O pessoal de Vargem Alegre achou que fosse um posto de combustível que estivesse explodindo. Fiquei presa à tomada; minha amiga conseguiu sair. O impacto da explosão quebrou todos os vidros do posto do Correio, arrebentou cerca de dois metros de azulejos das paredes, destruiu um ventilador e uma pia. Tudo explodiu, e eu lá no meio”. Jaine foi socorrida por um amigo. Foram retirados fragmentos da bomba da coxa, abdôme, pescoço e rosto de Maria Aparecida. Foi retirado também um fragmento em um dos olhos. Os ferimentos pelo corpo deixaram marcas em Jaine. Segundo afirma, mesmo com as marcas que carrega após o atentado, ela se considera uma mulher feliz, apesar do desejo de se ver livre desses sinais. “É meu sonho conseguir eliminar todas as marcas espalhadas pelo rosto e corpo”, contou, acrescentando que Deus não permitiu a ela que mágoas marcassem seu coração. “O que mata e fere é o ressentimento. Essa marca eu não carrego”. Para Jaine, o ciúme foi
a principal motivação do crime. “Disso tudo, tirei uma lição, com homem ciumento, não se brinca. As pessoas são imprevisíveis, e o ser humano vai sempre se surpreender com outro ser humano”.