Moviso cede espaço para realização de projeto “Comunidade em Ação”, idealizado pela Comunidade Águas Vivas
CARATINGA- “Na rua era só sofrimento, só vício, tudo que fazia em dinheiro era só cachaça. Agora a vida mudou totalmente. Uma nova vida. Vou continuar firme, juntinho com Deus agora”.
As palavras que abrem esta reportagem são de Elisabeth Assis, que estava em situação de rua e, agora, atua como voluntária no projeto Comunidade em Ação. O trabalho é uma parceria da Comunidade Águas Vivas com o Movimento Social São João Batista (Moviso) e a Associação dos Pastores Evangélicos de Caratinga e Região (Pastorear).
O agradecimento especial é direcionado aos coordenadores e idealizadores do projeto que nasceu no final de 2020. “Agradeço muito porque me tiraram da rua, está me ajudando bastante. Que Deus toma conta, não deixe faltar nada na vida deles, se não fosse eles eu estaria dormindo na rua. Aqui não falta alimentação, um banho, roupa, se precisar de um remédio é na hora, tudo direitinho. Estão me ajudando a retornar com meus filhos de novo, vai dar certo, estamos indo na igreja, graças a Deus. Eu bebia demais, cachaça era a minha vida, não penso nisso mais, só penso em Deus”, acrescenta Elisabeth.
O NASCIMENTO
Conforme pastor Elan Tebas, tudo surgiu de uma inquietação, ao andar pelas ruas da cidade e observar a movimentação de pessoas em situação de rua. “Pude perceber um número muito grande, sou caratinguense, acompanho bem nossa cidade e falei assim: ‘Meu Deus, é gente demais que está pelas ruas’. Vi situações, comecei a observar mais de perto, ficar mais atento. Foram vários lugares. Tomei a iniciativa de fazer alguma coisa a respeito disso. Comecei a conversar com pessoas, mas, acima de tudo fui ter uma reunião com Deus e ali lembrei que está escrito nas escrituras sagradas que não podemos esquecer dessas pessoas, o forasteiro. A Bíblia fala em Mateus-25, que estive forasteiro e me abrigaste. Então, lembrei dessa orientação de Cristo e ali fiz um propósito, falei com Deus, dirigindo o carro: ‘Se o Senhor levantar a pessoa certa, vou em frente para fazer a parte que cabe a mim, dar suporte’”.
Elan Tebas frisa que a intenção era realizar um trabalho que não fosse somente levar o alimento, pois muitas vezes essa acaba sendo uma maneira de “prendê-los” nas ruas. “Minha intenção era criar pontes, utilizando nossas conexões e recursos para tirar essas pessoas dessa condição. Foi o que aconteceu, em dezembro fui procurado pelo missionário Bruno, que falou comigo da preocupação dele com essas pessoas. Ele é uma pessoa com a experiência de vida muito forte, então, tive aquele insight. Convidei ele para começarmos a fazer um processo de aproximação do pessoal que está em situação de rua, levando alimentação aos domingos e fazendo contatos durante a semana”.
Nas caminhadas, as indagações. De acordo com o pastor, muitos diziam: ‘Eu não quero ficar aqui. Eu quero sair, mas não tenho para onde sair’. Por isso, o projeto precisou ser pensando de uma forma ampla, incluindo um local que pudesse receber estas pessoas. “É claro que eles são fruto de contextos familiares, muitos problemas, escolhas erradas que fizeram na vida. Essa era a grande indagação, para onde sair. Foi quando falei com missionário Bruno que tínhamos que achar meios de fazê-los sair. Começamos então o trabalho, através da doação de um profissional liberal da igreja que cedeu uma casa para que um pedreiro que estava querendo sair da rua fosse fazer o serviço lá. Essa casa inclusive hoje é um abrigo temporário que estamos utilizando para homens”.
E a união de esforços continuou. Com a necessidade de uma casa para realizar os atendimentos, uma nova parceria foi firmada. “Começamos a procurar e mais uma vez tenho que usar a expressão que creio nela, Deus falou comigo: ‘Não é nada disso que você está olhando’. Quando alguns meses atrás o padre Moacir me procura, me pede uma reunião e disse que queria manter as atividades do Moviso, mas, não estavam tendo como manter. E que queria passar para nós, fazer um comodato da casa e dar toda a estrutura que tem lá para fazermos nosso trabalho. Achei aquilo fantástico, foi uma resposta de oração, quero até aproveitar para agradecê-lo e toda a diretoria do Moviso. Hoje estamos ocupando a casa que era do Moviso, é uma parceria entre a Pastorear, o Moviso e o Comunidade em Ação. Há uma força-tarefa integrada fazendo algo em favor dessas pessoas, acredito que haverá uma grande transformação”.
O projeto contabiliza que entre 20 e 30 pessoas já tiveram seus destinos transformados. “Já podemos até perceber no centro da cidade, principalmente, uma quantidade menor de pessoas nessa situação. Temos inserido essas pessoas no contexto da igreja, dado assistência integral para elas em todos os níveis. São uma série de voluntários a quem queremos agradecer muito”.
Já está em andamento o projeto da coleta seletiva, uma forma de gerar renda para a manutenção dos trabalhos. “Pedimos a ajuda da população, solicitamos ajuda de voluntários, doações, aqueles que puderem levar seus descartes seletivos, papelão, garrafas; vamos fazer a utilização desses materiais para gerar renda para manutenção do projeto. Estamos muito animados, a igreja engajada, temos hoje um nível de voluntariado excelente, mas, precisamos de mais pessoas. Queremos ver isso transformado na nossa cidade, temos apoio do judiciário, através do Dr. Consuelo (juiz Consuelo Silveira Neto), que tem nos incentivado, fazendo conexões ainda com Ministério Público, Defensoria Pública, todos os órgãos afetos a esse tipo de situação. Estamos vendo frutos, o mais importante, essas pessoas estão sendo transformadas espiritualmente, passando por processos de evangelização e tendo suas vidas restauradas”.
O FUNCIONAMENTO
De acordo com o coordenador Bruno dos Anjos, a casa, situada à Rua Coronel Antônio da Silva, onde funcionava o Moviso, fica aberta de 8h às 17h para atendimento das pessoas em situação de rua. “Recebemos eles, o café é servido de 8h às 9h, de 9h às 11h é o banho e de 11h às 12h tem o almoço”.
Bruno afirma que no contato com estas pessoas, geralmente elas relaram suas angústias e inseguranças. Por isso, além da assistência, o trabalho espiritual também é muito importante. “A partir disso, começamos a conhecer as pessoas em situação de rua, entramos com nossa ação social também, mas a espiritual que é muito importante. Geralmente o maior foco deles é alguma coisa na família, vem com algum problema familiar para ser resolvido. Não é fácil resolver isso de um dia para outro, mas, tentamos ir no foco do problema. Vamos nas casas, aqueles que não têm casa, mas têm família em algum lugar ou fora também. Alguns estão acolhidos conosco na casa de apoio, outras encaminhamos de volta para o lar com objetivo de restaurar a família. É um projeto de Deus”.
Ceumar Peixoto Rabelo dos Anjos, que também atua na coordenação do projeto, estima que são cerca de 40 pessoas atendidas por dia. “Muitas não são fixas em Caratinga, vêm de outro lugar e estão indo para outro lugar, são pessoas consideradas intermitentes. Esse número é variante, mas essa é a média. As pessoas que não são consideradas de Caratinga têm horário diferenciado para alimentação e banho. Como elas não conhecem os horários de funcionamento é aberta exceção pra eles. Independentemente do horário, estando aqui conseguimos atendê-los”.
Para o funcionamento do espaço, as doações são muito importantes, como enfatiza Ceumar. “A Comunidade Águas Vivas tomou a iniciativa de criar um fundo de missões onde as pessoas participam com valores indeterminados. Ele é um dos responsáveis pela manutenção da casa. Já temos algumas empresas que doavam para o Moviso, fiz o contato e algumas delas permaneceram com as doações. Lembrando que a doação ainda é necessária, é uma forma de direcionar os recursos que às vezes são usados para manutenção básica da casa e poderíamos melhorar o atendimento”.
Ceumar cita alguns produtos que representam a maior demanda nos atendimentos. “Temos necessidade dos itens básicos, os produtores rurais que atendem no Ceasa nos servem uma vez por semana legumes e frutas. Mas, continuamos tendo necessidades básicas, arroz, feijão, açúcar, óleo. Os itens que compõem a cesta básica. Também temos necessidade de itens de higiene pessoal, sabonete, desodorante, pasta de dente, escova de dente. São coisa que por eles viverem em situação de rua, muitas não possuem há muito tempo. E precisamos de pessoas que têm disponibilidade de voluntariar, a mão de obra é muito importante”.
Quem quiser contribuir com o projeto pode fazer contato pelas redes sociais de pastor Elan Tebas, Comunidade Águas Vivas ou pelos telefones (33) 99911-5872 (Bruno) e o (33) 99164-9098 (Ceumar).