Palhaço que imitou o vereador Ronilson conta como é a vida de quem trabalha fazendo a alegria das pessoas
CARATINGA – Renato Gomes da Silva, 49 anos, o palhaço Mexerica, já é conhecido em Caratinga por fazer trabalhados sociais, seja no hospital Nossa Senhora Auxiliadora ou nas casas de pessoas carentes entregando cestas básicas que consegue através de parcerias. No último dia 14, Renato ficou ainda mais conhecido quando vestiu uma roupa parecida com a de um presidiário e imitou o vereador Ronilson Marcílio, que está detido. Ele chegou a ir até a reunião da Câmara com essa roupa.
Este protesto feito por Renato ganhou repercussão e a redação do DIÁRIO DE CARATINGA o procurou esta semana para saber como é o seu dia a dia. Mexerica contou um pouco de sua vida e de onde veio a sua arte de fazer sorrir.
Sobre os trabalhos sociais, no caso das cestas básicas, Renato pede que quem puder ajudar, que faça contato pelo telefone (33) 9.9918.5802. “Não precisa nem me entregar diretamente os donativos. Eu informo quais famílias precisam e aquele que quiser colaborar, pode ir pessoalmente fazer essa entrega”.
Você já nasceu palhaço ou se tornou palhaço?
Acho que já nasci palhaço, pintei a cara depois. Mas foi na festa de aniversário do filho de um amigo, na ocasião trabalhava para ele, o Jeferson Bonfá, e ele precisava de um palhaço para animar a festa. Fui lá, brinquei e gostei da ideia. Anos depois trabalhando em outro lugar, juntaram dois amigos, Anderson e Luan, e resolvemos fazer visitas no hospital, desde então, há seis anos faço trabalho social
Você é natural do Rio de Janeiro, mas teve suas perambulações pelo mundo. Por onde passou?
Fiz algumas campanhas arrecadando dinheiro. Nasci no estado do Rio, vim para Minas, morei em Itabira, Barão de Cocais, Belo Horizonte, Santa Luzia e ao redor de Caratinga em quase todas as cidades.
Caratinga foi objetivo ou consequência?
Um pouco dos dois. Na verdade quando comecei fazer esse trabalho o foco era apenas hospital, mas aí percebi que tem uma área muito grande a ser trabalhada, Apac (Associação de Proteção e Assistência aos Condenados), Amac (Amigos dos Meninos Assistidos de Caratinga), Lar das Meninas, Asilo Monsenhor Rocha, Recanto dos Idosos, então faço todos esses lugares. No momento o forte mesmo é o Hospital Nossa Senhora Auxiliadora.
Como é esse trabalho no hospital, dependendo do estado do paciente, já aconteceu de perder a concentração?
Eu não, porém me preocupo muito com quem vai comigo, que às vezes não está preparado. Aconteceu um fato interessante com uma amiga, a Elisângela, começou a cantar um hino evangélico, daí a paciente começou a chorar, então eu disse a ela: “eu sei que a menina canta mal, mas não precisa chorar também”. Daí a menina começou a rir. Tenho um jogo de cintura muito bom pra isso
Como é proporcionar alegria num momento de angústia dessas pessoas?
Posso resumir com uma história. Cheguei no Hospital Nossa Senhora Auxiliadora, no caso o PAM, e tinha um senhor, um negão grandão, forte. Ele dizia assim: “ai, ai, ai”. Sabia que ele estava sentindo muita dor e tinham vinte pessoas próximas a ele. Aí falei assim: “ô gente por favor né? Não vamos deixar esse negão gemer sozinho”. Coloquei o quarto inteiro pra gemer, então todos começaram a sorrir, inclusive ele.
Você ficou muito conhecido pela manifestação na Câmara de Caratinga. Por que tomou essa atitude de protestar?
Na verdade era pra ser uma brincadeira no início. Aconteceu que minhas roupas estavam todas sujas, tinha trabalhado recentemente fazendo uma porta de loja e nisso estava com uma camisa vermelha. Peguei uma calça de personagem, quando olhei no reflexo do televisor vi que estava todo de vermelho que a calça era de Papai Noel. Aí comecei a pensar: vermelho, negão… Consegui um par de algemas, comecei a brincar e repercussão foi tão boa que
alguém na rua disse que teria uma reunião na Câmara. Aí pensei: “agora o negócio ficou sério”. Fui lá para reivindicar e uma coisa que deixei bem claro nas entrevistas que dei, foi que não tenho nada contra o Ronilson, nem o conheço, só que acho no sentido figurado da palavra, uma palhaçada o que está acontecendo. Até citei que se quer me ofender me chame de ‘político’, não me chame de ‘palhaço’.
E após esse ato, o que as pessoas comentaram?
Comentaram muito, só que infelizmente algumas pessoas não entenderam. Não defendo bandeira política, sou pelo social. Houve uma manifestação esta semana, me convidaram, mas não fui. Não quero ser uma referência de pessoa baderneira. Até agradeço o presidente da Câmara, Valter Cardoso (DEM), o único que me citou na reunião pelo protesto silencioso e pacífico que fiz. Agora qualquer coisa que tiver em Caratinga, que tiver uma repercussão grande, que tiver um foco na mídia, vou fazer, se a população não tiver resposta. Virei uma espécie de defensor dos “frascos e dos comprimidos”, o “doutor Mexerica”.
Pensa que a maioria entendeu sua mensagem?
A maioria entendeu, fui muito elogiado, inclusive pelo jeito simples e objetivo de fazer a coisa. Como palhaço Mexerica, meu objetivo é arrancar sorrisos, principalmente no início quando Valtinho (presidente da Câmara) começou a fazer chamada, ele não falou o nome do Ronilson, aí um lá de trás perguntou se não o chamaria, aí levantei minha mão e o pessoal começou a rir. Então o meu objetivo é o riso, porque eu acredito na minha vida, que se você colocar o barulho de moedas caindo e um de pessoas rindo e perguntar o que você quer, eu quero a risada. Quando estou triste escuto um riso de criança desse de internet, aquilo ali me motiva. Se você começar a rir sozinho, a pessoa começa também, é contagiante
É mais difícil fazer rir ou chorar?
Acho que fazer rir, porque quando a pessoa está triste, qualquer empurrãozinho ela embarca no choro, é muito fácil chorar, até porque a população de forma geral é carente de rir. Então quando você tenta fazer rir, arrancando a pedra do coração da pessoa que é algo muito complicado. Quando vou ao hospital costumo dizer que o trabalho é gratuito, nas não é. Quando arranco uma risada, a pessoa pagou meu dia e abençoadamente todos os dias que vou ao hospital pelo menos uma pessoa dá certo, então digo a ela: hoje eu vim por você. Domingo retrasado fomos ao hospital só tinham pessoas idosas, prostradas, tristes, os parentes falando baixinho, entrei e saí, depois falei com meu pessoal assim: ‘vai dar ruim’. Depois pensei, vim aqui para trabalhar, então comecei a cantar uma música do Zaqueu, comecei a fazer uma dancinha e o pessoal começou a rir, coloquei o pessoal para rebolar e quando pensa que não, aconteceu. Não podemos considerar uma batalha perdida. Esse trabalho “Doutores da Alegria”, foi implantado no Brasil por Wellington Nogueira, os oficiais, nós somos a ‘Galera da Alegria’. O Wellington costuma dizer que o médico busca o que está ruim e trata, o doutor Alegria não, pega o que está bom e brinca. Então na adversidade da doença a gente pode brincar sim e é cientificamente comprovado que melhora a imunidade da pessoa, faz bem para saúde. Rir é o melhor remédio.
Hoje no Brasil, qual a maior palhaçada que existe?
Costumo dizer que sou “besteirólogo”, que a minha arte é a “besteirologia”, mas não sou formado em Brasília. Em Brasília é muita besteira. Há uns anos, não defendo nenhum tipo de regime, mas se você olhar, na época de Figueiredo (refere-se a João Batista de Oliveira Figueiredo, presidente entre 1979 e 1985) e toda aquela ideia de polícia na rua, eu acho que ainda era melhor. Essa liberdade de expressão política é uma verdadeira palhaçada. Respeito muito o legislativo, judiciário e executivo, só que têm algumas pessoas nas câmaras e nas prefeituras e outros cargos que fazem na vida pública o que fazem na privada.