Ex-companheiro não respeitou medida protetiva e acabou preso. Ele deve ser apresentado hoje pela Delegacia de Proteção à Mulher
CARATINGA – O nome dela não será identificado, pois teme represálias. É a história de mais uma mulher vítima de violência doméstica. Os casos que crescem ano a ano também tem sido realidade em Caratinga. A Reportagem conversou com uma mulher que morava há cinco anos com seu companheiro. Período em que sofreu agressões constantes e a vítima ficou marcada pelo medo.
Cansada da vida que levava e temendo que acontecesse o pior, ela procurou a Delegacia da Mulher de Caratinga e realizou diversas denúncias contra o companheiro. Nem mesmo uma medida protetiva impediu com que ele mantivesse as ameaças constantes. Foi decretada sua prisão preventiva, ocorrida na quarta-feira (25), o que ela considera um alívio.
Em entrevista ao DIÁRIO, a vítima conta o terror que viveu durante todo este tempo e como recebeu a notícia da prisão do ex-companheiro, que deve ser apresentado à imprensa em coletiva de imprensa, prevista para a manhã de hoje, com a delegada Nayára Travassos.
Seu ex-companheiro sempre foi agressivo?
Quando a gente namorava, ele não era assim, depois que fui morar com ele que fui conhecer o jeito agressivo, seco. O ciúme dele era porque qualquer motivo. Eu não podia ficar sentada com ninguém. Tinha que ficar só dentro de casa, nem na casa dos meus parentes podia ir que ele me batia muito.
Com que frequência as agressões ocorriam?
Era praticamente todos os dias. Ele ficava na rua até de madrugada, eu perguntava aonde que ele ia e já vinha me batendo no meio da rua.
Quando você decidiu que deveria tomar uma atitude?
Depois que a irmã dele veio morar aqui nos fundos de casa, ela me ajudou, resolvi dar um basta. Não tinha apoio de ninguém para lidar com isso. Os meus parentes só ficavam me “esculachando”. Ela me deu o apoio que eu precisava e comecei a mexer para largar ele de uma vez.
Qual foi a reação dele?
Separamos há quatro meses. Ele não aceitou e no dia que nos separamos, quebrou tudo dentro de casa, meus armários, meus pratos e me bateu. Ele vinha aqui, ficava me ameaçando. Dizia que iria me matar se eu colocasse outro homem dentro de casa. Que se eu saísse na rua ou se me visse conversando com qualquer homem, ia me bater. Que se eu contasse para os meus parentes ia morrer de qualquer jeito. Há um mês eu estava vindo da casa dos fundos e ele me pegou no escuro e me bateu. Chegou até a me morder.
Você conseguiu uma medida protetiva. Ele respeitou?
Era pra ele ficar longe de mim, mas não estava cumprindo. Continuei denunciando.
Vocês têm um filho juntos. Como era a relação dos dois?
Antes, quando morávamos juntos, ele era agressivo com o meu filho também. Agora que nos separamos, ele está demonstrando carinho, mas nunca tinha feito isso.
Ele tinha uma vida social?
Ele não tem amigos. Saía, mas não conversava com ninguém. É uma pessoa mais isolada.
Você teve medo de morrer?
Tive muito medo de morrer. Cheguei à Delegacia muito assustada, pois ele só falava em me matar e eu tenho um filho para cuidar. Minha mente ficava perturbada. Não gosto muito de lembrar porque ainda machuca.
Qual a importância da denúncia nesses casos?
É uma ajuda a mulher. Se colocar como mulher mesmo. Quando estava vivendo com ele, não me sentia mulher mais, me sentia como um lixo. Ele só me colocava para baixo.
Como você recebeu a notícia da prisão?
Me sinto um pouco aliviada. Não conseguia dormir, não estava comendo, meu filho também estava assustado com ele. Agora vou conseguir dormir melhor, pois ele passava pelos fundos da casa. Eu não aguentava mais, estava uma pessoa muito depressiva, chorando à toa. Com ele preso, vou tentar viver minha vida.
Lei Maria da Penha: 72 casos julgados no dia de ontem em Caratinga
Já que no mês de março é comemorado o Dia Internacional da Mulher, o Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) aderiu à campanha “Justiça pela Paz em Casa”, que mobiliza magistrados e servidores para priorizar o julgamento de ações relacionadas á violência doméstica. A campanha é coordenada pelo Supremo Tribunal Federal.
Em Minas Gerais, o TJMG ampliou o prazo de priorização da realização de audiências e publicação de sentenças das ações relacionadas a este crime e os esforços estão sendo concentrados até o dia 31 de março.
Os juízes das varas criminais de Caratinga aderiram à campanha e foram designadas 110 audiências para o mês de março. Durante o dia de ontem, somente na 1ª Vara Criminal foram realizadas 72 audiências, entre 9h e 17h. As vítimas foram chamadas ao fórum para confirmarem se tinham interesse em prosseguir com as ações. A maioria preferiu não prosseguir.
Das 72 audiências, em 54 as vítimas optaram por não representarem contra os acusados. De acordo com o juiz de direito Consuelo Silveira Neto, geralmente, as mulheres tomam essa decisão pensando em fatores familiares. “Elas querem preservar o núcleo familiar e afirmam que o próprio agressor mudou de comportamento”.
O magistrado destaca que a maioria dos casos está ligada ao abuso de bebida alcoólica e que a denúncia é fundamental. “Toda vítima de violência deve acionar a Polícia Militar e procurar a Delegacia da Mulher”, finaliza o juiz Consuelo Silveira Neto.