Acho muito salutar voltar ao pensamento de pessoas de sabedoria “trans” – quero dizer, trans-este-mundo. Por exemplo, sobre o princípio básico acerca da recompensa e do castigo: “A medida do bem (recompensa por ações virtuosas) é maior que a medida do castigo (pela maldade) na proporção de 500 para 1. Acerca da medida e proporção do castigo (quando os filhos continuam agindo como seus pais), a Bíblia diz: ‘Deus visita a iniquidade dos pais sobre os filhos até a terceira e até a quarta geração’, enquanto que, referindo-se à medida, à proporção da recompensa pelo bem, ela diz: ‘que Ele estende Sua benignidade por milhares de gerações’ (Êxodo 34.7).”
Como entender isso? O número plural mínimo é dois: portanto, ‘milhares’ significa que, no mínimo, duas mil gerações recebem recompensa pelas boas ações, enquanto a punição não dura mais do que quatro gerações; 2000 para quatro é uma proporção de 500:1, isto é, a medida da boa recompensa é 500 vezes maior que a medida da punição.
Uma vez conhecido este princípio, podemos inferir a recompensa correspondente a qualquer obra justa, tomando como referência o castigo estabelecido pelo pecado oposto. Por exemplo, nos é dito o que espera a quem maltratar o pobre em Provérbios 22.22-23: “não despojes o desamparado, porque é desamparado, nem esmagues o pobre contra o portão, porque o Eterno defenderá a sua causa e despojará a vida dos que a tiram dos outros.” Pois bem, se a Bíblia descreve em termos tão duros e rigorosos o que espera aqueles que exploram os pobres – que o Todo-Poderoso os despojará de suas vidas – e se a magnitude da recompensa é 500 vezes maior que o castigo, quanta bênção e recompensa espera aqueles que ajudam os pobres e lhes dão caridade e respeito!
Mas a tradição dos sábios bíblicos também traz outro princípio de recompensa e castigo: “Neste mundo, não há compensação por uma obra justa”. Este mundo não é o único cenário ou esfera de ação em que as recompensas pelas mitsvót (ações que o Eterno abona) são concedidas, e as punições pelas transgressões, impostas. Não devemos, portanto, pôr em dúvida a justiça ou a bondade Divinas quando observamos pessoas justas sofrendo ou pessoas iníquas prosperando.
Este princípio também significa que não existe recompensa suficiente neste transitório “mundo de aparência” para recompensar alguém pelo bom cumprimento de seu dever religioso, como diz Tiago no capítulo 1, verso 27. É como ter um cheque de grande valor e tentar descontá-lo em um banco de uma pequena cidade do interior. O funcionário do caixa iria pedir desculpas e dizer que “simplesmente não temos dinheiro vivo suficiente para descontar um cheque deste valor”.
Tendo cumprido uma obra ou ação justa de forma correta, “por amor ao Eterno”, a pessoa tem um “cheque”, digamos assim, de uma enorme quantidade de bens e bênçãos. Mas isto é “grande demais”, qualitativa e quantitativamente para ser “cobrado” neste mundo.
Portanto, segundo os sábios estudiosos das Escrituras Sagradas, se, apesar do tempo limitado, da dimensão da tarefa, da pressão exercida pelos acontecimentos, e da sua própria tendência à preguiça, você ainda assim, estudou e vivenciou a Lei (Torá), então de fato “o salário é considerável”.
Mas, como diz em outra referência, “a recompensa dos justos está no mundo vindouro”.
Pessoalmente, acho uma grande falta a igreja de Jesus Cristo não ter ensinado mais sobre este assunto de interessar-se e ajudar o desprivilegiado, o desfavorecido, aquele que neste mundo está destituído das coisas básicas, inclusive de seus direitos e de sua dignidade.
Uma olhada nos orçamentos de nossas catedrais e comunidades, e dos seus líderes, mostra a teologia errada que está sendo vivida, e ensinada. É só pela infinita misericórdia de Deus que podemos esperar algum salário considerável no porvir!
Rudi Kruger – Diretor