Em tempos que o novo já nasce ocioso e que ser atualizado é sinônimo de sucesso financeiro e, posteriormente, pessoal. Uma pergunta pode ser feita: O quão importante e quanto realmente custa a nossa forma de consumo atual?
Sabemos muito bem que o nosso país não está cumprindo metas de crescimento, que a crise financeira se alastra por todos os cantos da nação e do mundo. No entanto, o quão positivo poderia ser essa crise para nós? E como isso poderia ser importante na atual jornada frente as mudanças no clima?
Para mim a atual crise é extremamente importante, pois a partir dela poderemos propor uma nova forma de pensar e de tratar as nossas prioridades diárias. Sendo que, ao frearmos esse consumo sem precedentes poderemos propor uma nova perspectiva para a luta contra as mudanças no clima.
Seguindo essa linha de raciocínio, existe atualmente uma corrente de pensadores que acreditam que as nações tidas como desenvolvidas, como os EUA e Japão, e as emergentes, como o Brasil e a Índia, possam trabalhar para uma redução do seu Produto Interno Bruto (PIB) a fim de direcionar o crescimento potencial em investimentos em setores que possam proporcionar a qualidade de vida da sua população.
Quando digo qualidade de vida da população é de fato uma reestruturação de tudo que possa englobar a melhora da vida da mesma, com investimentos em transporte, educação e preservação ambiental.
Como foi descrito de forma excelente no livro ‘Ecologismo dos Pobres’ de Juan Martinez Alier e também no livro ‘Colapso’ – como as sociedades escolhem o fracasso ou o sucesso – de Jared Diamond, os termos crescimento, desenvolvimento e sustentável são totalmente distintos entre si e a partir dos seus significados podemos exemplificar a nossa atual situação.
Ao nascer precisamos do leite materno para nos sustentar, quando crianças e pré-adolescentes necessitamos do máximo de uma dieta rica para crescermos bem e saudáveis. Já na adolescência e no inicio da fase adulta estamos em pleno processo de mudanças de pensamento e buscamos nos aperfeiçoar e desenvolver como pessoa, neste momento não somente buscamos a energia para as nossas atividades e sim fazemos-a de forma consciente ao pensar no futuro. No entanto, somente no estagio final da fase adulta e na fase da velhice, em que podemos ter o máximo do desenvolvimento social de um individuo, em que se pode refletir o quão importante foi e é o poder de uma escolha. Desta forma, a partir desta etapa as novas escolhas só serão executadas após uma criteriosa analise de como o futuro poderá ser impactado de forma positiva e negativa. Nesse momento chegamos próximo de sermos sustentáveis, mas ainda não podemos ser, pois ser sustentável é atingido somente na morte. O que faz algo ser sustentável é a existência ciclo fechado, em que das mínimas coisas surgimos e para as mínimas coisas partimos. É uma ordem natural da vida e sem saída.
Assim como no caminhar de uma vida, as escolhas atuais das nações, como o Brasil, deverão determinar se iremos experimentar, ou não, a busca pela sustentabilidade.
Em que somente os nossos erros podem mostrar a importância das nossas escolhas no futuro.
Como estamos vivendo hoje, com as mudanças no clima.
Durante muitos anos houve a necessidade de buscar o crescimento, o consumo se elevou como a expectativa de vida. Desta forma, consumimos e vivemos cada vez mais.
Durante esse processo, o desenvolvimento das nações estabeleceu que países seriam especialistas em suas respectivas áreas, alguns fornecem a comida, outros o equipamentos para a colheita e uma parte trataria de consumir a produção.
E agora, com a atual crise econômica mundial em que recordes de temperaturas são registrados quase que diariamente em que o colapso do acesso a água está saindo das especulações e já fazem parte do nosso cotidiano?
Eis que digo, por ser brasileiro e, por sua vez, esperançoso por natureza, acredito que seja o momento de mudança.
Em que a atual geração possa atingir a sustentabilidade ao mostrar para a sua sucessora que a necessidade de consumo não deve ser sinônimo de felicidade e de sucesso.
Que ser rico é viver num país em que não existam conflitos por água, e trocar as horas e horas em engarrafamentos por um ótimo transporte publico ou pela bike, que já auxilia na melhora da respiração e, consequentemente, na saúde. E que dinheiro deve ser investido em momentos e não em objetos.
Paulo Batista Araújo Filho é formado em Ciências Biológicas e Recursos Naturais pela UFES. Atualmente trabalha no renomado Lawrence Berkeley National Laboratory (LBNL), Berkeley – Califórnia/EUA