A Editora Rocco trouxe para o Brasil o romance de estreia da australiana Hayley Scrivenor. “Cidade de Poeira e Dor” foi lançado em fevereiro e tem potencial para conquistar fãs de literatura policial. Confira a minha opinião sobre a obra na coluna de hoje.
O que me chamou a atenção para a história foi o enredo que se passa em dezembro de 2000, quando os habitantes de uma pequena cidade do interior da Austrália foram abalados pelo desaparecimento de uma menina de 12 anos. A investigação comandada por Sarah Michaels – uma policial persistente e capacitada para situações como essa – faz o possível para encontrar a garota. Conforme o caso avança e as relações conflituosas entre seus habitantes são expostas, um retrato íntimo da comunidade revela segredos cruéis e dolorosos.
Logo nas primeiras páginas eu me deparei com descrições que brincavam com todos os meus sentidos. A autora conseguiu fazer com que eu me sentisse dentro do cenário do livro. Para nós, durante o verão no interior de Minas, não é difícil imaginar uma cidade pequena como Santa Bárbara do Leste ou Santa Rita na qual todas as pessoas se conhecem. No entanto, é fato que a capacidade descritiva de Hayley me transportou para o calor sufocante de Durton.
O desaparecimento de Esther Bianchi faz com que os segredos de familiares e amigos sejam descobertos. Todos os personagens possuem incongruências. São como pessoas reais que vivem o presente enquanto lidam com os traumas do passado e o medo do futuro.
Para além do desejo de descobrir como a garota desapareceu, o que me deixou viciado na leitura foram os núcleos psicológicos de Constance – mãe de Esther; Ronnie – melhor amiga; Lewis – colega de sala; e Sarah – a investigadora. As relações de cada um desses personagens com suas famílias e seus desejos foram bem exploradas pela autora a ponto de eu ficar ansioso por qualquer informação.
Os capítulos são narrados por Constance, Ronnie, Lewis e Nós. “Nós” é como uma entidade onipresente representada pelas crianças que tudo sabem acerca dos fatos de Dorton. Elas mostram não apenas a influência do ambiente e dos fatos, mas também dos pais sobre os filhos.
Os capítulos de Lewis são marcantes! O menino mora com o pai – um homem agressivo e tóxico, a mãe e o irmão – Simon, um adolescente com deficiência. O desaparecimento de Esther é mais uma preocupação na vida de um garoto que precisa lidar com suas próprias angústias.
A “Cidade da Poeira” parece ser viva. De alguma forma ela exerce uma influência sobre os habitantes e prova que lugares doentios criam pessoas doentias. O universo ficcional permitiu que a autora abordasse assuntos como:
– Violência contra a mulher;
– Paternidade;
– Uso de drogas ilícitas;
– Sexualidade; e
-Relacionamentos abusivos.
Tudo isso sem perder a linha de um bom thriller!
A minha experiência com a leitura foi agradável. Indico o livro para todas as pessoas que desejam encontrar uma boa história, com ressalva para os possíveis gatilhos relacionados aos temas citados acima.
A Editora Rocco fez uma ótima aposta ao trazer essa ficção australiana para o nosso país. Recomendo!
DANIEL DORNELAS é escritor, produtor de conteúdo e estudante de medicina. Apresenta no Entre Livros na TV UNEC e no Super Canal.